quarta-feira, 13 de janeiro de 2010



O principe de hoje é o sapo de amanhã. Como dizia meu amigo Valtinho, tudo caminha inexoravelmente para a deterioração. O asco alheio provocado pelas rugas, verrugas, lentidão, chegará mais cedo ou mais tarde. Mesmo assim, de vez em quando, topamos com alguém que acha que tem o dom da transmutação, o poder de transformar vidas que se acham simples demais em vidas interessantes. Mas a nossa magia é pura perfumaria e ilusão. Não transmutamos nem o nosso dia... quanto mais a vida alheia. Muitas vezes damos a entender que existe uma nobreza aflorada esperando a chegada da sapa ideal, a real merecedora das gentilezas e paparicos principescos. Certa vez li um livro chamado Bufo&Spalanzanni, do Ruben Fonseca; no inicio do livro contava-se a experiencia de um padre cientista que fazia uma experiencia com um tipo de sapo, o Bufo Marinus. Ele descobriu que o instinto de sexual do bicho é tão forte que quando ele agarra a fêmea para copular não larga até que tenha terminado o ato, seja porque motivo for. (Todos já vimos em ilustrações como os sapos se parecem com seres humanos na hora de copular, o que não deixa de ser um engano divertido: na verdade o sapo agarra a sapa por detras e, naquela excitação, a fêmea libera um cordão de ovulos imenso; daí pra frente o sapo dá um banho de esperma naqueles ovinhos todos.) O cientista, em nome da ciencia, resolve testar o instinto dessa especie e deixa-o junto com uma femea para copular. Na hora do ato em si ele vem com um maçarico e queima a perna do bicho; e o sapo nem aí. depois de consumada a situação o sapo larga a "cintura" da femea e morre, mais ou menos carbonizado. Tudo em nome da ciencia.
Acho que, em muitas noites, sonhamos com alguem que nos transforme de maneira a perder essa obstinação sexual de sapo; alguem que nos tome pela mão e nos mostre o principe guardado, submerso na lagoa escura e suja.
(Jufar Esteves)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010



O Sapo e a Sapa.

Quando eu era criança, eu ouvia pequenas histórias de princesas e sapos. Hoje já adulta fico pensando que eu sou uma Sapa, não uma rã ou perereca; uma sapa mesmo. Sabe me sinto como se estivesse sentada na beira da fonte, com meu sapo ao lado. Ele esperando que eu me torne uma princesa e eu que ele vire um príncipe, mas ambos sendo apenas sapo e sapa.
Os beiços dos sapos se tocam, mas não há transformação alguma, nem eu viro a princesa dos sonhos e nem ele deixa de ser sapo.
Vou vendo as borboletas sobrevoando, faceiras a voar por perto, acho que talvez elas também esperem que nós por encanto nos transformemos, mas se um dia fomos encantados já esquecemos o segredo que nos transformaria novamente em seres nobres. Ficamos coaxando feito sapo mesmo, sem entendermos o tal segredo, sem entendermos o que cada um de nós fala.
O amor está ali, sentindo a angústia de não conseguir ser como nos contos, sentindo a brisa, o sol e tendo que se virar sendo sapos, sem conseguir mudar a realidade que sentimos a nosso redor.
Será que vale a pena ser princesa? Nunca fui! Sempre fui meio ogro, meio sapo, um bicho estranho que não se enquadra nos parâmetros da realidade sublime.
Todo mundo fica esperando que eu me torne a princesa, eu também ainda espero isto, mas acho que não tenho vocação pra princesa não; minhas mãos estão secas pelas tarefas diárias da casa, não há creme que as façam macias como as das princesas.
Tento transformar minha história de vida em conto de fadas; tenho até uma trajetória que poderia ser de gata borralheira, mas que ficou bem longe, lá no passado, mas princesa? Não, eu acho que não vai passar de desejo, de sonhos de uma menina que às vezes da às caras dentro desta sapa aqui.
Queria um pozinho mágico de pirlim pim pim, para transformar a dura realidade de viver na lagoa fria como uma sapa, que sonha em ser princesa.
(Aline)




Tudo muda sempre para melhor. Na hora H aparece a fada madrinha, o príncipe encantado, até o patinho esquisito vira cisne, a fera vira príncipe, por que então isso não acontece com ela? Até aquela lagarta estúpida virou borboleta,anda voando por aí magérrima, com aquelas asas super fashion. O quê? Já morreu? Tão nova coitada! Bem feito!Quem manda ser tão exibida. Um dia isso também vai acontecer com ela,a Dona Sapa.
O quê? Morrer? Claro que não seu distraído, virar princesa! Não contaram para você? Príncipes beijam sapas e elas se transformam em princesas! O quê? É ao contrário? Deixa de ser estúpido, seu sapo verrugento! Que princesa ia querer beijar você!
Princesas são finas, delicadas, sentem uma ervilha debaixo de mil colchões. Por acaso iam querer beijar você?
E Dona Sapa esperava na beira da fonte, comendo mosquitos enquantoobservava ao longe as luzes do castelo.
Seu Sapo também reclamava, onde já se viu, uma sapa gorda que só,querendo que um príncipe a beije. Príncipe não está nem aí para isso,príncipe quer aventura,conquista, entendeu gorducha? É assim que funciona: a gente salva a donzela da torre, casa com ela, bota ela noutra torre e vamos procurar outra princesa...
A gente quem seu besta? Por acaso alguma princesa já beijou você,ô Cururu barrigudo?
Enquanto isso, nos aposentos reais, príncipe e princesa fingem que dormem. Ouvem o barulho dos sapos e ficam pensando como deve ser boa a vida na Sapolândia.
(Neysi)




vivi algum tempo acreditando em contos de fadas, depois achei que tudo era bobagem que não acontecia na vida real... até ser beijada por um príncipe e minha vida se transformou... não foi um príncipe tradicional, não me jurou amor eterno e o que teve de verdadeiro entre a gente foi realmente o beijo ... e foi só... e foi tudo...sem promessas ou compromissos,mas com todas as sensações que um beijo transformador poderia trazer, mais do que o suficiente pra encher de magia a minha vida novamente... voltei acreditar no impossível, ou melhor, voltei a acreditar em mim mesma... se estava sapa eu não sei dizer, mas que me transformei após aquele beijo, sem dúvida... não em princesa, mas em rainha, rainha da minha própria vida... sem castelos ou coroas, riquezas ou criados, vestidos ou jóias... não fiquei mais linda ou menos feia, mas me senti em muitos anos eu mesma... capaz de ser e de viver além do que era esperado, pelos outros e por mim... capaz de me arriscar... de me oferecer ao beijo transformador e de me permitir todas as transformações que me eram possíveis e nas quais eu não acreditava que poderiam ser reais... me tornei capaz de sentir e passei a dar valor a isso, mesmo que às vezes o sentimento seja a tristeza... é melhor que não sentir nada... ainda tenho meus dias de sapa, quem não os tem? mas não deixei de acreditar que transformações são possíveis e hoje dependo muito menos de príncipes pra me ensinarem isso... a maior transformação é aquela que operamos dentro de nós mesmos, beijando a nossa própria alma soberana...
alma soberana,mas por tantas vezes,adormecida... hoje, eu vivo no limbo, entre a saparia e a realeza, vivo num mundo muito mais duro, o de gente comum, cuja realidade não se imagina, se vive e pronto, tentando fazer o que é certo... como em todo conto de fadas, há o lado da princesa, o lado do sapo e o lado de quem simplesmente lê a história... esse eu sei que eu não quero mais, agora estou do lado de quem escreve, rs... e a magia da transformação? que fique nos olhos de quem observa e nos gestos de quem a realiza...
(Ana)


Quando eu estiver velhinha!

Fico imaginando os anos passando e eu já de cabelos bem brancos. É gostoso imaginar como será minha nova vida velha.
Eu acredito que meus cabelos não serão tinturados nunca! Vou assumí-los com muito orgulho. A pele macia e com marcas de expressão acentuadas pelos anos; vão dar mais veracidade as coisas que eu sinto e que eu falo.
Serei o tipo de senhora sábia que as pessoas vêm conversar, desabafar e pedir conselhos.
Acredito que no meu jardim da vida, vai ter um grande pé de arruda, e como uma velha senhora das antigas, usarei alguns galhinhos para benzer as pessoas que tiverem fé! Na horta da minha casa terá capim-limão pro chá da tarde que costumarei fazer, enquanto eu admiro o sol que se põe por mais um dia.
Meus netos vão gostar de me visitar, a avó que conta lindas histórias, sentará em uma poltrona confortável e com eles aos seus pés no chão, atentos a todos os detalhes dos contos, sempre a sorrir e esperar cada aventura que virá.
Os bolos serão os mais gostosos, e cada um poderá repartir da sua vida o que bem quiser. Avós são feitas para isto, acolher!
Meu velho companheiro estará fazendo alguma coisa que para ele será importante e sua companhia será tão agradável como observar as nuvens.
Minha casa terá cheiro de rosas, de flores que estarão por todos os cantos. E eu nos meus momentos de solidão estarei acompanhada de música, livros e quadros a serem pintados. Eles serão o retrato de uma vida doce e boa, onde todos os fatos foram importantes.
Cada lembrança trará um amigo de volta, com seus sorrisos e encontros bons que tivemos. Acredito que meu sorriso será ainda mais doce do que foi na juventude e que meu humor encantará a todos que me cercarem.
À noite! Darei uma volta a pé com meu companheiro, vamos recordar tudo o que vivemos e saberei que fiz tudo, vivi tudo que foi possível, e que tive uma vida que valeu a pena ser recordada.
(Aline)



When Iget older...

É, eu achava que seria assim, a idade chegando, a calma, a sabedoria e, claro, os cabelos brancos. Branquinhos mesmo, um corte comportado,quem sabe um coque. Só não valeriam aqueles cabelos azuis ou lilás quealgumas senhoras usavam quando eu era adolescente e olha que não pertenciam a nenhuma tribo moderninha. Seriam brancos mesmo. Mas quando os fios brancos tornaram-se indisfarçáveis não tive dúvida:tintura neles. Pode ser que daqui a vinte anos, se ainda estiver por aqui, eu mude de idéia. Mas até acho bonito os branquinhos, só que nos outros.
Quanto às rugas, nunca me preocupei com elas, não sei se um dia me incomodarão.Velha, eu? Claro que esse dia está muito longe...
Mas gosto de imaginar que terei uma varanda com plantas, uma sala bem iluminada, cheiro de mar, canto de passarinho. Um calçadão para caminhar sem medo, amigos, netos, talvez eu finalmente aprenda a fazer bolos, talvez aprenda até a dançar. Conhecer o mundo, quem sabe?Tocar piano, viver em lua de mel. Tudo bem crianças, papai e mamãe não fazem sexo, vovô e vovó então nem se fala. Não é assim que vocês pensam? Eu também pensava muitas coisas sobre amadurecer,envelhecer, mas descobri que não eram verdade, a gente por dentro não muda quase nada. Pena mudarmos tanto por fora, mas isso talvez seja questão de ajustar o olhar, mudar um pouco o foco. Aliás, não tenhorugas, mas agora uso óculos...
(Neysi)



não imagino a minha velhice porque sempre achei que não chegaria até ela... um dia, quando criança, olhei pela janela, meus irmãos estavam falando alguma coisa sobre o futuro, que eu não me lembro mais o que era, e alguma coisa dentro de mim me disse que não veria acontecer porque morreria cedo... essa idéia não saiu mais da minha mente, me acostumei a pensar nisso e deixei de me preocupar com a velhice... depois de alguns anos, me dei conta que não envelhecer significaria morrer jovem e aí, a idéia de não envelhecer passou a ser mais pesada do que a de ficar velhinha... não envelhecer significaria não ter tempo pra realizar tudo que foi sonhado, não ficar ao lado das pessoas que se ama, não criar os filhos... depois que fiquei órfã, então, a idéia de não criar os filhos passou a incomodar ainda mais... passei a pensar até que idade os acompanharia, se daria tempo de prepará-los pra vida, se eles se lembrariam de mim e se saberiam do grande amor que sinto por eles... depois de um certo tempo fui deixando de me incomodar com isso também... nunca se prepara alguém pra vida totalmente, tudo que é vivido intensamente nos marca para sempre e o amor... esse, a cada beijo de boa noite, a cada abraço apertado, a cada mão dada na rua, transparece com tanta clareza que tenho a certeza que eles sabem, não depois da minha morte,mas hoje, do grande amor que sinto por eles... e aí, deixa o tempo passar, deixa ele deixar suas marcas... e ele já as tem deixado em mim... se isso for envelhecer, já estou envelhecendo, mais do que pensei que fosse... e não é ruim não, nem é tão diferente quanto ser jovem, é apenas estar viva... e me sinto viva, pra algumas coisas, uma criança brincalhona, pra outras uma adolescente em descoberta,algumas vezes jovem como nunca, outras uma adulta responsável e de vez em quando, uma velha rabugenta... e acho que é assim, somos todas em uma só... envelhecendo enquanto se aprende a viver...
(Ana)