sábado, 18 de abril de 2009

Filhos, sonhos, perguntas...



um dia desses acordei meu filho pra ir à escola... antes mesmo de abrir os olhos, ele perguntou... mãe, porque a Cristal agora entra no meu sonho todo dia?... a Cristal é uma amiguinha nova do colégio, acabou de entrar na turminha... ele continuou falando antes que eu conseguisse pensar numa resposta... ela tava no meu sonho do circo e hj ela tava no meu sonho de novo... cadê? onde estão as respostas quando a gente mais precisa delas?... acho que é porque vc gosta dela, filho... agora, já de olhinhos abertos e uma expressão encucada ele continuou perguntando... ela vai continuar no meu sonho todo dia?... não sei, querido, talvez... e agora com uma expressão ainda mais preocupada... e ela também sonha o mesmo sonho que eu?... ai, essa foi a pergunta mais difícil... queria responder que sim, seria bom se a pessoas quegostamos pudessem compartilhar de nossos sonhos, em sentido figurado e, às vezes, literal também... não, filho, cada pessoa sonha um sonho diferente... acho que é aí que começa a complexidade da vida... acho que é aí também que começam os problemas entre os casais... divaguei numa ingênua pergunta de criança sobre a vida adulta e me deparei com uma explicação que precisava mesmo entender... cada um sonha seu sonho... às vezes fazemos parte de sonhos que desconhecemos, às vezes incluímos em nossos sonhos outras pessoas sem pedir licença... desempenhamos papéis que não são os nossos e queremos que o outro aja de acordo com as nossas expectativas.. tudo isso é um sonho... a realidade se constrói de outra forma, com respeito ao espaço do outro, com confiança na atitude do outro, com alegria por poder compartilhar não um sonho bonito, mas solitário, e sim uma vida comum... meu filho talvez hoje já saiba o que eu demorei muito tempo pra descobrir... sonhar com o outro é bom, mas brincar junto na escola, é ainda melhor...
(Ana)





Filhos realmente nos colocam em posição de desvantagem muitas vezes, pela simplicidade das perguntas e da forma de pensar. A minha filha de oito anos, desde os seis anos faz perguntas que eu também já me fiz e que não existe uma resposta simples para elas.
_ Mãe, como é que eu durmo? Quem criou Deus, se ele criou tudo? Porque o céu é infinito, como descobriram isto? Quando alguém morre não vai pro céu, eu já voei de avião e não vi ninguém! Então as pessoas devem nascer de novo assim que morrem, não é mãe?
Eu! Eu fico pensando em uma forma direta de respondê-la, sem confundi-la ainda mais, mas na verdade, minhas respostas nunca preencheram o vazio que ela sente; pois ela continua fazendo os mesmos questionamentos sempre! E o pior; ela sente raiva ao deitar e querer dormir e o sono não vir, e de repente acordar e já ser outro dia. Sem entender como o sono veio e ela simplesmente adormeceu.
Acabamos acreditando que nós mães temos que ter respostas para todas as perguntas, não é por falta de cultura que não respondemos, às vezes só não sabemos ou pensamos a respeito do assunto, se pensamos já foi há tantos anos que nem sequer lembramos.
Não posso responder simplesmente que o sono é um processo químico, envolvendo neurotransmissores, porque eu só geraria mais perguntas.
Estamos sempre envolvidos com nossas próprias questões sem respostas, e ainda temos que tentar amenizar as angústias das perguntas que nossos filhos fazem e que sabemos que realmente merecem uma resposta.
Eu me recordo sempre da minha mãe, uma mulher tão culta, com respostas para todas as minhas perguntas infantis. Será que eu não era tão astuta quanto a minha filha e as crianças de hoje?
Minha filha não me pergunta sobre sonhos, ela está interessada em perguntas filosóficas, tanto que, quando o assunto volta à tona, eu já dou risada e falo, lá vêm as perguntas filosóficas da Juju.
Sonhos, perguntas; será que vendem por aí um manual de respostas para crianças?
(Aline)






A menina na beira do mar, bóia azul na cintura, parece figura de um livro antigo, desses em que as crianças aprendiam a ler: bóia, Bia, bebê...Mais adiante meninos ainda mais novinhos desafiavam as ondas com pose de ninjas:venha me pegar sua...água! Risadas e gritos, alegria de criança , coisa boa de ver...
Júlio e Joana não estão na praia, cresceram, vivem agora uma fase estranha em que ficar no quarto dormindo, jogando baralho ou assistindo televisão é mais interessante que o mar azul e a tarde de sol. Perguntas? Não será a mim que farão, já sabem tudo, qualquer coisa que eu fale é idéia de velho, mico, não serve para nada. Mais ainda esperam, dos amigos, da internet, da tevê,respostas prontas.Não descobriram que as únicas respostas válidas são a que nós mesmos encontramos. São novinhos, tem muito que aprender. Eu também.
Não consegui evitar uma certa melancolia, sensação de perda, onde estão minhas crianças, que não estão fazendo castelos de areia ou pegando onda com pranchas de nome engraçado , como se chamavam mesmo as pranchas? Será que eles lembram? Júlio não quer mais a coleção de conchas, ocupam espaço à toa no quarto. Joana não quer saber de fotos, muito menos na praia. Com o que será que andam sonhando agora? Não é que eu fiquei triste mesmo, com vontade de chorar?Bobagens de mãe, ainda não inventaram bicho mais bobo.
“Mãe, deixa de besteira, quer saber um sonho meu? Andar numa estrada como essa, num carrão antigo, vidros abertos, ouvindo Kiss ou AC/DC a todo volume...”
AC/DC? Sério? O carrão pode ficar por sua conta? Então baixe os vidros... I'm on the highway to hell!
To hell??? Nesse dia tão lindo... Tem certeza, Juca?
“Ah, mãe, aumenta o som..,escuta como quiser…to heaven…to …céu!

(Neysi)

2 comentários:

Aline disse...

é ser mãe é reamente duro, ou nos perguntam algo que não temos resposta, ou infelizmente chega o dia em que não nos perguntam mais!
Eu ainda tenho vontade de perguntar a minha mãe qual a resposta para as minhas angústias, mas também já não pergunto mais nada.

Anônimo disse...

pixu wrote today at 8:51 PM
Oi Neysi...
Quanto tempo! Não tenho vindo muito no Multiply. Hoje, lendo mais detalhadamente teus textos, tuas poesias e pensando aqui comigo: como essa menina escreve bem. Há uma carga de sensibilidade muito forte em teus escritos que faz com que nos lidentifiquemos logo com eles. Você parte do individual, mas consegue aquela universalização que nos prende, que extravasa teus próprios sentimentos. Muito bom, mesmo. Beijos