sábado, 20 de junho de 2009

Medo, Vida, Dúvidas

sabe aquela história de ter medo do medo que dá? pois é... a vida é mesmo assustadora ou eu que me amedronto à toa? não sei... e por que é que às vezes o medo paralisa e em outras ele impulsiona ao impossível?... que coisa de tanta pergunta sobre medo, tanto medo de ter medo, tanto medo de ter coragem... na dúvida, faz-se o quê?... fica-se parado no mesmo lugar ou se caminha sem rumo, sem prumo, sem certezas do que vai acontecer, só pra ver no que vai dar?... ai, meu deus que tanta dúvida, que tanto medo , que tanto não saber o que fazer... e a vida? que assusta, assusta mesmo... mas passa... passa o susto e passa a vida se a gente não vive... e a dúvida? a dúvida dá medo... mas também passa, passa o dúvida e passa o tempo de fazer sem que nada se faça... e o medo? o medo dá dúvida... que pode até acabar, mas o medo, ah, esse nunca passa, pois se tem medo até a morte, se tem medo até da morte...
(Ana)

Coragem

É um estigma meu! Minha marca pessoal, a vida me deu apenas uma escolha, e foi viver e encarar minhas vontades e os meus desejos. Nunca me acovardei para os meus sonhos. Nunca coloquei a culpa na situação e nem nas pessoas.
Segui em frente, mesmo que todos a minha volta falassem que não era prudente trilhar os caminhos escolhidos. Colhi todos os louros e todas as pedras que me foram dadas pela vida.
E isto desde muito pequena; aos cinco anos me trocaram de casa e de família, de cidade, aos sete anos de idade, eu escolhi trocar de casa e de família novamente; se não me sentia acolhida pelas pessoas, não tinha medo de renunciar a elas e ao tipo de amor que elas queriam ou podiam me dar. Aos dez anos estava de volta ao Rio na casa do meu pai, e escolhi novamente que aquele caminho não era o meu, voltei para casa da minha mãe. Aos 12 anos a vida deu nova volta e tive que voltar a morar com meu pai novamente; desta vez a escolha não foi minha. Aos dezessete anos eu escolhi morar com minha avó, mas meu coração queria voar ainda mais alto, em busca da felicidade e novamente tomei outro caminho. Segui pra São Paulo.
Nunca deixei que nada e nem ninguém me impedissem de ser feliz e de levar minha vida como eu desejava. Nunca me acovardei para nada. Não precisei dar desculpas para os caminhos que eu desejava trilhar, mas não tinha força. Se eu queria seguir minha vida, e ela me pertencia, nada podia me deter.
Sou feliz! Sou corajosa! Todas as minhas escolhas resultaram em ótimas experiências. E posso falar e ensinar as pessoas, que basta ter vontade e coragem para ser feliz!
Desculpas, covardia, não fazem parte de mim e nem dos caminhos que sigo.
(Aline)
Dúvidas

Era uma vez um rapaz que não conhecia o medo e saiu pelo mundo tentando descobrir do que se tratava. Mas não era uma pessoa de verdade, era um personagem dos contos de Grimm. De verdade mesmo não tem quem não saiba o que é aquele frio na barriga, o desconforto que nos faz querer fugir, lutar ou quem sabe, fingir de morto. Mas e a tal da coragem? Eu achava que sabia o que era, claro que sabia, é aquela coisa do cara que entra no fogo para salvar a criancinha, que fica na frente do tanque de guerra, que faz a diferença entre o homem comum e o herói. Eu achava que sabia, mas tenho andado tão confusa que não tenho mais certeza.de nada.
Há quem diga que quem tem coragem age com o coração, faz sentido, coração e coragem são palavras aparentadas. Mas quando se age pelo senso de dever ou justiça, mesmo quando o coração pede outra coisa, não tem coragem também? Mais coragem talvez? Tem que se ter coragem para recomeçar a vida, o amor, a carreira. Mas e para prosseguir, permanecer, estar ali onde se estava antes, não precisa coragem também? Quem parte é mais corajoso do que quem fica? Quem briga é mais corajoso do que quem concilia? Para fugir não precisa coragem? E para fingir de morto? As vezes sonho que preciso ficar bem quieta, morta, enquanto algum perigo, um cão feroz por exemplo, passa bem perto, muito perto. É terrível, nunca consigo, sempre me dou mal nesse sonho por puro medo.É, acho que coragem, certezas, definições não são meu forte. Talvez eu só entenda um pouco é do medo, e daquilo que se faz com ele.
(Neysi)

quinta-feira, 14 de maio de 2009


Minha filha Luiza ,de 4 anos e meio, esperta como é, está sempre a ouvir , prestar atenção, e assimilar aquilo que os adultos à sua volta dizem. Outro dia surpreendeu-me com a pergunta :
_ Mamãe, nós somos pobres?
_ Sim, meu amor, em termos de dinheiro, sim. _respondi_ Mas filha, se quer mesmo saber se somos pobres, deve entender que não é só o dinheiro que significa se somos pobres ou ricos. Veja, não podemos comprar tudo aquilo que queremos, e papai trabalha muito para nos dar o máximo de conforto que ele pode. Você e a Samara têm seus brinquedos, suas roupas, bons médicos à disposição sempre que precisamos. Têm tudo aquilo de que necessitam. Mas, meu amor, acima de tudo isso, temos uns aos outros, estamos todos vivos, temos saúde, alimento em nossa mesa, alegria, amor, nossa casa, nossos cãezinhos, uma cama quentinha nos dias de frio e Papai do céu cuidando de nós. Então, vendo por esse lado, não temos muito dinheiro, mas de certa forma somos ricos!
_ Entendi -disse ela-. Vovô me disse q existem crianças que juntam grãozinhos de arroz ou feijão , sentem fome e não têm nada para comer. Disse também que algumas tem dinheiro mas não podem correr na grama verde como eu, usando minhas asinhas de borboleta de faz - de-conta.Mas mamãe, eu queria taaaaaanto um carro como o que tínhamos emprestado esses dias, com ventinho e ar quente!
_ Quem sabe um dia!- respondi- E você poderá ter o seu próprio carro, se for obediente, ouvir o papai e a mamãe e estudar bastante!
Depois dessa nossa pequena conversa, pus-me a pensar....com essa idade eu nem pensava em carros! Acho bom q minhas filhas tenham seus sonhos, q elas aprendam desde cedo que precisam lutar por aquilo que querem , ao invés de esperar que eu e meu marido possamos dar-lhes tudo de mão beijada. Mas , por hora, entendi que depende mais de mim do que delas, ensiná-las a ver as coisas simples da vida. A serem felizes com o que temos!
Decidi deixar de esperar pelo carro para sairmos passear , levar ou buscar nossa pequena poodle Kakau à veterinária, comprar o pão para o café ou o sorvete que as crianças querem tomar. Coloquei a pequena Samara no carrinho de bebê, guardei a guia da Kakau em minha bolsa, segurei a mãozinha da Luiza e fomos buscar nosso bichinho de estimação, sentindo a temperatura amena do outono....
_ Que passeio gostoso, mamãe! Tá sentindo o ventinho?
_ Sim, meu amor! Está muito bom mesmo!
Guardei a imagem de seus rostinhos felizes em minha memória, bem guardados, para não fugirem. E pensei : _ Quando ela estiver, um dia, em seu carro com ar condicionado, quero lembrar-lhe o quanto eram bons os passeios a pé na avenida arborizada, na pequena cidade de interior, para que ela não se esqueça das pequenas e gratuitas coisas, q nos trazem grandes alegria, as quais dinheiro algum pode comprar.........

(Grazi)

sábado, 18 de abril de 2009

Filhos, sonhos, perguntas...



um dia desses acordei meu filho pra ir à escola... antes mesmo de abrir os olhos, ele perguntou... mãe, porque a Cristal agora entra no meu sonho todo dia?... a Cristal é uma amiguinha nova do colégio, acabou de entrar na turminha... ele continuou falando antes que eu conseguisse pensar numa resposta... ela tava no meu sonho do circo e hj ela tava no meu sonho de novo... cadê? onde estão as respostas quando a gente mais precisa delas?... acho que é porque vc gosta dela, filho... agora, já de olhinhos abertos e uma expressão encucada ele continuou perguntando... ela vai continuar no meu sonho todo dia?... não sei, querido, talvez... e agora com uma expressão ainda mais preocupada... e ela também sonha o mesmo sonho que eu?... ai, essa foi a pergunta mais difícil... queria responder que sim, seria bom se a pessoas quegostamos pudessem compartilhar de nossos sonhos, em sentido figurado e, às vezes, literal também... não, filho, cada pessoa sonha um sonho diferente... acho que é aí que começa a complexidade da vida... acho que é aí também que começam os problemas entre os casais... divaguei numa ingênua pergunta de criança sobre a vida adulta e me deparei com uma explicação que precisava mesmo entender... cada um sonha seu sonho... às vezes fazemos parte de sonhos que desconhecemos, às vezes incluímos em nossos sonhos outras pessoas sem pedir licença... desempenhamos papéis que não são os nossos e queremos que o outro aja de acordo com as nossas expectativas.. tudo isso é um sonho... a realidade se constrói de outra forma, com respeito ao espaço do outro, com confiança na atitude do outro, com alegria por poder compartilhar não um sonho bonito, mas solitário, e sim uma vida comum... meu filho talvez hoje já saiba o que eu demorei muito tempo pra descobrir... sonhar com o outro é bom, mas brincar junto na escola, é ainda melhor...
(Ana)





Filhos realmente nos colocam em posição de desvantagem muitas vezes, pela simplicidade das perguntas e da forma de pensar. A minha filha de oito anos, desde os seis anos faz perguntas que eu também já me fiz e que não existe uma resposta simples para elas.
_ Mãe, como é que eu durmo? Quem criou Deus, se ele criou tudo? Porque o céu é infinito, como descobriram isto? Quando alguém morre não vai pro céu, eu já voei de avião e não vi ninguém! Então as pessoas devem nascer de novo assim que morrem, não é mãe?
Eu! Eu fico pensando em uma forma direta de respondê-la, sem confundi-la ainda mais, mas na verdade, minhas respostas nunca preencheram o vazio que ela sente; pois ela continua fazendo os mesmos questionamentos sempre! E o pior; ela sente raiva ao deitar e querer dormir e o sono não vir, e de repente acordar e já ser outro dia. Sem entender como o sono veio e ela simplesmente adormeceu.
Acabamos acreditando que nós mães temos que ter respostas para todas as perguntas, não é por falta de cultura que não respondemos, às vezes só não sabemos ou pensamos a respeito do assunto, se pensamos já foi há tantos anos que nem sequer lembramos.
Não posso responder simplesmente que o sono é um processo químico, envolvendo neurotransmissores, porque eu só geraria mais perguntas.
Estamos sempre envolvidos com nossas próprias questões sem respostas, e ainda temos que tentar amenizar as angústias das perguntas que nossos filhos fazem e que sabemos que realmente merecem uma resposta.
Eu me recordo sempre da minha mãe, uma mulher tão culta, com respostas para todas as minhas perguntas infantis. Será que eu não era tão astuta quanto a minha filha e as crianças de hoje?
Minha filha não me pergunta sobre sonhos, ela está interessada em perguntas filosóficas, tanto que, quando o assunto volta à tona, eu já dou risada e falo, lá vêm as perguntas filosóficas da Juju.
Sonhos, perguntas; será que vendem por aí um manual de respostas para crianças?
(Aline)






A menina na beira do mar, bóia azul na cintura, parece figura de um livro antigo, desses em que as crianças aprendiam a ler: bóia, Bia, bebê...Mais adiante meninos ainda mais novinhos desafiavam as ondas com pose de ninjas:venha me pegar sua...água! Risadas e gritos, alegria de criança , coisa boa de ver...
Júlio e Joana não estão na praia, cresceram, vivem agora uma fase estranha em que ficar no quarto dormindo, jogando baralho ou assistindo televisão é mais interessante que o mar azul e a tarde de sol. Perguntas? Não será a mim que farão, já sabem tudo, qualquer coisa que eu fale é idéia de velho, mico, não serve para nada. Mais ainda esperam, dos amigos, da internet, da tevê,respostas prontas.Não descobriram que as únicas respostas válidas são a que nós mesmos encontramos. São novinhos, tem muito que aprender. Eu também.
Não consegui evitar uma certa melancolia, sensação de perda, onde estão minhas crianças, que não estão fazendo castelos de areia ou pegando onda com pranchas de nome engraçado , como se chamavam mesmo as pranchas? Será que eles lembram? Júlio não quer mais a coleção de conchas, ocupam espaço à toa no quarto. Joana não quer saber de fotos, muito menos na praia. Com o que será que andam sonhando agora? Não é que eu fiquei triste mesmo, com vontade de chorar?Bobagens de mãe, ainda não inventaram bicho mais bobo.
“Mãe, deixa de besteira, quer saber um sonho meu? Andar numa estrada como essa, num carrão antigo, vidros abertos, ouvindo Kiss ou AC/DC a todo volume...”
AC/DC? Sério? O carrão pode ficar por sua conta? Então baixe os vidros... I'm on the highway to hell!
To hell??? Nesse dia tão lindo... Tem certeza, Juca?
“Ah, mãe, aumenta o som..,escuta como quiser…to heaven…to …céu!

(Neysi)

sábado, 4 de abril de 2009

Da noite...



acho que sou desses seres da noite, que desperta com a lua... quase posso sentir o chamado dela, como um lobisomem que quer se transformar... às vezes passo pela janela da casa e vejo do lado de fora a luz azul banhando o quintal, o disco branco no céu, multifacetado pelo vidro canelado, e mesmo assim, sinto o luar em mim... céu limpo de lua cheia... significa noite quase tão clara quanto dia, luz matizada de azul... me lembro de na infância ter perguntado por que o luar á azul se a lua é branca... as explicações científicas entretanto nunca me interessaram... só o que me fascina é esse poder de iluminar a escuridão com uma luz quase escura... luz de sonho, de uma realidade difusa... lua que segue a gente por onde a gente anda, objeto de outra pergunta de infância... meu lado canceriano se influencia fácil com as fases da lua, inspiração zodiacal... minha parte água se move como as marés e salta aos olhos na preamar... minha face bruxa entoa feitiços por uma vida mais plena... tudo isso à luz da lua... e sinto fisicamente o toque do luar na minha pele... assim como sinto a sua ausência nas noites sem lua... e as valorizo tanto como as noites claras... porque nas noites escuras, noites de lua nova, mesmo que ela não me sorria, sei que a lua está lá... e aí tenho certeza, não é da luz que vem o seu poder... é ela, a lua que emana a magia que é capaz de energizar a luz... e é estranho pensar que uma luz tão poderosa e bela não é própria, é apenas um reflexo... e ela apenas reflete e já causa tanto impacto... não arde, mas incendeia a inspiração dos amantes... luz fria que aquece mentes, corpos, corações... não escolhe quando vai aparecer brilhando, mas não foge de sua órbita para aparecer... mínima gravidade que tem tanto poder sobre o nosso mundo... lua que me guia e me transforma... e se o luar é meu amigo, censurar, ninguém se atreve...

(Ana)





Já me perguntaram uma vez, se eu era notívaga. E eu respondi que não! Sei que não sou porque acabo sempre dormindo com as galinhas.
Mas, com certeza o meu encanto é pela noite e pelo sombrio. É na noite que me sinto melhor, apesar do sono. É através da lua e de sua luz que reconheço a minha essência. A vida de um coração apaixonado ou em busca de amor. Assim sou eu! Talvez seja difícil aceitar que tenho este lado noturno tão presente em mim, mas minhas paixões emanam sempre do obscuro, do soturno e do sombrio.
Os meus dons também se manifestam neste horário, visões, premonições, ver as estrelas, sentir o escuro do mundo, o outro lado da vida. Costumo dizer que sou do lado branco da força, mas a escuridão me atrai realmente, e traz com ela o receio, o medo, porque tudo na noite é sobrenatural, diferente do previsto.
Até a melancolia que em mim habita, vem da escuridão. Não só da persona, do inconsciente que insiste em tornar-se presente durante o cair da noite. Mas porque tenho atração pelo escuro. Eu me lembro de estar deitada com uns oito anos, e a vida da casa já ter adormecido por completo, mas eu fiquei de olhos abertos, olhando o negro da noite, o escuro que nada pode vencer. E nem sempre isto me fazia desistir de encará-lo.
A lua realmente vem para abrilhantar o altar da vida dos notívagos, assumidos ou não. Eu me entrego aos seus encantos, minguante, crescente, nova ou cheia. Sei que saio na rua e sempre procuro por ela, para ouvir o que ela me tem a me dizer e a me inspirar.


(Aline)





Acordo cedo mesmo quando durmo tarde, mas odeio despertadores.
Às vezes tenho preguiça, procuro não pensar no dia comprido pela frente. Muito trabalho sempre. Domingo gosto mais de levantar e de ficar sossegada, a casa inteira dormindo , o computador só para mim. Escolher entre silêncio ou música, minha música, a que gosto de ouvir. São algumas poucas horas, logo todo mundo acorda e o relógio volta a correr.
Adoro dias de sol, mas às vezes me dá um desespero, vontade de ir embora, molhar os pés na beira do mar e seguir andando. A cidade vazia aos domingos, o barulho do mato crescendo me enlouquece, confesso. Mas dos passarinhos eu gosto. E da gata caçando borboletas no quintal.
Meio dia sinto invariavelmente preguiça. Bonito mesmo é o por do sol, seja aqui entre as araucárias ou por trás do Dois Irmãos. Até no meio dos edifícios ou num engarrafamento por de sol é bonito. Agora, crepúsculo é uma palavra esquisita, feia.
O céu aqui na Lapa à noite é bonito, cheio de estrelas, céu de roça e a luz amarela dos lampiões no Centro Histórico faz um reflexo interessante sobre os paralelepípedos. Dá para caminhar sem medo , só não se tem para onde ir. Trocava sem susto pelos luminosos, faróis, milhares de janelas e perigos da cidade grande, meus sensores da tal qualidade de vida devem estar com defeito, monóxido de carbono demais, com certeza. Mas o luar é bonito sim: prateado, azul. E a noite tem som de grilos.
Melhorei meu sono depois que mudei para cá, mas ainda acordo de madrugada. Às vezes sonho com trabalho, muitas vezes com a casa velha no Rio, minha mãe, Cremilda, minha avó. Misturo coisas, pessoas. Abraço você, no frio é bom dormir agarradinho.
Não sou particularmente lunar, nem diurna nem noturna, fujo durante alguns minutos em qualquer hora do dia para pensar bobagens e ver o que quase ninguém vê. Quando lembro fotografo. Ou escrevo. No momento seguinte, por bem ou por mal, esqueço. Ainda bem!



(Neysi)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Escrever...


A vida da gente parece cercada de surpresas; às vezes boa e muitas vezes má. Eu continuo escrevendo independente do que está acontecendo na minha vida. Tento fixar alguns temas bons em épocas ruins, para ver se equilibro minha vida, este é um exercício difícil.Escrever sobre o amor, na hora da dor; escrever sobre a vida, na hora da morte; e de sol, quando a minha vida está em plena tempestade. Remexo na minha inquisição particular, e tento resgatar coisas boas, mas a impressão que eu tenho é de que o texto ficou vazio, frio. Muitos lêem sobre meu amor, na época da dor e pensam, como é bom estar apaixonado, e penso, estou enganando bem!A verdade é que quem lê, é que sente; então não importa muito, quando não se está escrevendo sobre o que se está sentindo no momento; quem vai ler, vai colocar sua alma ali.Agora escrever sobre a dor, quando está doendo é mais fácil, mas se a vida da gente está conturbada quase que de maneira plena, só falaremos de tristeza, de problemas, que leitor vai querer ler só sobre dor, sobre doença, sobre morte, dívidas, desamor?Por isto pratíco o exercício do contrário, pra não cansar, pra esvaziar minha mente do que sinto no momento.
(Aline)



não é verdade que não escrevo quando estou feliz... mas, realmente, quando estou aflita, preciso dar mais vazão aos meus sentimentos que ficam guardados, oprimindo todo o resto de mim, concentração, pensamento, emoções...quando estou feliz não... vou sorrindo pela rua, cantarolando no ônibus, brincando no trabalho... os sentimentos bons, além de não oprimirem, fluem com mais facilidade com o mundo lá fora... então, não incomodam a ponto da gente ter que escrever pra descarregar a tensão, as aflições do dia-a-dia... mas fazem a gente ficar boba pro resto do mundo, ah, lá isso fazem... mas os sentimentos bons também nos trazem lembranças boas... e também formam lembranças boas pra gente guardar pra mais tarde... lembram a gente de como é bom estar entre amigos e compartilhar segredinhos, como se fôssemos, ainda, adolescentes... será que um dia deixei de ser?... não tenho certeza se cresci ou não... sei que tenho responsabilidades de gente adulta e que cuido delas da melhor maneira possível, nem sempre tão bem como deveriam ser cuidadas, mas me esforço... mas não sei se saí dos dezessete anos... acho que parte de mim travou lá atrás e se recusa a andar... é por isso a cara de boba dos momentos felizes... adolescentes não têm muita noção de ridículo, assim como também não têm do perigo... e acho que estou curtindo um bom e típico momento adolescente... levinho, esquecendo das coisas ruins... esquecendo que amar pode doer, que as pessoas às vezes se magoam, mesmo sem querer, e que nem tudo é o que parece ser... mas por mais que eu aprenda isso, parece que faço questão de esquecer, necessidade tamanha que tenho de voltar a acreditar... não que o mundo é perfeito, mas que a vida pode ser mais feliz, que os problemas podem ser pequenos e resolvíveis, e que a gente pode, enfim, voltar no tempo e ter dezessete anos novamente, ou seja lá que idade cada um quiser ter... porque existem coisas boas na vida... aquelas coisas boas que a gente já sabe que existem, amigos, família... coisas boas que a gente já tinha esquecido que existiam... e coisas boas em pessoas que a gente nem sabia que iria encontrar por aí... a vida às vezes dá umas sacudidas na gente... mas também nos reserva sempre novas surpresas... e que capacidade maravilhosa é essa da vida, que nos surpreende quando a gente acha que já sabe tudo, que já viu de tudo, que está desiludido... ilusão ou não, as surpresas da vida valem a pena ser vividas, guardadas e revividas depois na memória, quantas vezes forem possíveis... pois bons momentos são assim... se perpetuam na lembrança e duram pra toda a eternidade... e os maus momentos, esses viram aprendizado e fazem a gente ser melhor pra todo o sempre... então, nesse meu bom e eterno momento, deixo um pouco a escrita de lado e fico, assim, deixando o fluir a vida em mim...
(Ana)




A tristeza é uma senhora voraz. De qualquer coisa se alimenta, qualquer espaço, se a gente deixar, ela ocupa. Por isso quando estou triste não escrevo, não dou a ela minhas palavras, não a enfeito e nem maltrato. Nunca se sabe, vai que ela se irrita e além das palavras devora minha vontade de escrever. Às vezes quando sinto que ela já está indo embora, malas bem fechadas, arrisco uma ou outra palavra, sempre com cuidado, ela pode voltar.
Já a felicidade é diferente, caprichosa, qualquer coisa a espanta. Passarinho ou borboleta, até quando se percebe observada se assusta, vai embora. Quando estou feliz aí é que não escrevo nada, fico quietinha, finjo que nem notei sua visita, mas não sou indelicada, trato-a bem, agradeço sempre, procuro deixar a casa preparada para a sua volta. Tanto uma quanto a outra sempre voltam, isso é estar vivo.
Mas já que estamos revelando segredos, tenho que admitir que a minha escrita é quase sempre egoísta. É um momento de intimidade comigo mesmo e, que ninguém fique triste, dificilmente penso em quem vai ler, se pensasse não sairia uma linha.Depois de pronto aí sim, o texto muda de dono, pertence ao leitor e eu fico muito, muito feliz de não possuí-lo mais...
(Neysi)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Vinho


Meus olhos piscam rapidamente fechados
Sinto uma dormência em 1/3 da minha bochecha,
Minha boca cerrada pesa sobre meu rosto
Estou entorpecida
Minhas pernas não se movem, meu corpo inerte fica congelado
Meus braços sobre meu rosto, não consigo pensar em nada
Só no corpo, que adormecido pelo vinho; teima em ficar parado.
Penso se vou para Bahia ou não, para Vitória, Rio de Janeiro, uma semana de descanso.
Sei que é o vinho a percorrer meu corpo torpe.
Nada a mais além do barulho da minha filha viva, usando o andar de baixo.
Psicografo meus sentimentos, minhas sensações, o vinho correndo nas veias; e só penso: que bom adormecer.
Tudo cinza no banheiro
Não sei o que será de mim, vida! Morte! Sei que estou aqui sentada no banheiro, esperando, reunindo força para ir pra cama.
Dormir e esperar que o Merlot alcance seu ápice e que eu me encontre novamente em mim.
(Aline)

embriaguez... não sei se é a minha cabeça se gira enquanto me centro nos pensamentos ou se são meus pensamentos que me rodeiam enquanto tento repousar minha cabeça num lugar só... as faces enrusbescem, o rosto esquenta... os gestos ficam mais espontâneos, as palavras saem com mais facilidade da boca... tudo fica mais rápido e ao mesmo tempo, tudo acontece em câmera lenta... nem tudo que se ouve, se faz, se vê, se fala, faz sentido... o mundo ganha formas e cores mais vivas... vivas até porque elas insistem em se mexer, mesmo quando a lógica nos diz que deveriam estar paradas... é uma dança no limiar da conciência e do sonho, onde ora se valsa de um lado, ora se resvala pro outro... a vontade é de voar pelo céu estrelado ou de se deixar flutuar num mar calmo, abandonando-se às doces sensações de uma dimensão quase paralela, com pouca censura e pouca ordem... até que o dia seguinte traga a turbulência da tempestade e as ondas do mar revolto diretamente para a mente plácida que agora tem certeza, gira,gira, gira...
(Ana)


Sexta feira, manhã, chuva fina. Casacos. Nem parece janeiro. Será que existem janeiros nessa terra de araucárias? Se der sol amanhã vou até o litoral, Ilha do Mel, eu ainda não conheço. Sexta feira, frio e chuva fina, há um mês venho repetindo que se der sol vou a praia, há mais de um mês todo sábado chove e eu procuro essa tal beleza que Fernando Pessoa garante, os dias de chuva também tem.
Trabalho. Dias de chuva são bons para trabalhar e dormir. Pode ser. Eu prefiro sol!

“Tenho uma dor nos ombros toda vez que como tomate”
-?
“Hoje eu comi salada, não vi que tinha tomate, quando eu percebi tinha comido tudo, agora estou com dor nos ombros”
Penso rápido, o que será mais sério, ombros que doem com tomate ou o fato de numa salada não enxergar justo o vermelho e discreto tomate. Conto até dez... é a primeira do dia.
“É que quando alguma coisa encosta nas minhas pernas eu vomito”
-?
“Qualquer coisa, até o meu cachorro”
Mais uma. Conto de novo até dez, mantenho as minhas pernas bem quietinhas debaixo da mesa, não vou chutar as canelas da moça, vai que é verdade...
“Eu estava com dor nas costas. Aí fui numa benzedeira...”
Começo a contar de novo. Hoje o dia não está bom.
“...aí ela me fez uma massagem, só que pelo ânus. A dor subiu pra cabeça...”
Sem comentários, Perdi a conta, aliás contar para que...
“ ou será que essa dor é porque eu levei muito tapa na bunda quando era criança?”
E eu não bebi, nem hoje, nem ontem, nem anteontem...talvez devesse.

Sexta feira. Janeiro,nuvens cinzas. Frio. Eu quero ir a praia, eu quero ir para casa.
“Mas frio é bom, você bota aquele chalé lindo que comprou na feirinha...”
Conto até cem, preciso de mar, areia, um horizonte azul...
“Pode tomar um vinho, frio é bom para vinho...”
e para dormir agarradinho, conto até mil...que seja!
(Neysi)