terça-feira, 15 de maio de 2012










vem,
vem voar comigo
para rompermos juntos a alvorada que se anuncia.
vem comigo agitar a neblina
com o bater de nossa asas.

vem,
vem comigo aquecer o coração
com os primeiros raios de sol,
vem comigo explodir em cores,
refletindo a branca luz do dia que nasce.

vem,
vem comigo provar do orvalho fresco
gentilmente depositado em delicados cálices de pétalas.
vem comigo sentir o doce sabor do néctar,
participando do milagre da vida.

vem,
vem comigo voar a manhã toda
e depois por toda a tarde.
vem comigo se entregar ao vento
para ver aonde ele nos leva e tudo aquilo que ele nos traz.

vem,
vem comigo ao cair da noite
para se recolher à segurança do ninho
e sentir a plenitude de fazer parte da criação.

vem,
vem comigo nessas asas, nas asas do beija-flor
aguardar a geração do novo dia,
enquanto repousamos no grande colo de Deus.
(Ana)








Para a leveza tem o peso.
Estou assim, chumbada no chão!
Presa e tentando me soltar.

Para o peso, não tem remédio.
Tento algo que me faça voar, mas estou amarrada.
Sem possibilidade de me sentir pluma.

Para remédio, não tem farmácia ainda.
E procuro no interior, algo que tire a dor!
Água quente: alivia, mas não finda.

Leveza, peso, remédio, dor.
Às vezes na vida vemos plumas ao vento
Outras, só sofrimento.
(Aline)





Inconsistentes
e leves
demais
até para
formarem versos
uma
a uma
as palavras voaram.


Sob
a terra
o peso das
dores inúteis
alimenta larvas e raízes

Agarrada
ao tronco
permanece
a pele oca da cigarra.
(Neysi)


domingo, 29 de abril de 2012


flâmula com pensamento de gandhi pendurada na parede, quadro pintado pela mãe, antologia poética de pablo neruda na estante, som de flauta de bambu, cheiro de incenso de almíscar, fita k7 do boca livre no rádio gravador... às vezes, quando sonho, estou no quarto antigo, jogando conversa fora com meus irmãos... quando acordo, o mundo é outro, não estou no velho quarto da casa antiga, que nem existe mais... mas com certeza ele está dentro de mim... ali, discutia-se política, religião, música, o futuro... minha irmã queria morar sozinha, eu ainda não sabia o que queria, mas tinha medo de ficar só... quem tem a viola pra se acompanhar, não vive sozinho, nem pode penar... jamais cheguei a morar sozinha, mas muitas vezes me deparei com a solidão... descobri que ela também está dentro de mim... o meu presente é bem diferente do futuro que foi sonhado... às vezes pior, muitas vezes melhor, simplesmente diferente... depois de tantos anos, o que me faz pensar hoje que o meu futuro pode ser sei lá o que... passado, presente e futuro também estão dentro de mim, junto com todos os sons, todos os cheiros, todos os sentimentos, todas as conversas, todos os livros, numa cidadela sem tempo... brincando de se esconder e de se mostrar...
(Ana)





 Minha mãe implicava com a flâmula do Gandhi, esse homem é de outra religião e vai trazer azar. deu um jeito de colocar um crucifixo por cima. As fitas agarravam, o toca fitas era de carro, ligado no autofalante (ai, a nova ortografia, como é que se escreve, alguém por favor corrija) da vitrola quebrada. O espaço era pouco e a liberdade vigiada, mas os dias eram tão bons...O que é que eu sonhava mesmo? O futuro, como é que deveria ter sido? Não lembro quase nada do que a gente falava, dos planos, do que parecia importante...mas continuo acordando no velho quarto, vendo as estrelas pela janela entreaberta e pela grade com os "s" feita pelo meu pai, aquela que eu não deveria subir por que era perigoso e não era coisa de menina. Só aí descubro que não acordei de fato e que a casa velha não está mais lá. Minha casa agora tem muito mais livros, imagens de Buda e até algumas fitas guardadas daquela época. Se ainda servem é outro problema, mas estão lá, junto com as flautas, as guitarras, os amplificadores e seus fios. Tem quadro que eu pintei, mas não são como os da Dona Neyde, nem chega perto. Também não tem cheiro de bolo. Não tem vocês perto para ouvir minhas histórias. Ou quem sabe tem .não é? Tempo e distância são tão relativos...tanto que podemos colocar na mesma história quem nunca esteve, mas por afinidade a gente carrega para lá, para ouvir música e falar bobagens, até a mãe pela milésima vez mandar a gente calar a boca e dormir...
(Neysi)


 Eu só fui ter um quarto pra mim, aos 18 anos. Maior idade e um quarto simples, armário e cama, que foi feita por um marceneiro sobre medida, já que o quarto era bem pequeno e ela me lembrava um caixão de defunto, mandei cerrar a parte dos pés, pra não me sentir enterrada naquela madeira a noite no escuro. Não tive irmãos conversando a noite, não compartilhei estórias, risadas, estrelas pela janela e nem músicas. Da janela do meu primeiro quarto, via o cemitério chamado Chora Menino, nome triste, localização do quarto era estranha, mas aquilo não me impactava, porque até olhar pela janela e ver tantos túmulos me fazia pensar que ali era um local de paz. Nunca tive um quarto como eu queria, até hoje é assim, não consigo deixá-lo como eu quero, é sempre simples; no quarto que era da minha mãe tinha uma imagem feita a lápis de Jesus, ela já havia morado na sala de outra casa, e ainda fecho os meus olhos e vejo esta imagem dentro de mim, apesar dela nunca ter me pertencido ou ao meu quarto. Ainda sonho em um teto de vidro para ver a noite, mas não poderia ser aqui, porque aqui o céu é encoberto feito eu!
(Aline)

segunda-feira, 23 de abril de 2012



Uma dúvida ou uma insegurança; sempre penso no que estou fazendo agora, escrever é tão importante para mim, mas gostaria de ser lida; é estranho pensar que escrevo e pode ser que eu não seja publicada, não só por não ter um livro de verdade, mas principalmente por não compartilhar este mundo interno com as pessoas, não ser lida é o problema para mim. É a mesma coisa que falar e não ser ouvida. Ver a boca mexendo-se, contorcendo-se e as pessoas não conseguirem entender nada, não captar o som, como um surdo e um mudo. Penso se não deveria transforma meu blog no meu próprio livro aberto a todos! Eu escrevo lá o que quero, divulgo na rede social e tenho bom acesso, para uma pessoa com poucos contatos, mas tenho medo do objetivo se perder, de não terem interesse em ler algo com maior número de linhas, e acessarem dia após dia para acompanhar as novas publicações. O que fazer é a pergunta que hoje insiste em martelar a cabeça, sei que não tenho nenhuma genialidade literária para ser publicada, não estou escrevendo algo que vá acrescentar a vida das pessoas, como uma tese de psicologia. Escrevo só sobre meus sentimentos, minha visão distorcida da vida, porque nem tenho certeza absoluta de estar certa, uma dúvida me consome sempre sobre meu ponto de vista; o que eu uma mulher de 39 anos pode acrescentar a vida de outras pessoas da mesma idade ou mais velhas? Talento para escrever para crianças eu acho que não tenho, adolescentes não estão muito interessados nos sentimentos e pontos de vistas de adultos, estão mais focados em viver e descobrir sua própria essência. Queria que as coisas fossem menos complexas, como a chuva que cai lá fora agora, simplesmente chove. Nada pode mudar isto! Mas, sentimentos mudam o tempo todo, não são exatos, e querer que leiam e gostem do que se escrevo, acho que é uma das minhas metas e também de quem se propõe a escrever. Será que existiu um autor que deu de ombros e conseguiu publicar algo sem pensar que todos que o lessem o odiariam? Achariam uma porcaria? A vaidade humana é muito complicada, porque eu sinto demais e tenho medo, um baita medo de rirem dos meus sentimentos, de me acharem tola, ingênua, pueril, comum. Quando penso sobre isto, vários adjetivos de menor valia saltam da minha mente para o papel. Queria é ter um ego maior que o mundo a auto-estima lá em cima e pensar que sou um gênio e que todo mundo ia achar o máximo, uma novidade enorme o que escrevi; mas, não é assim que vai acontecer, a  humanidade vem lendo sobre amor, solidão, céus e estrelas há séculos, não tenho novidade para contar, tenho sentimentos comuns e que já foram tão bem escritos por diversos autores, então porque continuar a tentar dividir com outras pessoas o que sinto? Porque não me conformar em escrever só para mim mesma? Mania de achar que as outras pessoas querem saber quem sou eu, mania de achar que as pessoas se interessam; algumas até se interessam mesmo, cada um por um motivo diferente, mas achar que muitos gostariam de saber sobre a Aline, é até constrangedor, não sou ninguém conhecida e especial para o mundo, meu valor está só para a minha família, poucas pessoas. Poderia tranquilamente mandar publicar um certo número de livros e dá-los de presente para elas e pronto estaria feito, a tal fala popular, plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro estaria concretizada e nada mais teria que ser feito, poderia fechar os olhos e dormir em paz, sem letras a querendo saltar para fora de mim em direção ao papel e fazer com que elas fossem conhecidas. Vejo a total falta de interesse da minha filha e meu marido em ler o que estou escrevendo; eu sou uma curiosa, não poderia saber que alguém passa o dia todo digitando um livro e não perguntar, como está indo ai? Do que está falando? Posso dar uma espiada? Até tenho a minha prima que sempre pergunta se ainda estou escrevendo e sempre dá uma lida em certos trechos, mas vou escrever um livro só para mim e para ela? Não tem cabimento nada disto. Sinto-me procurando a nobreza dos sentimentos, meus e dos outros, mas será que somos mesmos nobres em algo? Sinto-me a filosofa dos sentimentos, aquela que está cheia de dúvidas e incertezas, que busca em si as respostas, busca também nos outros, mas quem está interessado em filosofia barata hoje em dia? O que tinha que ser descoberto no mundo já foi, e o que não foi descoberto ainda; não será por mim, que passo o dia aqui na frente da tela observando minha própria vida como uma expectadora de um teatro parado. Eu li alguns livros na minha vida, antes até acreditava que eu tinha lindo muitos, mas depois que comecei a tentar escrever isto aqui, vejo que não li o suficiente, falta algo aqui, este estilo que eu escrevo é meu estilo de sentir e viver a vida, mas não é gênero literário. Não escrevo prosa, versos, poesias e nem crônicas, acho que vomito palavras apenas. (Aline)





 "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

 A frase é da Clarice. Lispector claro. Andamos todos nos sentindo muito íntimos de Clarice, nestes tempos de redes sociais , cópias e colagens. Mas Clarice é para poucos, acho que nunca foi para mim. Gosto de escrever, é uma das muitas coisas que faço sem realmente saber fazer e sinceramente acho que não tem, e nem precisaria um por quê. Desisti de encontrar resposta para tudo. Não sei falar de sentimentos, eu te amo, te odeio, estou sofrendo. Só escrevo se estiver relativamente tranquila. Não gosto de explicações em demasia. Entre escrever e ler, prefiro ler e sempre terei lido pouco. Essa idéia, de que há mais coisas para ler, ouvir, conhecer do que o tempo permite me faz querer estar aqui, lúcida, saudável. Claro que eu gosto quando alguém elogia, fico na defensiva quando me dizem que está ruim, complicado. Estou longe da sabedoria e do desapego. Tenho um ego enorme ,mas embora não pareça, aceito as críticas. Discutir é da minha natureza, não me levem a mal. Pareço mais séria do que realmente sou, mas adoro rir. Nunca achei que profundidade fosse sinônimo de mau-humor e que leveza fosse o contrário de intensidade. Escrevo como consigo e só. (Neysi)



 escrever, para mim, é uma conversa comigo mesma, às vezes é desabafo, às vezes é história pra boi dormir, às vezes é confissão... e nem sempre é pra ser lido e quando é, é pra poucas pessoas lerem, só alguns poucos escolhidos, pessoas queridas que podem compartilhar da minha alma, de quem eu não temo a crítica severa e que costumam ter palavras boas a dizer... nem sempre consigo escrever quando quero, nem sempre quero escrever e algumas vezes sinto como se nem fosse eu escrevendo... mas quando finalmente escrevo é bom, eu gosto, se alguém lê e elogia também é bom, eu também gosto... quando vai para o blog me assusta, mas também é legal quando as pessoas curtem... o melhor de escrever foi descobrir outras pessoas que também gostam de fazer isso e perceber uma excelente forma de comunicação com as minhas duas queridas blogueiras... ver gente se animando a escrever a partir de nossos textos, desvendar outras realidades, dá um certo orgulho e traz uma responsabilidade que não sei se estou preparada para ter... meus escritos são despretensiosos e é assim que é para ser... (Ana)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Júlia


Traços fortes

Traços fracos

Traços não fazem mortes

Apenas desventuras

Significam o ruim

O ruim pode ser bom

O bom pode ser pra mim.



Depende pra quem vai

Depende pra quem vem

Você sempre será do bem

Pra mim

Pra ele

Pra nós

E pra você

Todos vão ver

Que eu só quero viver.

(Júlia Lins)

quarta-feira, 18 de abril de 2012



Três Marias, Plêiades, Aldebaran, Sirius. Houve uma época em que eu
sabia o nome das estrelas e sabia achá-las no céu. Mas o céu da cidade
grande não tem tantas como o céu daqui e eu sem dúvida enxergava
melhor. Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso...
Aline me pediu um texto para o blog, um iniciado por mim, uma vez que
eu sepre pego carona no delas. Me sugeriu escrever sobre não ter o que
escrever, mas muita gente já fez isso melhor, e respeitável público,
não sou e jamais serei Rubem Braga. Então ela me sugeriu que falasse
das estrelas, as que vejo da minha janela nessas noites frias da Lapa.
E o que me na lembrança é a capa de um velho disco com uma dedicatória
escrita por meu pai, letras desenhadíssimas para minha mãe, com
citação de Bilac...ou eu mostrando estrelinhas para o Júlio. O céu
aqui é bonito, mas não inspira. E eu ando cansada de falar de passado.
Três Marias, Plêiades, Aldebaran...as estrelas são as mesmas, estão
lá, ao mesmo tempo que não. Passaram, permanecem. E eu vos direi, no
entanto,que, para ouvi-las, muita vez desperto e abro as janelas,
pálido de espanto...
(Neysi)



Minha prima Neysi fala sempre que não consegue iniciar um texto, então
resolvi sugerir algo, e pensei nas estrelas, pois nunca havíamos escrito
nada sobre elas que eu me lembre. Ela aceitou e eu me vi numa situação
desértica, pensei, pensei e via o céu estrelado de Iguaba, da Br 101, da Br
116 nas minhas indas e vindas pelas estradas em dias felizes de passeio e só
vinha um pensamento, a Dalva de Oliveira cantando a música Um pequenino grão
de areia. Esta música fala da paixão entre um grão de areia e uma estrela.
Talvez esta música fale um pouco de mim também, porque a música fala de uma
estória de amor. E eu sou uma romântica e gosto da noite, das estrelas, mas
na hora de falar delas, me perdi. Quando era mais nova me lembro de olhar o
céu do interior e ver tantas estrelas e procurava sempre às mesmas: as três
Marias e Vênus, minha estrela/planeta. Talvez porque eu só saiba o nome
destas, nunca fui uma curiosa para saber o nome do que brilhava no céu, além
de estrelas.
O céu noturno de São Paulo não está apinhado de estrelas, estão todas
encobertas pela poluição, mas gosto muito de saber que elas estão neste
momento consteladas, todas mostrando-se para mim, só tem algo que
infelizmente me impede de vê-las. Fecho os olhos e as imagino prateadas, mas
quando faço isto para enxerga-las só vem à música, falando do surgimento da
estrala do mar.
Tão lindo o céu, tão linda a música.
(Aline)




fiz um curso uma vez no planetário, quando eu era professora, pra aprender coisas novas pra ensinar... aprendi mesmo, muitas coisas sobre o céu, galáxias em formação, estrelas que nascem e morrem, movimentos dos corpos celestes... eu gostava daquela aula, aprendi muito, mas nunca tive oportunidade de ensinar aquelas coisas aos meus alunos... eu também nunca soube o nome das estrelas, além das três marias e do cruzeiro do sul... outro dia, estava voltando pra casa à noite e, quando olhei pro céu, vi as três marias... me dei conta de que quase nunca olho pro céu, porque me surpreendi delas ainda estarem lá no mesmo lugar... me senti de novo com doze anos de idade, olhando estrelas, deitada na cama, pela moldura da janela aberta... as três marias cruzavam o céu bem ali, onde eu podia vê-las... algumas coisas parecem nunca mudar, as estrelas... outras se tornam irreconhecíveis em tão pouco tempo, eu... e faz muito que não tenho mais doze anos... mas eles ainda estão aqui, dentro de mim, e me fazem perder o ar quando vejo estrelas... desde que eu me permita olhar mais para o céu...
(Ana)

domingo, 15 de abril de 2012



Conversando sobre as avós!
Ah, uma pena avó morrer né? Eu não conheci minha avó materna, sei pouco sobre ela e sua doença fatal; sei menos ainda sobre sua personalidade. Uma pena isto, todo mundo deveria ter uma boa avó, daquelas carinhosas, que põe no colo, que mima, que faz bolo.
Eu tive uma avó paterna até poucos anos atrás. Mas, a maior parte da minha vida não convivi com ela de perto; dela sei mais do que da outra, ela era reservada, educada, com alguns preconceitos; uma mulher de pé. Sabe altiva. Tinha uma risada gostosa, mas se escondia em situações que deveriam ser normais. Como no dia que vi que ela usava dentaduras, ela olhou pra mim e disse, se você não entrasse no meu quarto, não teria visto isto. Ria quando falava a palavra traque...pra se referir a palavra pum, gases, e corava como se tivesse dito um palavrão, a cena era engraçada.


Penso, o que adiantou eu ter avó na infância, não entendia nada de nada, não aproveitei nada dela...avós deveriam ser coisas pra adultos. Eu queria ter minhas duas avós agora. Sentaria aos pés delas e pediria conselhos, trocaria receitas, daria risada com elas...Aprenderia sobre a vida de outros tempos. Ia ser bom falar: vó, vamos deitar na rede e conversar? Ou: Vó,balança a rede pra mim que depois balanço pra você. Ou então ainda: vó,hoje eu quem farei um bolo gostoso ou o pudim que a senhora gosta, ops não posso te chamar de Senhora, porque você me ensinou que só a mãe de Jesus poderia ser chamada assim.
Nada disto eu tenho das duas avós que Deus me concedeu, esta convivência de pertinho, e pensar em parar de escrever sobre elas me dá uma tristeza, porque gostaria de poder contar mais sobre as minhas avós, mas não tenho muito a falar, tenho só a saudade e tenho um vácuo, um vazio, e poucas fotos, mas, quase nenhuma informação.
Avó faz uma falta danada.
(Aline)






minha avó materna chamava-se Dárida... nome incomum, vó como todas as outras deveriam ser... pelo menos assim me parecia quando eu era criança, acha que toda avó era igual à minha, fiquei chocada na adolescência quando descobri que minhas amigas ainda tinham avós vivas, que trabalhavam fora e levavam uma vida ativa... minha avó não era assim... as lembranças que eu tenho dela são de um cabelo cor de prata comprido, que ficava preso num coque, de esfregar suas costas com cânfora para aliviar as irritações da pele, de vê-la sentada na varanda, conversando com os vizinhos que paravam no portão, ou na mesa da cozinha, passando pilhas de roupas... ela foi a primeira pessoa que eu vi morrer, eu tinha onze anos... nos últimos três, ela já estava bastante doente, confundia as coisas, mas não foi sempre assim... ela contava histórias, falava do filho que morreu ainda jovem, cantava músicas... viuvinha da parte do além quer se casar e não acha com quem... esperava no portão a gente vir da padaria com o leite de saquinho na mão... minha avó paterna chamava-se Maria... nome comum, vó que eu não conheci... dela sei muito pouco, nem mesmo de história que ouvi contar... enviuvou com sete filhos, o mais novo ainda de colo... vida de luta, uma morte pouco explicada, dizem que sentia muitas dores, mas ninguém fala do que ela morreu... eu tinha apenas dois anos, mais tenho uma lembrança... não dela, nem sei se aconteceu de verdade, mas me recordo de estar na cidade natal do meu pai e alguma me diz que era para vê-la, quase uma despedida... estava numa rua calçada de pedras e um primo mais velho me pegou no colo, a sensação era boa, mas era silenciosa, tinha um quê de não incomodar, uma certa gravidade no ar... as duas tinham em comum uma vida de luta, eram mulheres fortes e admiradas, sentiram suas perdas, tocaram suas vidas... me orgulho de sua ascendência e agradeço por tudo o que passaram, que de um jeito ou de outro me fizeram existir... elas estão em mim muito mais do que dou conta de perceber e, com imenso amor e gratidão, quero seguir caminhos diferentes dos seus, contar ainda mais histórias, cantar outras tantas músicas para meus filhos e, quem sabe um dia, para os meus netos...
(Ana)





Para Dárida

Caminho de formigas
na cerâmica vermelha.

A avó prende os cabelos.

Tão finos os cabelos da avó
tão mansos que dispensam
espelhos.

A vida segue exata:
dias limpos e leves
pendurados no varal.

O poeminha foi feito há alguns anos atrás, em dias mais inspirados. Conheci as duas avós, uma delas por muito pouco tempo, pena. Chamava-se Maria. A outra, Dárida, me emprestou sua cama durante a infância e adolescência. Ninguém me conhecia melhor que ela. Não conhecia histórias de fadas e bruxas, contava as histórias da vida, e como tinha história. Não consigo lembrar quase nenhuma, mas de repente, do nada, ela canta para mim.
Difícil falar de avó. Difícil separar as lembranças quando tudo , passado, presente, eu e ela estamos ainda, e para sempre, tão misturadas, dormindo na mesma cama.
Meus filhos tem uma avó e sou feliz por isso, não tem nada melhor que avó. A menina da foto é minha avó, Maria, que conheci tão pouco.
(Neysi)

domingo, 22 de maio de 2011



Aquela velha música do Roberto Carlos, já dizia “Por isto uma força, me leva a cantar”. Às vezes a única coisa que une estas 3 primas é a tal força interior que teima em nos empurrar vida a frente, mesmo que muitas vezes os textos sejam a única coisa que temos em comum. Vidas tão diferentes, profissões diferentes, cidades diferentes, temperamentos diferentes, os textos são pontos de encontro, algo que nos amarra uma as outras, por isto AvessoReflexo, nada igual e ao mesmo tempo um sentimento refletido no outro, uma descobrindo o que sente e pensa a partir da intimidade expressa em palavras.
Quando a força parece ser esvair de uma, vem o texto da outra suscitar novas possibilidades, isto é agregador, pelo menos pra mim. Muitas vezes o silêncio se mostra na caixa de entrada do e-mail, semanas e nada de contato. Pode ser neste momento exato, em que música do Roberto Carlos, esteja mais presente a “força estranha no ar” nos mantêm ligadas, mesmo em silêncio.
Já falamos do tempo de diversas formas, de nós como seres íntegros ou multifacetado, foram tantos os textos desde que o AvessoReflexo apareceu, hora mais intenso na produção e em outros momentos o vazio. É neste vazio momentâneo que agora busco sabedoria, pra perceber meu ambiente de trabalho e não me deixar arrastar para situações que me façam diminuir ainda mais a força de ego que eu teimo em fazer crescer dentro de mim. AvessoReflexo eu X eu mesma muitas vezes.
(Aline)



existem algumas coisas que são simplesmente por ser, surgem de onde menos se espera... laços fortes entre pessoas distantes, reencontros num acaso proposital, pontes construídas por palavras... e silêncio... vou pedir permissão a um grande amigo pra tornar pública a sua resposta à um texto antigo nosso... às vezes quero escrever e falta o jeito; pensar é uma coisa, escrever é outra... Pra vc então, é covardia. De vez em quando vc fala que respondo em poucas linhas o que vc escreve... numa conversa falada a gente tb participa com o silencio, e por email não dá. Já pensou, na epoca em que se mandava cartas, vc receber uma carta em branco, representando o silencio do seu interlocutor? Aquela expectativa toda ao receber a missiva e... uma carta em branco, não por deboche ou desprezo, mas representando o silencio que o outro gostaria de fazer, sua pretensão de ouvir... é, escrever não é pra todo mundo e nem pra todos os momentos... eu concordo, às vezes o silêncio fala mais alto, mas tem outra coisa que nos une mais fortemente, a certeza de sermos ouvidas toda as vezes que quisermos sair do silêncio, a resposta que nunca falta, a confiança de que não estamos sós em nossas lutas e lutos... temos a escrita em comum e temos mais... temos uma a outra... minha querida, não se deixe abater, vc é minha guerreira, não encare os obstáculos como dificuldades e sim como desafios que a tornarão mais fortre do que vc já é... recorra sempre aos que te querem bem, não esqueça da sua fé... não há perfeição nos relacionamentos, sejam eles quais forem, familiares, amorosos, profissionais, a nossa perseverança e preservação é que faz a diferença... estamos com vc, seja no silêncio ou aos gritos, da forma que precisar... desabafe. esperneie, desmanche e depois esteja novamente em prontidão, a vida não para, mas vc não está só...
(Ana)



A culpa do silêncio, se é que dá para chamar de culpa, é quase sempre minha. Fui eu que criei o blog, mas sou eu que retardo as postagens e desanimo as meninas. Sou a prima preguiçosa ou para disfarçar melhor, a muito ocupada. Verdade mesmo é que eu não sei falar de mim, por isso nunca fui capaz de iniciar um post. Para responder vocês minha ficha demora a cair, leva um tempo grande para que o que sinto seja transformado em palavras minimamente compreensíveis. Talvez por isso eventualmente, e cada vez mais eventualmente, escreva poesia, na verdade, apenas cerco silêncios com uma ou outra palavra que encontro. Mas leio tudo que vocês escrevem, nossas confusões em comum, nossas diferenças. Às vezes nos repetimos, às vezes nos complementamos. Nos conhecemos e nos reconhecemos, Nos confundimos um pouco talvez, mas estamos juntas e isso é o melhor. Qualquer coisa gritem!
(Neysi)