terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ano Novo


ano novo, ana nova


geralmente, minha maior expectativa para o natal é que depois que ele passa, começa a contagem regressiva para o ano novo... ah, essa data sim traz consigo a maior representatividade de todas as outras datas comemorativas do ano... é meu marco... é o momento de deixar pra trás tudo aquilo que me incomodou, é o momento de olhar pra frente cheia de esperança de que posso viver minha vida de acordo com novos padrões... nesse dia, tudo passa pela minha mente, passado e futuro se encontram pra depois tomarem rumos diferentes... meu momento de ritualizar... meu ritual de passagem... energizar... deletar aquilo de que preciso me desfazer, projetar aquilo que preciso realizar... entrar e sair numa fração de segundo de uma realidade a outra... mesmo que não mude nada realmente, naquele pequeno segundo, concentro todas as minhas esperanças e me faz bem pensar que funciona... e talvez funcione mesmo, em algumas coisas, mesmo que sejam pequenas... funciona pelo menos na hora de repensar a vida, o último ano, arrumar as coisas nos seus lugares, limpar a mente pra uma nova etapa, deixar a luz entrar, arejar todos os ambientes da minha alma... fazer um check list em mim mesma... e está chegando, um novo ano, uma nova ana... e que seja feliz... pra mim, pra todos nós... e que eu seja feliz, junto com todos vocês...
(Ana)



Ano Novo, Espero que Aline Nova!


Todo ano, depois do natal, que pra mim sempre significou um tempo e esperança maior que o ano novo. Preparo-me para a virada do ano. Tenho meu próprio ritual, e não inclui, comer sete uvas, pular ondas, comer lentilha, subir no banco, pular no pé direito. Para entrar bem no ano seguinte.
Eu simplesmente escrevo metas, na verdade dez metas para o ano seguinte. Nela mentalizo tudo que desejo mudar ou conseguir. Arrumar um emprego ou mudar de emprego, os benefícios que quero da nova empresa, como gostaria que fosse meu chefe, se vou fazer algum curso novo; quantos quilos eu vou querer perder; tudo escrito ali, na primeira folha da agenda, na folha de rosto, pra quando abrir a capa, dar de cara com minhas metas, durante todo o ano vindouro.
Ao longo do ano, vou ticando cada meta alcançada. Bem! Há dois dias atrás vi a principal meta para o ano seguinte já escorrendo pelo ralo, antes mesmo do ano começar.
Me deu uma angustia tão grande, ver meus planos pro ano seguinte escapar das minhas mãos ralo a baixo, sem eu ter nem um fiozinho para segurá-lo. Simplesmente fiquei chocada, chorei, chorei mais um pouco, e ainda estou com aquele aperto no peito, como criança fica, se alguém não lembra do aniversário dela.
Eu termino meu ano velho, sempre sem questionar muito, simplesmente abandonando tudo o que já passou. E vocês tenham a certeza de que o não de 2008, eu vou fazer questão de ESQUECER. Vou tomar banho de sal grosso, banho de abre caminho; vou à casa de umbanda e vou comprar pra mim muitas ervas, pra ver se 2009 eu recupero tudo que perdi em 2008, não tikei nenhuma das minhas metas neste ano. Um ano terrível, e pelo visto pro país todos.
Hoje, exatamente agora vou fazer minha lista pro ano de 2009, aqui vai ela:

· Emagrecer muito, tudo o que der e voltar a me encontrar no meu próprio corpo;
· Arrumar um emprego, pois estou com a mente desocupada, e virou oficina do diabo.
· Recuperar minha saúde
· Recuperar minha auto-estima.
· Viajar e ir encontrar minha prima Neysi, que não vejo a anos.
· Recuperar tudo que eu perdi em 2008, meu nome, minha dignidade.
· Carro novo, eu quero um!
· Quem sabe uma abdominoplastia, pra poder usar todas as minhas roupas que além de não servirem, não ficariam bem, com esta pele sobrando bem de baixo do umbigo! rs
· Terminar meu livro e procurar uma editora, quem sabe encontrar uma nova profissão.
· Ver a peça que escrevi em cartaz!

Faltam apenas dois dias pra 2009 começar, espero que este ano seja o ano da vira, pra mim, pra você, a todos os brasileiros que tiveram um ano que merece ser esquecido!
Feliz 2009!
(Aline)





Ano Novo, agenda em branco, doze páginas para virar no calendário
sobre a mesa e a sempre bem vinda ilusão de poder zerar tudo, deixar
o velho para trás, recomeçar. E por que não? Somos teimosos,
recomeçaremos sempre, do zero ou do cem, iremos saborear o novo,
respirar fundo o ar que nos parecerá mais limpo, estrear a roupa ,
repetir os bons votos de sempre e tocaremos em frente...feliz ano
novo!
Vou molhar meus pés num oceano imaginário e levar rosas brancas para
Iemanjá. Vou pedir pela nossa saúde, pelo amor, pela paz e pela
prosperidade. Quem sabe ano que vem ela me dá a chance de um mar de
verdade. Não farei outros projetos nem desejarei nada mais, receberei
2009 com boa vontade, de coração aberto, imersa na fantasia do novo
...pensarei em vocês...seremos felizes todos!
(Neysi)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

espelhos


cresci no meio de muitos exemplos... exemplos a seguir e exemplos de não fazer... cresci no meio de muito amor... amor generoso, com doação e sacrifício... amor cuidadoso, com zelos e seus excessos... amor abundante, servido com fartura de quase enfastiar... amor sempre crescente, receita que levava fermento, de bolo, de pizza, fazendo crescer a massa... me fazendo crescer... e foi assim mesmo que cresci, no meio de conflitos... meu espelho era um mosaico... meu reflexo, sempre múltiplo... meu espelho renegava o seu presente fragmentado... reclamava pela sua superfície lisa, perdida num passado remoto... perdia, dia-a-dia, as esperanças de um futuro pleno... a cada vez que meu espelho se partia se somavam sete anos de azar... e foram tantos fragmentos que nenhuma existência duraria tanto... os sete anos de azar de cada caquinho foram se concentrando tanto que o espelho ruiu... e eu que era só reflexo, e mesmo assim me rebelava contra ele, acabei me tornando espelho... minha superfície já não nasceu lisa... ondulava, era incerta, deformava imagens, lembranças... e fui me partindo, como o espelho que me refletia... espelho que eu não queria ser... o meu avesso... minha auto-afirmação que sempre fora a negação do meu espelho, se refletia igual a ele... no lugar da minha própria imagem, um vazio, múltiplo vazio... fragmentos, conflitos... mas tinha o amor, havia os exemplos... e foram eles que me sustentaram... minha moldura... ainda não dá pra confiar na imagem que meu espelho reflete... mas despedaçar ele não vai... e os sete anos de azar?... deixo pra quem acredita... os que tinha que viver, eu já vivi... agora, eu sou amor e exemplo, unidos numa superfície só...
(Ana)



Virtual


Olho todo dia o espelho. Às vezes me reconheço, às vezes não. Como é mesmo esse rosto que tenho? Quem você vê quando olha para mim? Estaremos juntas, um dia, as três: a que vê, a que é vista e essa outra que é só reflexo. Então, trocaremos de lugar...

***
A boca. Os olhos. A curva dos ombros, os pés...Um rosto, meu rosto... Desmonto meu quebra-cabeça: águas de Narciso, espelho de Medusa, salvo-me pela fragmentação.Em lugar nenhum sou inteira. Construo um ser ao meu gosto e tudo me serve de espelho.Cabelos, pescoço, olheiras que deveriam ter sido transitórias.Reflexos, miragens, tudo parte de mim, fragmentos sem sombras. E essa dor inexplicável de existir, em algum lugar, de alguma forma
(Neysi)




O espelho que me reflete, não tem forma certa, hora reflete uma pessoa boa; generosa; que quer o bem de todas as pessoas que me cercam, e ora reflete a imagem de uma invejosa.
Não agüento ver pessoas apadrinhadas conseguindo vagas de emprego que os pobres mortais como eu, não conseguem.
Pessoas que como eu tem que ralar muito pra ter o que tem. Meu espelho está torto, está quebrado, assim como meu orgulho.
Tive exemplos de luta em todos os lados da minha família, mãe e tios, primos, todos ralando. Tive exemplos ruins do meu pai, de que a vida é mais fácil, passando as pessoas pra trás. Roubando dos próprios filhos, roubando amor, dinheiro, dignidade.
Se meu espelho hoje estivesse inteiro, ia refletir uma pessoa em cacos. Que não tem nem como se mover, pro restinho do mosaico não se desfazer. Cacos! Às vezes é bom, já que não tem mais onde quebrar, o que podemos fazer, é começar a colar e se por de pé novamente.
E assim meu jarro de vida, vai sendo colado. Ele está remendado a muitos anos, e continua tentando não deixar escapar a água, que às vezes jorra pelos canais lacrimais. Nem sei como cheguei aqui, nem sei se algum dia estive inteira! Sou apenas um reflexo da situação da maioria dos brasileiros, todos lutando para se manter de pé, pra pagar as contas, pra sonhar com um futuro melhor.
Calma! Que eu tenho pressa. Tenho pressa de me colocar na batalha de novo, de fazer meu futuro bom, ser amanhã. Fazer com que meus sonhos profissionais se realizem, que meus cacos virem logo um jarro inteiro, com marcas quase imperceptíveis.
Este espelho que sonhamos desde que aprendemos a nos olhar nele, mostre uma pessoa mais feliz e mais forte.
(Aline)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Reticências, entrelinhas, verbos...


Reticente...

minha marca textual são as reticências... em todo texto que escrevo, elas estão presentes... entre uma frase e outra, entre um pensamento e outro... não sei bem o porquê... mas acredito que seja porque me parece injusto terminar uma frase com um ponto final... a mim, o ponto parece limitar o conteúdo... e a idéia vai sempre mais além... nos meus textos, há um infinito espaço a ser preenchido por quem lê... o espaço das reticências... das idéias que ficaram subentendidas, das imagens que vieram a mente, dos sentimentos que foram despertados, das tensões que foram criadas... espaço que não é pra ficar vazio... que não tem formatação convencional... que segue ritimado pelos três pontinhos entre um momento e outro do pensamento... mas a expressão pessoa reticente me incomoda... sempre a vi com um caráter negativo... idéia de alguém que nunca diz tudo, que não completa seus pensamentos, que está sempre deixando a entender, insinunado coisas... não queria ser reticente, duvidosa... na minha personalidade, quero sim ter pontos bem definidos... idéias de início, meio e fim... dois pontos, pausa, parágrafos, travessões, hora pra falar, hora pra narrar, momento de finalizar idéias... na minha vida, não sou reticente... sou sim é mais incisiva, mais direta, mais bem definida... só que o que me ajuda a me definir é exatamente o que escrevo, pontuado de reticências...
(Ana)



Básica

As primeiras coisas que escrevi eram assim, carregadas de reticências. Uma amiga me disse que era um recurso pobre do ponto de vista da língua, ela preferia a precisão das frases bem pontuadas. É claro que eu me lembrei de belos textos cheios de reticências, mandei um poema de Quintana para ela, mas o fato é que as reticências foram sumindo do meu texto à medida que a minha confiança foi aumentando. Percebi que um ponto não matava uma idéia. Não sei a escrita melhorou ou não, mas talvez a falta delas, aliada à minha implicância com os adjetivos e a minha inabilidade ou impaciência com figuras de linguagem, tornaram meu texto sintético e seco. Talvez por isso prefira a poesia. Ou a tentativa dela.
Na vida não sou tão despojada, nem tão objetiva. Como boa libriana hesito sempre, sou a reticência em pessoa.Mas nisso com certeza eu melhorei, idade tem que trazer alguma vantagem, então se é para decidir ,escolher, tento fazer logo. Mas conservo algumas reticências de estimação e gosto de brincar com as entrelinhas. Talvez seja o que eu saiba fazer melhor...
Ah, e que não restem dúvidas: Aninha, adoro suas reticências!
(Neysi)




Pontuando a vida

O verbo é o início de tudo, é quando começa a história de cada um, um nome, um significado, o depósito de esperança. Nasce o novo, e assim começa nossa vida.
Como vamos escrevendo este livro,é o que nos diferencia um dos outros. Pensando na minha pequena obra, hoje sei que ela está cercada de pontos finais. A cada estrada que eu percorria da minha história, havia sempre um ponto final pra cada etapa; aprendi aos poucos que o ponto final fazia parte de tudo, e que não indicava o fim extremo, e sim a possibilidade de começar de novo, de iniciar um novo capítulo, uma nova jornada.
Cada história teve muitas virgulas, onde eu tomava o fôlego para continuar as vivências, para respirar e até para tentar aliviar as dores de cada narrativa triste. Onde eu podia absorver o ar e olhar em que direção eu deveria seguir. Mas os pontos finais, logo se apresentariam. E muitas vezes só suportei cada etapa desta marcha, porque acreditei que eles estariam próximos, à distância de uma curva, de mais um passo.
Hoje, quando estou percorrendo meu caminho, e nuvens pesadas se aproximam, consigo apreciar as virgulas e esperar que o ponto final chegue. Meus passos diminuem, não tento mais fugir dos percalços, só respiro fundo e penso que a chuva vai cair, que os ventos vão soprar, mas que logo ali na frente eu encontrarei o tão esperado ponto final. Virgulas e pontos finais, minha biografia está cheia deles, e eu me orgulho disto.
De verbo me tornei adjetivo, substantivos e me recriei em novos verbos, em novos pontos e assim continua meu pequeno conto, até que a última pagina seja preenchida.
(Aline)

sábado, 22 de novembro de 2008

Desenhos


sempre fui cercada de pessoas que sabiam desenhar...minha avó pouco sabia do mundo dos escritos, mas desenhava cada letra de seu nome ao assiná-lo, para não fazer feio... meu pai, de mãos rudes de fazer artes mais brutas, em ferro e madeira, sabia desenhar peixe e passarinho... seres de sua infância mineira, com os quais conviveu muito de perto... minha mãe dizia que não sabia desenhar, mas era mentira... seus desenhos, como ela, não tinham traços reais, mas possuíam uma estética infantil, que não era menos verdadeira, nem menos bela... minha irmã desenhava de tudo, fisionomias de cabeça com as expressões que guardava na memória, seres estilizados que dançavam em roda, imagens que queria ter vivido, traços encadeados... meu irmão desenhava a perfeição, cavalos, cachorros, mulheres, tudo perfeito, com movimentos técnicos... eu desenhava cópias, observava e tentava imitar... as letras da minha avó, os peixes e pássaros do meu pai, as bonecas e casinhas da minha mãe, os traços livres da minha irmã, o tecnicismo do meu irmão... meu amigo querido, esse eu já tinha esquecido que desenhava, só tinha na memória uma vaga idéia de que já vira desenhos dele, mas não sabia se era realidade ou imaginação... já recebi muitos desenhos que não guardei, pessoas especiais que eu perdi sem querer em alguma gaveta... os que vieram depois de mim também desenham bem.... minha filha, quando pequena, não desenhava gente, só paisagens, hoje é ela que faz os cartazes dos trabalhos de grupo da escola... meu filho, quando bebê novinho, fechava linhas em círculos, adiantando-se ao seu tempo, hoje já pinta dentro das linhas e gosta de desenhar carros, famílias e casas... meus amigos e filhos eu não copio, mas admiro... absorvo, me transformo... os entendo através dos desenhos... os meus verdadeiros traços são sempre linhas perdidas que se emaranham... não têm começo, partem de qualquer lugar e nunca sei onde vão terminar... começam, às vezes, curvos, terminam retos... ou ao contrário, tanto faz... vão se amontoando e se completando até tomar todo o papel... às vezes têm olhos, bocas... mas nunca têm rostos inteiros... já fiz muito desenhos em linhas simples, quase contornos, para montar alfabetários, ajudar meus alunos a entender as letras e seus sons... é muito mais fácil ler desenhos do que letras... existem pessoas que vêem significados nos desenhos... compreendem a alma das pessoas através deles... deve ser verdade... minha alma, eu não sei onde começa, nem termina... e já quis tanto ser igual... mas por qualquer motivo me embaralho e me espalho pela superfície lisa que bem poderia ser a de um papel... mas me mostro com muita facilidade em contornos de linhas simples... hoje, minha vida se desenha em labirintos, perlês de confeitar bolo e bordar tecidos... com uma necessidade imensa de preencher os espaços vazios... meu desenho ainda é incompleto e sempre o será enquanto ainda houver papel e detalhes minuciosos para completar... enquanto ainda houver grafite... até a mão não ser mais firme... enquanto houver alma pra desenhar...
(Ana)


Imperícia; falta de talento, falta de segurança. Nunca fui boa em desenhos, nem mesmo na escola. Lembro da recuperação na sétima série, na matéria DESENHO. Se na mão falta habilidade para desenhar, imagina segurar um compasso e fazer dele uma extensão de minha mente.Não daria certo mesmo. Mas juntamente com o sonho de bailarina que não sentia dor, existia e ainda existe o sonho de desenhar, de colocar no papel o que minha arte deseja. Poder perpetuar meus pensamentos e minhas cores. Não é falta de amor ao desenho não, minhas telas a óleo mostram isto, se gosto de pintar, todos acabam achando que sei desenhar. Minha poesia cabe nas cores, mas não nos traços que tento com eles expressar.Garatujas, não passam de garatujas. Pra fazer um quadro mais elaborado, tinha a folha de papel vegetal, papel carbono verde e xerox ampliado. Sabe o papel quadriculado? Nem com ele conseguia copiar nada. Nunca, nem uma casa, nem um barco, nem uma árvore, nem um passarinho e nem uma borboleta dentuça como as da minha filha. A tartaruga que bebe água com a língua pra fora. Nada disto, saiu de dentro das articulações da mão, coordenação motora, pra desenho, nenhuma. As aulas lá na escola técnica de publicidade do Rio, foram testemunhas do suor que escorria da face, não pelo calor do verão do Rio de Janeiro, mas pela inabilidade de colocar no papel a luz e a sombra do desenho que tinha que reproduzir!Quanto orgulho do meu equipamento de nanquim emprestado pela tia Arquiteta, minha pasta A4, meus lápis, mas na hora de usá-los o sofrimento de produzir algo medíocre.Já pensei em fazer um curso, já vi até o preço, mas é como cantar, outro sonho de criança. Pra conquistá-los vou ter que me expor na frente de outros. E aí, emperra.Posso mostrar-me aqui, nas palavras, nos sentimentos e na verdade que saí do coração, mas estou só. Só como nasci e como vivi, a minha arte nasce da solidão, da música que toca dentro de mim.Meus borrões! Guardo pra mim, dentro da caixinha destinadas a eles. Caixinha tão bem guardada que nem sei onde ela está e ainda não consegui procurá-la. Nanquim, carvão, lápis de cor, hidrocor, guache, tinta óleo, acrílica, todas vão morar em mim e peço a vocês, deixe-me usá-las só nas letras e no que meu coração insiste em sentir.Desenhar, quem sabe um dia, assim como cantar!

(Aline)

Eu gostava de desenhar. Talvez fizesse isso bem, ou talvez convencesse pela insistência. Eu particularmente nunca achei meus desenhos bons, mas isso não importa. Cada cantinho de papel vazio ganhava mesmo sem pedir um desenho, assim lá estavam, com tinta de caneta esferográfica, os colegas de turma, os professores, figuras de braços enormes, contorcidas como se fossem de borracha. olhos e espirais intermináveis. Meu filho faz o mesmo, somos, pelo visto, dois sonhadores desatentos.
“Faz o aí o rosto do Papa, o D. Pedro I, o homem das cavernas! Não diga que não sabe, sua tia pediu, você rabisca o tempo todo, na hora que precisa é essa má vontade...” É, tinha o lado ruim também, mas acho que não foi por isso que parei de desenhar, fui perdendo a vontade e a necessidade de fazer. Fui perdendo também o tempo ocioso ao lado de papéis e lápis, não somos mais tão íntimos.
Hoje aprecio os espaços vazios. Até para escrever uso poucas palavras, faço com elas um contorno para o silêncio e só. Por isso demoro tanto a atualizar esse blog...se ficasse por conta das meninas teríamos quase todos os dias bons textos.
(Neysi)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Clarissa


Uma menina sempre animada. Aquela que fala, fala de manhã enquanto todo mundo ainda está dormindo. Uma menina de bom coração e boa vontade.
Não é nada sem amigos. Mesmo que ás vezes precise “autistar” um pouco, seja falando sozinha, rindo sozinha, ou escrevendo no quadro negro. Mesmo sendo quieta para uns e animada para outros, sempre com seu jeito um pouco louco de viver a vida.
Uma menina que te faz rir, a que ri junto e chora junto, a que te protege, te escuta e te entende. Fala um monte de besteira, gosta que a escutem. Sabe amar, sabe ser amiga, sabe ser de tudo um pouco.
Nem sempre se expressa através de palavras, muitas vezes é através de uma simples ação no dia-a-dia, um simples sorriso ou olhar. Mas uma menina com um ENORME coração.
Ama esportes, vôlei é sua paixão. Ama a família, amigos, e apaixonada pelo verde da vida. Adora brincar, adora mistério, adora investigar e adora aprender. Um tanto curiosa.
Não consegue ficar parada, não é NADA normal. Gosta de ser diferente. É tímida mas muito alegre. Louca?? Não, apenas feliz.
Ninguém sabe o que se passa pela sua cabeça. Pensamentos confusos, um monte e coisa ao mesmo tempo.
Gosta de pensar em como é bom ter amigos. Lembrando sempre que conhecer muita gente não é o mesmo que ter amigos. Se baseia em: “Viva cada minuto de sua vida como se fosse o último pois nada se sabe sobre o dia de amanhã.”
O que fala é desorganizado e sem sentido. Entendê-la? Quase impossível!
(Clarissa)

sábado, 8 de novembro de 2008

plantas, bichos, gentes



cresci num universo vivo... vivo em todos os sentidos, em todas as nuances... vivo porque vivido, vivenciado, experimentado com emoções, sensações, descobertas vivas... reais, sobrenaturais, intensas... cercada de seres vivos... plantas, bichos, gentes... lembro de mim sentada em um dos três degraus que davam da varanda para o corredor que levava ao quintal... um corredor repleto de plantas e um balanço... quase não havia espaço pra passar... sentava ali pra ver filas de formigas passando... pra cavucar a terra procurando minhocas... pra revirar as folhas tentando achar caramujos, caracóis... pra fugir da tartaruga que mordia calcanhares... pra observar os marimbondos fazendo casa na beirada do telhado.... pra observar as folhas que as lagartas comiam o verde pelo meio e deixavam apenas uma fina película no lugar... pra encontrar casulos nas finas folhas das palmeirinhas... pra ver os lírios nascerem... os lírios... passavam horas para descolarem as pétalas... iam se soltando uma das outras lentamente... às vezes não conseguia esperar... dava uma ajudinha com a pontinha do dedo... bastava uma pequena pressão e elas se abriam todas... doce aroma emanado... como uma florzinha tão pequena tinha um perfume tão forte e bom... muitos anos mais tarde, aprendi que as flores brancas, normalmente, abrem à noite e têm um perfume mais intenso, pra chamar a atenção dos parceiros que vão ajudar na sua fecundação, já que no escuro, flores sem perfume não atrairiam os insetos, cores chamativas também não fariam diferença, até mesmo por isso que são brancas, pra se realçarem à noite... depois disso entendi porque elas demoravam tanto a abrir, começavam de dia, mas só deveriam terminar de abrir à noite, pra liberar todo o seu perfume e chamar os insetinhos... e eu, já naquela época ansiosa, abreviava o tempo da floração e atrapalhava a fertilização das pobres coitadas... rs... só pra ver o espetáculo delas abrindo... só pra sentir o seu perfume... havia outras plantas... plantas que se ficassem no sol ficavam verdes, se ficassem na sombra ficavam roxas... plantas que tinham nome bonito, brinco de princesa, imaginava se uma princesa teria mesmo o capricho de fazer das belas flores seus brincos... alfinete, que espetava... jibóia, que crescia na água e na terra... a que vivia na água tinha um peixinho nadando dentro de seu vaso... idéias de meu pai pra não dar larva de mosquito... e nem era tempo de dengue ainda... renda portuguesa, pipa, azaléia (nome de sandália), espada de são jorge e a temível... comigo-ninguém-pode... que dava medo até de encostar a mão, senão morria... tinha também mais bicho, coelho, sapo criado desde girino, pintinho, gata que foi entrando e ficou morando na casa, cachorro, hamster, periquito, passarinho, peixinho dourado, peixinho de rio... cresci no meio da vida em floração, em atividade, em desenvolvimento... nascimento, vida e morte... mas cresci e não aprendi a cuidar de planta, sempre deixo morrer... nem de bicho, não dou o carinho devido... teve época que isso me assustou... pensei comigo mesma, se não sei cuidar de um ser vivo, como poderei ter filhos?... graças a deus, quando tive filhos, eles não morreram de sede, nem lhes faltou carinho... a natureza é sábia e apesar da minha falta de jeito com os demais seres vivos, me fez boa mãe... eu acho, né?... mas só eles vão poder dizer no futuro... instinto talvez... a força da natureza que comanda todas as coisas... a mesma força que fazem os lírios brancos abrirem à noite, perfumados
(Ana)


É um tema que há muitos anos era difícil pra mim. Não que não gostasse de plantas e bichos, eu realmente gostava. Mas, não sabia cuidar deles. As plantinhas eu afogava ou matava de sede, os bichinhos eu não tinha paciência. Na verdade gostava de brincar com eles, mas não gostava de limpar a sujeira que eles faziam.
Eu era uma criança. Criança gosta de bichos como se fossem seus amiguinhos, e amiguinhos não tem que limpar o cocô uns dos outros. As plantas foram motivos de várias experiências, eu pegava todos os produtos de limpeza, uma seringa com agulha e injetava as minhas invenções nelas, acreditava que eu ia descobrir a fórmula para elas crescerem, e seria como meu pé de feijão. Sorte é que elas resistiram as minhas investidas.
O peixinho do Sergio, eu quis segurá-lo pra sentir como era ter algo vivo nas mãos, mas não sabia que tirando ele da água, ele se debateria e morreria, e foi o que aconteceu, se debateu nas minhas pequenas mãos e caiu no chão. O susto foi grande e corri de medo, e o medo maior era da bronca de matar o peixinho que era do meu primo, corri e coloquei o peixinho dourado de volta, já sem vida no aquário.
Fui crescendo e pensando, como será minha vida, não consigo manter minhas plantas vivas, como será com um filho? E a ordem se inverteu, tive a filha e aprendi a cuidar não só dela, mas como de mim, das plantas e até dos bichinhos.
Eu cresci, agora já sei cuidar!
Vieram os peixes, as plantas e o cão. Tenho vaso com sete ervas na porta de casa, pra proteger, cheflera, árvore da felicidade, cactos, jabuticabeira, lírios da paz e outras que nem sei o nome. Todas estão vivas!
E meu cão, Timmy Turner, um cocker part color, muito lindo, meigo, carinhoso, amigo, companheirão, ele hoje é o primeiro a ser atendido nas suas necessidades, limpar a sujeira, trocar a água, dar comida, lavar seu quintal. Uma rotina que não me cansa, pois este cãozinho que mais parece um filho meu, faz a diferença nas nossas vidas, minha, da minha filha e do meu marido. Uma casa sem plantas, sem animaizinhos, parece não ter vida!
A vida foi se fazendo aos poucos dentro de mim. Cresci vendo minha família toda amar as plantas e a conversar sobre elas, e pedir uma mudinha de planta, quando gostava da plantinha e ainda não tinha nenhuma daquela espécie; cresci sabendo que as plantas também sentiam o nosso ambiente, que uma pessoa com "olho gordo" poderia matar uma plantinha que chamasse atenção, mas que isto deveria ser visto como coisa boa, porque aquela energia ruim, não nos atingiu, a natureza havia capturado esta energia, filtrado algo ruim.
A natureza se faz tão presente nas nossas vidas, que hoje escolhi viver perto dela, aqui no pé da serra onde eu moro cercada por árvores, por natureza, posso admirar as lagartas peludas subindo pela parede, as minhocas na terra viva das plantas, os tatus-bola que minha filha insiste em capturar, a vida, o sol que nasce e que se põe, o galo que canta logo cedo, os pássaros. Aprendi que na vida o que importa é o natural, aquilo que se movimenta no ritmo do mundo que nos cerca, e só observando este mundo e nos conhecendo, podemos sentir que realmente estamos vivos!
(Aline)




Uma bola de pelos arrepiados amarrada com um laço cor de rosa. Umas trezentas gramas, não muito mais. Joana trouxe a gata já pronta para cair no choro se alguém recusasse a hóspede. E o que adianta falar do cachorro enorme e estabanado que com uma focinhada pode esmagar a coitada? Ela é assim porque a mãe não lambeu, a veterinária é que falou, senão teria o pelo lisinho igual aos outros gatos, eu já comprei ração, areia , brinquedo, ela pode ficar, não pode? Ficou, e agora faz companhia ao casal de periquitos, não demora está brincando com o cachorro também.
Eu achava que cuidar de bichos era muito trabalhoso, mas cuidar de gente é que é. Olho para as crianças crescendo e sinto medo, o que vai acontecer com essas pessoinhas que eu trouxe para o mundo, o que elas esperam da vida e o que a vida espera delas? Juca fez a barba, Joana tem um pretendente. Precisam roupas novas, o tênis já não cabe. Precisam estudar, aprender profissão, fazer escolhas difíceis que eu não tenho como ajudar. Gente dá muito trabalho.
Enquanto isso o jasmineiro abre suas flores brancas, os copos de leite disputam espaço com as hortênsias e o cachorro estabanado, numa corrida, passa por cima de tudo.

(Neysi)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nádia


Me vejo procurando as palavras, tenho receio de parecer piegas ao falar de minha vida incomum. Sabe a família do comercial de margarina, onde a mãe prepara um pão quentinho pro filho e o pai olha apaixonado para a mãe, todos sorrindo?
Esqueça. Sou mais “gauche”do que Drummond.
Mãe solteira nos anos setenta em uma cidadezinha do interior do Paraná chamada Lapa, minha progenitora entrou sozinha na maternidade. Meus padrinhos, outros párias da sociedade: ele gay e ela lésbica. Quando entraram na igreja me batizar o padre engasgou e perguntou quem era o madrinho quem era a padrinha?
Nasci sem o nome de pai. Quando entrei na escolinha aos dois anos, duas mães foram retirar os filhos para não se misturarem comigo. Além dessa infectível sensação de ser diferente, de ter alguma coisa errada comigo, eu ERA diferente. Criança com bicho carpinteiro, imaginação sempre a mil, hiperativa, desligada, sensível, aos 4 anos já lia e escrevia, não que isso tenha me ajudado....fui considerada gênio e “retardada” com a mesma velocidade e as vezes, ao mesmo tempo. Matemática é como aramaico, sempre foi. Mas em compensação sempre ligada com música clássica, apaixonada por Chopin desde criança, aos seis eu disse que eu deveria entrar para o ballet porque toda atriz dançava ballet! Aos sete estava também no piano, e aos nove, resolvi ler um livro de adulto, porque sentia o desejo de viajar e conhecer o mundo, mas como não tinha condições, resolvi viajar lendo. O piano acabei desistindo por não ter onde estudar, mas cursei cinco anos. (detalhe o livro era Tocaia Grande, de Jorge Amado, e sou uma devoradora de livros até hoje).
Penso nessa época sempre com muito carinho, lembro de ser um animal quase incontrolável, o pesadelo de professores, a liderança das outras crianças. Penso nas tardes de janela, esperando por um homem que nunca veio, mas que tinha o rosto de Elvis Presley, o óculos rayban, inclusive. Ele parava do outro lado da rua, e ficava me olhando. De repente atravessava a rua e me dizia : “uau! Você é uma menina incrível!”
Aos quinze anos, como o Elvis não apareceu, fui até ele. Tudo bem, não era a cara do Elvis e o nariz era enorme para meus padrões presleynianos. Mas a atitude não era do meu herói. Ao entrar e me olhar, disse que eu não era nem um pouco parecida com ele. Pegou minha mão, disse deve ser estranho não é, um estranho ser seu pai. Mas você! Nunca me incomodou! Tive outra filha assim como você, NA RUA, mas me incomodou muito, exigiram meu nome e pensão e blá blá blá...e eu olhando para aquele homem, homem fraco, que não me disse nada ao coração, mas a quem eu devia minha vida de certa maneira. O doador de esperma que me trouxe ao mundo. Faço aqui uma pequena reflexão, cumprimento os pais de mel, os pais que criam seus filhos com amor mesmo que não sejam biologicamente seus. Esses sim merecem a alcunha de pai.
Um chocolatinho, uma revistinha, um dinheirinho, e disse que sempre me visitaria. Pura balela, nunca mais. Mas avisou aos filhos que eu existia no medo de que um filho namorasse a irmã “da rua”. A filha mais velha e o do meio falaram que eu continuava não existindo,o mais novo veio até a Lapa me conhecer. Fizemos amizade, mas quando se casou, diz o boato que, por algum motivo que nem imagino qual seja, a esposa tem ciúmes de mim, e ele me cortou. E eu hoje em dia, na verdade nem lembro que existem também, quero gostar de quem gosta de mim! A única história que reivindico para mim do meu doador de esperma, é de sua avó. Uma bugra de Blumenau, caçado por um Italiano no mato e amarrada para que se acostumasse na cidade. Essa índia as vezes ferve dentro de mim, sinto ela correndo nas minhas veias.
Relação com a mãe, sempre conturbada, bem dizer infernal. Água e vinho, nunca nos entendemos, tentamos conviver. Aos 15 anos o primeiro emprego, como Locutora de Rádio, que ótimo, pode-se então amenizar o comportamento da adolescente excêntrica com uma profissão. Aos 18, casei-me com um militar. Outra relação fadada ao fracasso, as diferenças eram um oceano inteiro, e o sofrimento teria sido menor para ambos se tivesse terminado antes. Engatei outro casamento em seguida, com alguém que viria a ser meu melhor amigo, mas apenas amigo...nisso passaram-se muitos anos, do rádio passei para o teatro, dois prêmios como atriz, sonhos de uma vida que acabaram-se quando o amigo decidiu que tinha que ir procurar uma felicidade real, e eu fiquei com os escombros de tudo que eu sonhara um dia. Não tinha nada de concreto profissionalmente, tinha antes a sensação de que tinha que matar um leão com as unhas a cada estréia nova, ou quando ia fazer teatro na periferia, dentro dos lugares mais inimagináveis!
Neste cenário fiquei sabendo da UnC e conheci uma mulher que faz pelos outros, nome dela é Cirene, ela me orientou quanto ao ingresso na Universidade, e até hoje, ela sempre que pode é meu amparo. Acabei entrando no final da segunda fase de Artes Visuais, e fico admirada de ver como as coisas das quais gostava ali eram valorizadas!
Passei momentos incríveis lá e fiz o que pude por meus colegas. Penso sempre que todos ali levam o nome da minha Universidade com eles, e todo conhecimento compartilhado é em benefício de todos. Mal imaginava que agora, no final, quando to me arrastando, com vontade de desistir, meus colegas seriam por mim! Explico....
Talvez lá no fundo, eu quisesse um comercial de margarina na minha casa. Queria uma família, uma forte figura masculina em meu lar, e no final das contas acabei sozinha, com duas filhas pra criar. O quarto de pensão do amor do meu coração está vago, ninguém mora ali, e mesmo que aparecesse alguém legal, como já apareceu, eu acabaria boicotando...no fundo, tenho medo de ficar com mais uma criança nos braços, e sozinha. Sou homem e mulher da casa, tenho que engrossar com o pedreiro, tenho que atender a porta fora de hora feito macho, tenho que trabalhar para sustentar as meninas. Alguém na minha vida de novo? Tenho medo de mais uma vez, não dar certo, por este motivo ou aquele. Penso que quis demais essa família dos meus sonhos, esse homem dos meus sonhos, e como ele não apareceu, perdi o sal da minha vida. Nem ao menos viver na profissão de atriz, coisa que amo, eu consegui. Me sinto deslocada, torta, errada e sem direção. Pensei seriamente em desistir, e talvez eu venha fazendo coisas para que isso aconteça, talvez no fundo eu não me considere digna de usar uma beca. De ser um pouco feliz. Mas Deus é tão bom pra mim que não tenho homem ao meu lado, mas uma colega de estágio muito, muito forte. E professoras como Raquel e Lucimara que me olham sem compreender minhas atitudes, mas que mesmo assim, ainda assim, me ajudam.
Gostaria que daqui a alguns anos, eu olhasse para trás e me visse como estou agora, feliz por estar mais forte. Não por ter enfrentado tudo com dignidade, estou apenas sendo empurrada por pessoas que desejam meu sucesso. Mas por ser uma sobrevivente.

(Nádia)

sábado, 1 de novembro de 2008

Equilíbrio



tenho saudades de mim mesma... saudades dos momentos em que me senti segura e protegida... feliz... não me sinto assim agora... poderosa... me sinto extremamente frágil... quase quebradiça... tenho saudade da plenitude... daquela sensação que dá algumas vezes na vida que nos induzem a pensar que podemos tudo... que somos imabatíveis... que todas as nossas empreitadas darão certo... sensação de super-herói... em compensação... me sinto mergulhada na sensação de impotência, quase incapacidade diante das vida, dos fatos, das pessoas, dos desejos... o certo deve ser isso mesmo... não podemos controlar tudo o tempo todo... quando conseguimos ser bem sucedidos frente a alguma coisa controlável, somos super-heróis... quando perecemos frente ao que não conseguimos conter ou dominar, somos impotentes... o problema é o desequilíbrio... o problema maior ainda é identificar cada uma das situações... difícil isso... ter discernimento... é a coisa mais dificil do mundo... decidir com sabedoria a hora de agir e a hora de resignar... resignar é difícil às vezes... agir também é... e aquela velha história que a pessoa tem que ter as rédeas da própria vida... mas as rédeas de que, dentro da própria vida?... não é de tudo que podemos... podemos mudar nosso futuro? fazer nosso próprio caminho?... ou devemos nos render ao destino? aguardar o que a vida nos reserva?... só sei que tem horas que queria super-herói e queria não ter o poder... e tem horas que me sinto impotente e queria ser super-herói... será que não dá pra sincronizar?... acho que é esse o segredo de ser feliz... equilíbrio e sincronia... do nosso próprio universo pessoal... assim não haveria ansiedade... a dor seria suportável... a alegria seria bem aproveitada... ficaríamos em paz com todo o restante do universo...


(Ana)







O mundo está lá fora e aqui dentro, dentro de mim!
A vida passa pela janela, o vento canta a música de todos nós.
Vejo o balançar das árvores e dos meus pensamentos.
No leste, o sol surge fraco ainda. E ao longo da minha jornada, vai alaranjando o céu, e morre atrás da igrejinha.
A areia fina sob meus pés, me ligam a terra, me fazem perceber que estou viva!
Sinto no vento o cheiro de sal, o sal da terra. O que me faz perceber a vida em sua plenitude.
Água fresca molha minhas pernas, e minha pele sente o alívio de sentir a ligação com o belo.
Tudo em equilíbrio e sincronia, a conexão com o universo e eu, parada sentindo a força das minhas veias. A vida se mostra em todos os lugares onde estou.
Viva! O ar percorre meus pulmões.
O êxtase de sentir tudo!
(Aline)






Era nessa época quando o tempo começa a esquentar, as janelas ficavam abertas até mais tarde, vinha da rua um cheiro de flor e o piso ficava quente do sol da tarde. Fim do ano chegando, férias, Natal, coisas que não falhavam, não falhariam nunca...Trazer da padaria da esquina o pão embrulhado em papel cinza e amarrado com barbante, usar o papel para desenhar depois.
Um dia no colégio a professora decreta: vocês que são adolescentes e estão na fase dos namoros...não lembro o resto do comentário, adolescência para mim era uma palavra de revista, não parecia ter nada a ver com a menina que eu era, mas palavra de professor é palavra de professor, e eu, menos segura que antes, procurava no espelho a adolescente que ainda não existia.
Segurança, plenitude, sei lá, acho que ficaram talvez nessas lembranças despreocupadas da infância, onde a vida se oferece inteira, um cacho de possiblidades presas ao galho aparentemente baixo de uma árvore. Fora isso, alguns momentos raros e rápidos, um diploma na mão , um filho na barriga, um beijo .
Equilíbrio custei a entender o que era. Tinha a idéia de coisas imóveis, estáticas. Demorei a entender as oscilações de minha balança. Sou definitivamente uma criatura da falta, da busca, da beira do abismo. O nirvana não é para mim. As rédeas da vida, se eu tentar segurar vou com certeza errar o caminho, então confio no instinto animal. Mas atravesso minhas pontes incertas ,minhas estradas íngremes, com um passo atrás do outro, um olho no destino outro no caminho, um frio na barriga e muitas vezes a vontade de voltar...
Tenho quase sempre conseguido chegar, ainda que o chegar não passe de um mudar de rota.




(Neysi)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Celso


A MINHA CASA


Foi uma viagem longa, confesso, mas nada cansativa. Muitas paradas, muitas reminiscências. Fui, a convite, em busca das muitas casas onde vivi ou passei, o que quer dizer, onde brinquei de viver. Isso acontece, claro!... Encontrei muitos destroços, casas desfiguradas pelos anos, nalgumas só encontrei despojos e abandono... Ressalto a plena conservação da casa onde fui criança...aliás, a mais terna, a mais receptiva.
Percebi, ao vasculhar essas poucas moradas, que só uma casa consegue desbancar o tempo e viver comigo até o meu último dia...só uma casa irá comigo ao mais recôndito lugar da terra...tal qual caracol a levarei comigo... É a minha casa!
A minha casa sou eu, passando por momentos diversos e adversos... A minha casa é o meu aprendizado, as escolas da vida que me acolheram nas diversas estradas... A minha casa é este sonho utópico que insiste em tornar-se vida... A minha casa é cada cômodo de mim mesmo, com sua arquitetura refeita, moldada, melhorada. Cada parede reforçada, amparada, sustentada pelas mãos de parceiros cósmicos que acompanham a jornada... A minha casa é este prazer de beber as palavras do Manoel de Barros e degustar a última gota do vinho... Fui e sou o meu fado... Nesta mesa, ao lado de outros fados, peregrino pela noite, ouvindo, sem enfado, o Fado! A minha casa é o cheiro de manacá que corta os anos e perfuma um quarto de saudade, onde guardei as minhas roupas de menino... Paira no ar, calor e ar parado, alguma dama da noite perfumando a madrugada que não vivi. Ah! Sim, a minha casa... Eu sou a minha casa entranhada em mim, levando-a para todos os recantos onde piso, conseguindo a maravilha de colocá-la dentro de outras casas, cascas que são.
A minha casa é um poço de ternura a velar o sono de minha filha, esta cortina a esconder o sorriso sensual da parceira. No mais, é, simplesmente, a minha casa, os meus versos, as minhas lágrimas. Cada tijolo desta casa tem um quê de vontade e verdade entrelaçado, testemunha da contínua busca do caminho justo e bom. A minha casa... a minha casa....
A minha casa nada tem de especial, senão a maravilha de existir e, milagrosamente, caber numa minúscula folha de papel.
(Celso)

domingo, 26 de outubro de 2008

Desconstruindo Castelos


já que o amor ainda era só meu, o construi como eu quis... com fino acabamento e ostentosa estrutura, dignos do meu grande amor por vc... sobre a mais alta montanha, para te elevar acima das nuvens, com vista para o lindo mar azul, para encantar as tuas manhãs, e bem perto da natureza selvagem, para te encher de ar puro e refrescante... projetava-se harmoniosamente, emoldurada pela bela paisagem, a morada do meu amor... depois de terminada, fechei a porta e ofereci as chaves a você... você não quis e as chaves se perderam entre a relva e as pedras do caminho, igual a mim, perdida, trancada do lado de fora da morada que eu mesma construi...sozinha, no alto da montanha, à beira do penhasco, de frente para o grande mar e com a floresta às minhas costas... perdida sem as chaves de mim mesma... toda grandiosidade da minha construção, me fez insignificante pequena... e o amor jamais deixou de ser só meu... comecei, então, a desconstruí-lo do meu jeito... cada ausência do olhar que não lhe mando é um acabamento que se desfaz... cada palavra que cala sem ser dita é um tijolo que retiro das paredes... cada frase que escrevo deste amor maldito é uma pedra que removo de sua estrutura... estou juntando todo o entulho mal quisto e ainda não sei bem o que fazer com ele... mas já estou no fim trabalhosa des-empreitada... depois que acabar, vou voltar para a praia, vou dormir ao relento e nas épocas de chuva, construirei uma modesta cabana de palha onde só caiba a mim mesma... nada suntuoso, nada majestoso.. vou viver comigo mesma na minha própria simplicidade... sem castelo, sem amor e ao nível do mar... e serei feliz assim...
(Ana)


O que faz nosso coração entrar por um mar revolto? Porque será que nós nos apaixonamos perdidamente por alguém que não nos percebe como realmente somos, e a partir daí o nosso amor passa a ser solitário?
Quem na vida já amou e não foi correspondido? Quem não sofreu por amor na vida?
O que fazemos quando nosso sentimento vira o Mal que nos aflige? Tantas perguntas pela estrada da vida, no mar revolto onde o barco bate sozinho nas ondas, e elas são tão opressoras, fortes, gigantescas. Fazem nosso barquinho parecer papel, parece que vamos diluir diante de tanta água e o frio que se sente ao estar neste mar sozinho, sem perceber onde vamos parar.
Não me lembro quantas vezes o amor nasceu e acabou dentro de mim! Sei que em todas às vezes, que o sentimento não foi possível, adubado, o Amor passou a corroer tudo de bom, mas aos poucos as ondas foram diminuindo, o mar serenou e consegui olhar de volta para o porto seguro. O farol ao longe me apontava uma direção a seguir.
E fui a olhar as estrelas que surgiam dentro de mim na direção da luz, luz que acredito que estava ali há muito tempo, só que ao sentir todo aquele turbilhão de dor, não via nada além do meu sofrer.
Meu barco foi se aproximando mais de mim e eu pude ver luz em tudo, sentir esta luz sair por meus poros, e aquecer onde antes só havia frio, onde o silêncio da dor me fazia perceber só as lágrimas, que desciam da minha alma.
O barco aportou e tudo passou, até o próximo amor, até a próxima invernada. Ainda bem que podemos amar e sermos amada por diversas vezes na vida. E quando o barco está pronto para navegar, não existiram amarras a segurá-lo no cais.
(Aline)




Prometi falar tudo e foi de coração, sem dedos cruzados nem palavras tortas. Bem que eu queria dizer que o amor comeu minha língua, mas é mentira. Também não seria justo culpar o tédio, esse grande devorador. Quem sabe a perigosa sorte de um amor tranqüilo – e lá vem de novo a bailarina delicada, seus pés com asas, o mundo sem dor – e nenhum veneno anti-monotonia. Mas não, é que falar de amor é difícil, viver o amor mais difícil ainda. Tem que ir num fôlego só, num pulo, ou num tropeço. Num tropeço, tai, talvez assim saia, esse texto meio louco.
Ah, tudo que já se falou do amor não serviu para nada. O amor lá é besta de se deixar aprisionar, catalogar, dissecar? Ama melhor quem escreve versos, chora um oceano, seca o bar ou faz uma palestra para uma platéia sedenta de frases de efeito?Amor, bicho doido, do contra, moleque. Impossível?Que venha assim mesmo e nos leve junto, com sua natureza de selva, livre e são. Que nos atravesse então, pois amor não se prende, não se doma, não se aprende...nem amando.
**agradecendo a João Cabral, Cazuza, Drummond e aos poetas, que se não tornam o amor mais fácil, nos fazem menos solitários...
(Neysi)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Quero enlouquecer!

Inimigo a espreita.

Quando algo dentro de mim se levanta como hoje, vejo que o maior inimigo que posso ter sou eu mesma.
Acordo achando que não tenho valor nenhum, que sou tão pequena como um grão de areia no meio do deserto. Tenho pensamentos miúdos, mesquinhos que nem parece saído de uma pessoa legal. E eu sei que sou legal, mas que lado ruim é este meu?
Ele quer ser alimentado de fúria, de ódio, de sentimentos pequenos. Onde a felicidade plantada ali, vai murchar.
Tem um provérbio que diz que o cão que alimentamos mais é o que se destacará dentro de nós. E hoje o cão que despertou é o Mau, aquele que ronda a rosnar e babar circulando a presa.
A presa, no entanto sou eu mesma. Perdida e indefesa, sem nem ter força pra levantar e correr pra algum lugar seguro.
Não tem nada de hormonal neste estágio. Talvez até possa ser espiritual, mas quando o Lobo Mau se aproxima a chapeuzinho vermelho tem que correr. No momento só não sei para onde!
(Aline)







Ser Má

sou realmente uma farsa, não resta mais dúvida, não há mais há quem enganar... não sou nem de longe o que gostaria, não sou nem de longe o que faço de conta que sou... quero sim ser o centro mundo de alguém... fonte de energia heliocêntrica... que esquenta, que dá vida... gravidade que quer o mundo a sua volta... quero um amor que me ame com a mesma dedicação da qual sou capaz de amar alguém... quero serviço, disponibilidade, prisão voluntária... por que me escondo naquilo que procuro, se não é o que desejo? por que ofereço o que não tenho? por que quero mais do que me dão, do que me deram até hoje? quero ser inspiração de poesia, fonte de admiração, não quero ser sozinha, me envergonho de não ser o que sei que deveria, o que sei que é o certo, o que tenho consciência de que seria o melhor, mas que não consigo ser, sou uma farsa.... me mato todos os dias um pouco pra não ser mais quem eu sou, pra renascer em outra mulher, em outra vida, não queria ser tão boa aos olhos de ninguém, queria a imperfeição, desde que fosse adorada por alguém, clamada, essencial e não sou... não sou nada disso... fazer o que é certo é mais fácil do que ser errada, torta, do jeito que sou... por que não sou eu mesma? nunca... te odeio tanto, odeio o mundo, odeio quem me vê assim tão boa, quem me força a ser assim tão nobre porque merecem de mim minha nobreza, queria ser escória e não me importar e só ter quem se importasse comigo, mas eu, com mais ninguém... tomo conta da minha dor e da dos outros, sufoco o que sinto pra proteger o que é do outro, o espaço do outro, não quero mais, quero ser ruim, exigente... quero ser má!

(Ana)








Boazinha

Rosto redondo e voz baixa. Poucas palavras porque nunca fui de jogar conversa fora. Notas boas no colégio, então não há espaço para dúvida : boazinha, ponto final. Está colado o rótulo, não adianta espernear, acender um cigarro, , vestir roupas pretas ou pintar as unhas de vermelho sangue, é boazinha e pronto. E acredite, eu não gosto de usar preto, sou colorida, solar e não sei fazer cara de má. Não convenço mesmo. Mas sei dizer não e com o tempo a gente aprende a suportar as conseqüências. Não entendeu? Já ouviu um não de uma pessoa boazinha? Um insulto, um absurdo, ofensa grave, traição. Sabe o que acontece depois? Pois é...

Já me incomodou, hoje acho engraçado, devo ser má pois às vezes até me divirto com o susto dos abusados. Não sei dizer se sou boa, má , simpática ou esnobe. Já ouvi de tudo e dependendo da ocasião acho o máximo ou um saco, de um modo geral tanto faz. Não vou mudar para te agradar, pode ficar tranqüilo. Bem resolvida? Nem tanto. Tem dia que acordo mal, tudo que eu quero é sumir, mas não tem jeito, não tem saída, tem dois adolescentes aqui para educar, manter , etc. Tem a vida que não vai parar para eu superar minhas crises, as contas vão chegar de qualquer maneira...então cara pra rua...mas é duro. Um leão por dia? Uma fila deles, turno da manhã e da tarde...vamos fugir , baby, outro lugar...

Também já me senti fragmentada, um monte de tontas que não combinam entre si , quase nunca sabem onde deveriam estar, qual a personagem da vez. Já achei isso muito ruim, mas hoje, que carrego todas comigo em para qualquer lugar que vou - e não é porque eu queira, é porque não tem outro jeito - me sinto pesada e queria me livrar de algumas. Quer saber, andar com você numa cidade grande, sem nome, sem diploma, sem rumo, é tudo que eu queria a maior parte das vezes. Vamos?


(Neysi)







Quero enlouquecer!


Deixe-me enlouquecer, eu suplico!
Quero tinta azul no cabelo, quero piercing nas orelhas, no nariz, quero meu piercing de volta no umbigo! Quero mais tatuagens pelo corpo, por todo ele! Quero cantar, andar de mini-saia, quero andar sem roupa, de pijamas pelo meio da rua.
Permita-me enlouquecer! Quero bala com sabor de tamarindo, quero gosto de aventura na boca, pular de bung jump, saltar de pára-quedas. Quero voar de asa delta, surfar em alto mar, furar onda e não ter medo.
Preciso enlouquecer, preciso me arriscar, fazer bolo em formato de guarda-chuva pra dia de sol. Quero um mundo maluco e colorido, quero todas as dimensões numa só, nesta que vivemos, quero tudo em 3D. Quero cheiro de chuva chegando todos os dias pela janela, pular na poça d´água e nem ficar resfriada, andar de bicicleta e nem me cansar, comer até estourar.
Ah! Me deixa enlouquecer vai! Piscina de bolinha com escorregador gigante, montanha russa, maior que elefante! Subir a jato e ir à lua, ver tudo do meio da rua. Ouvir música e cantar alto, e saber que nem tenho vizinho e posso gritar e ninguém incomodar.
Ver filme de amor e chorar, sem sentir vergonha, gargalhar e gargalhar! Me deixa vai, só um pouquinho de loucura, não vai matar.
Imaginar que vou a Paris e a Noruega ao mesmo tempo, frio e calor, simpático e parassimpático sem a sensação de morrer. Tudo funcionando ao mesmo tempo. Relógio andando pra trás, e eu ficando mais nova e mais magra, comendo e “descomendo”, vivendo e morrendo. Não ter limites e só sonhar. Não ter mãe, não ter pai, ninguém a criticar, menina não faça isto é perigoso, não é certo o que os outros vão pensar. Quero enlouquecer sim, fazer o que der na telha.
E como diz a Lyu-Lyu, não gostou bota açúcar..... meu....rs


(Aline)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Lyu




É ... o ser humano nasce sonhando,e não sobrevive sem os sonhos...
Quando pequeninos sonhamos em ser super heróis, princesas, feiticeiras, estar em um salão cheio de chocolates( só pra não deixar de ser gordinha rsrsrs).
Já na adolescência junto com os hormônios mudam-se os sonhos.Agora o must, é o gatinho alto lindo de preferência rico, é o brilho labial sabor morango pra dar o primeiro beijo, o disco do Michael Jacson,o Rick Martin ( e quem não sonhou com ele?), os filmes românticos com final feliz, com final infeliz... O importante mesmo é chorar bastante... Agora não sonhamos mais com a sala de chocolate, engorda ,dá celulite,estrias etc..
O quente mesmo é fazer greve de fome pela paixão platônica, colecionar todas as figurinhas " AMAR É' e pagar todos os micos aos quais a juventude nos reserva o sagrado direito.
Mais tarde, descobrimos que chorar demais dá rugas, e que o Pitangui cobra uma fortuna pra arrumar o estrago. Descobrimos também que o príncipe encantado é aquele baixinho, nem tão bonito,pobre como nós, mas que está ao nosso lado nos apoiando e lutando juntos por um futuro melhor.
O tempo vai passando, e realiza o sonho de ser mãe Ah... mãe, aquele ser superior que abre mão de si para zelar por aquela criancinha frágil que lhe colocam nos braços, e que vai descobrir mais tarde que o paraíso em que ela padece não é tão cheio de glamour como a idéia romântica da maternidade nos faz acreditar.Aliás mãe é aquela criatura que ouve xingamentos e promessas de vingança a cada contrariedade que seus doces monstrinhos enfrentam,sofre com o sofrimento desses mesmos monstrinhos, chora, sorri, sente dor, se apaixona, se revolta, se realiza em ver as suas conquistas com uma fidelidade canina. Ouso dizer que é o maior amor que alguém pode sentir na vida.
Bom, aí sonhamos com a casa própria, com o carro novo, com o armário da cozinha, com o (vestido) pretinho básico de cada dia,com a hora de tirar os sapatos e tomar um bom banho, com o aumento de salário, com o final da novela, e o tempo vai passando e finalmente chega o dia em que do alto dos nossos quarenta finalmente descobrimos que podemos comer todo chocolate que quisermos e que se o príncipe nos quiser será com alguns quilinhos a mais sim, e que pneu, ruga, cabelo branco, celulite faz parte do nosso processo de evolução. Descobrimos nossa verdadeira beleza, descobrimos que não devemos dizer tudo o que pensamos, mas que devemos fazer tudo o que quisermos! Nessa fase da vida levantamos uma plaquinha para toda opressão,preconceito, medo,e outras tantas bobagens com a quais nos acorrentamos pela vida a fora.
Sabem o que diz essa plaquinha?
FODA-SE QUE EU VOU SER FELIZ E SE NÃO GOSTAR, BOTA AÇUCAR MINHA FILHA....PORQUE EUZINHA.... F U I !!!!
(Lyuana)

domingo, 19 de outubro de 2008

Sonhos



Quando era pequena, eu sonhava com o balé, dançava pra lá e pra cá, o dia todo se fosse possível. Sonhava com aquela roupa rosa, sapatilhas de ponta e meu corpo livre sobre as pontas dos pés.
Escolhia as músicas e meu coração voava através do som, meu corpo seria como pluma ao vento, salto e giros em 360 º em torno de mim mesma. Os cabelos presos ao entorno de si mesmo, a faixa que seguraria os pequenos e delicados fios que teimavam e se desprender do coque.
E meu corpo naquela dança ao som dos violinos, muitas vezes só dentro da minha própria cabeça, um e dois, um e dois e na ponta e no solo, na ponta e no solo, meia ponta. Mais tarde quando os meus sonhos de menina não puderam ser concretizados na vida real, aprendi os nomes dos passos que dava, na minha imaginação. Termos em francês, o mesmo francês que eu escolhi aprender na escola.
Os braços estendidos para o alto e meu corpo a saltar e cair nas pontas dos pés, não havia dor nos meus sonhos. E ainda hoje sonho com as sapatilhas surradas que nunca tive para calçá-las e me equilibrar em cima de mim mesma.
Sonhos de criança são os melhores sonhos, eu podia voar de avião de caça, podia ser bailarina, podia ser médica, bancária e até astronauta, tudo era possível e sem pensar no sacrifício da vida da bailarina, nas horas diárias de muito alongamento, se esticar pra lá e pra cá, em pensar que a bailarina não pode ser dar ao luxo de descansar quando seus pés e músculos doem. E que pra ser magrinha e flutuar como pluma, o brigadeiro não vai existir como nos sonhos de criança, onde tudo era brigadeiro, piscinas de coca-cola; batata frita e os hambúrgueres o dia todo.
Nenhum sonho da minha vida hoje tem a cor do sonho de menina, e nem o arrepio que era pensar que podia ficar sobre as pontas dos dedos, ou do tênis como fazia, e olha que doía ficar ali em cima do plástico que acabava por fechar aquele sapato inadequado.
Não me tornei uma bailarina de fato, mas danço ao som da vida, dos meus sonhos tão imaginados e vividos de olhos fechados como se fossem reais. O melhor da vida e dos meus sonhos é que ainda sou a bailarina de roupa rosa que anda sobre as pontas dos pés.
(Aline)






durante muito tempo em minha vida vivi um sonho... pra maior parte das pessoas que ler essa frase, vai achar que minha vida era fantasticamente boa, como podem ser fantasticamente bons os sonhos... mas não era bem assim... não é bem disso que falo... falo de viver uma vida que não tinha consistência de realidade... falo de plainar sobre a minha própria existência sem interferir em sua correnteza... consistência de sonho... distante, em preto e branco... sentimentos esfumaçados, imagens vagas... um sonho do qual não se desperta... uma realidade adormecida... faltando aqueles elos lógicos que existem na realidade, mas que nos sonho não fazem falta... pois os sonhos são assim mesmo, pulam de um cenário a outro... surgem pessoas do nada... outras desaparecem... vivi nesse limiar durante muito tempo, tanto que nem sei quanto... exatamente como quando dormimos e não sabemos se foi meia hora ou uma noite inteira... alguns dias eram pesadelos, outros não... de alguns momentos me lembro, de outros não... mas tudo era oniricamente real... um belo dia, estava em uma dinâmica de grupo em que a pergunta chave era: qual é o seu sonho?... empalideci... muito provavelemnte deve ter ficado visível em minha face o meu desespero... qual era o meu sonho?... se há tanto tempo eu vivia em um sem me preocupar em ter um de verdade... não tinha... não achava resposta... enquanto outras pessoas iam descrevendo viagens, aquisições, relacionamentos, eu não achava nada... meu momento de responder se aproximava e eu tentava avidamente descobrir uma resposta dentro de mim... e não tinha... eu não tinha uma resposta... eu não tinha um sonho... nada que eu quisesse? não exatamente... nada que eu me projetasse com dedicação suficiente para conseguir... quando não pude mais desviar a atenção de mim, a resposta veio óbvia... respondi uma dessas coisas que normalmente as pessoas sonham... não me lembro mais o que foi... mas não faz diferença de fato... não era mesmo o meu sonho... era só uma reposta vazia... assim como vazio era o espaço de meu sonho... não me lembrava como era ter sonho... não sabia o que fazer para ter um... sabia que de alguma forma tinha que querer alguma coisa e... e?... passei muito tempo me perguntando isso... lembrando dos sonhos que já tinha tido na vida... passei a perseguir, não propriamente um sonho, mas a idéia de ter um... acho que quando despertei do meu, consegui... quando descobri que a gente tem que se manter acordada na realidade pra poder sonhar... quando descobri que a gente tem que trabalhar pelo sonho, não apenas adormecer nele... acordei e voltei a sonhar... hoje me dou ao luxo de sonhar acordada... mas sei a diferença entre isso e viver dormindo... da realização dos sonhos, nem sempre consigo... de alguns desisto, por outros luto até o final... mas sonho... e vivo minha realidade... e atuo em minha própria vida... com imagens vivas e sentimentos intensos... meu sonho hoje é ser real!
(Ana)






O que você vai ser quando crescer? Ouvi tantas vezes essa pergunta e tive para ela todas as respostas possíveis, no entendimento de criança: professora, astronauta, cantora, cientista, trapezista, enfim, e já com pouca paciência, grande. Sobre meus sonhos, não lembro de alguém ter me perguntado nunca, nem naquela época nem depois. Mas sonhos nunca me faltaram, desde os mais loucos, como ter um poder mágico qualquer ou achar uma garrafa de gênio, aos mais comuns, como encontrar o príncipe encantado, ter uma dúzia de filhos, viver feliz para sempre. Tão velozes os sonhos e a vida sempre tão devagar, cheia de etapas, provas, calendários, esperas . Uma vez ou outra o tempo do sonho coincidiu com o da vida, na maior parte talvez não. Alguns que pareciam tão facilmente realizáveis pularam de uma hora para outra para a categoria dos impossíveis e esses são os que mais incomodam, então, minha mãe não fará o bolo de meus filhos e não estaremos juntos , todos, numa linda foto.
Mas continuo sonhando e relativamente em paz – uma nova faculdade, morar na beira da praia, aprender a tocar piano, olhar no espelho e me achar o máximo – a mulher de agora não tem dívidas com a menina do passado e isso já é melhor que qualquer sonho, mas eles continuam por aí.
(Neysi)
***A foto das bailarinas é da Grazi Nogueira

sábado, 18 de outubro de 2008

Casas






Gosto de imaginar realidades... realidades virtuais para acolher o ser moderno... quando imagino a minha realidade virtual, imagino uma rua de muitas casas iguais... diferenciadas por pequenos detalhes... imagino, à porta da minha casa virtual, uma grande acácia florida, com seus cachos deflores amarelas soltando, com o vento, pequenas pétalas no chão, colorindo a calçada em frente à minha casa... a casa em si, como todas as outras, tem um espaço na frente... na minha, há um canteiro de flores no centro do chão de cimento, com gerânios, begônias, azaléias e onze-horas coloridas, como na minha infância... no meio do canteiro tem um jasmineiro, que espalha perfume ao cair da noite quando os botões se abrem... junto ao colorido das flores tem sempre borboletas, beija-flores, joaninhas, grilinhos a cantar... nesse jardim fica uma ana, orgulhosa pelo florir de suas plantas... tirando folhasamareladas.... trocando a água dos bebedouros... ou às vezes só olhando a rua... a casa em si é antiga... pé direito alto... três degraus de pedra acima do nível da rua... varandinha com cadeiras de ferro e almofadas verdes... tem porão, tem telhado com forro de madeira... telhas vermelhas, paredes pintadas de azul clarinho... tem pintura descascada em alguns pontos, em outros, infiltração esperando consertar... lá dentro tem também algumas goteiras que já fazem parte do dia-a-dia, já se incorporaram à estrutura da casa... pode-se entrar de duas maneiras... pela porta dafrente, pomposa, duas bandas de madeira, com janelinhas de vidro colorido...ou pelos fundos, atravessando um corredor comprido, ladeado de flores até chegar ao quintal... por onde você prefere entrar?"
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os quartos da minha casa são muitos, tantos que nem sei ao certo... esta ana que escreve percorre a casa à noite, insone, às vezes abrindo e fechando portas à procura de alguma coisa... alguma coisa que guardou e não sabe onde... alguma coisa que deveria estar lá, dentro de sua casa em algum lugar, mas que nem sempre consegue encontrar... tem quartos secretos, quartos de sortilégios e magias, quartos vazios e escuros, quartos com camas de casal e quartos cheios de almofadas e tapetes macios... às vezes abro uma porta que não havia notado, entro, passo a noite lá, observando o caminho da lua... no dia seguinte, tento encontrar novamente o mesmo quarto e já não acho mais... alguma coisa acontece que muda as portas da casa de lugar e eu me perco... tateio pelas paredes procurando os interruptores, procurando as maçanetas e nem sempre acho... às vezes estou muito sonada e acho que é delírio de sonho o que vejo pela casa... sombras, vozes, risos, soluços, passos... mas na minha casa não há outros moradores, só eu... de camisola de algodão até o pé, caminho pela casa, estalando as tábuas do assoalho... e procuro sempre o melhor lugar para passar a noite... às vezes fico na janela até tarde da noite, vendo a rua... às vezes vou passear no quintal e vejo o vôo rasante dos morcegos à procura das frutas... às vezes vou dar boa noite as outras anas que se preparam para dormir... a que mais gosto de visitar é a ana criança em seu quarto cor-de-rosa... sento na cadeira de balanço, canto músicas e leio histórias até que ela adormeça em paz, confiante de que no dia seguinte fará sol e ela poderá brincar no quintal... às vezes paro enrolada numa manta, emqualquer lugar da casa para ver a tempestade de raios e trovões que cai lá fora... aparo as goteiras, já sei onde eles caem... vez por outra aparece uma nova, que me surpreende... cubro os espelhos, guardo os talheres... escuto o vento passando uivando pelas janelas e me protejo... ou tento... nem sempre consigo... nestes muitos quartos da minha casa, noturna, vazia, sem visitas e sem amigos pelo adiantado da hora... eu vago, me procuro e não me acho... me perco em sonhos, pensamentos e aflições.... quando amanhece o dia é justo quando o sono ia chegando... as outras anas vão acordando e movimentando a casa... me chamam para o café e mal sabem que seu sono foi velado por mim... o dia começa e já não há mais tempo para dormir, nem repousar... a lida começa...cada uma tem que estar no seu posto, cada qual com seus afazeres... e ana insone que andou pela casa à noite toda, soma mais uma noite às horas de sono perdidas e espera... pacientemente espera pelo pôr-do-sol na varanda de sua casa...
(Ana)







Tão bonita sua casa virtual, com jardim na frente, piso de tábuas corridas, quintal de terra nos fundos...o barulho da chuva , até as goteiras são simpáticas, imagino a gente correndo com velhas panelas para aparar a água e rindo muito disso tudo. Fiquei pensando como seria a minha casa, invejosa que sou, mas no bom sentido sempre. Imaginei primeiro um gramado com um caminho no meio, cercado de flores rústicas, destas que resistem ao sol e ao vento sem que se precise grandes cuidados.Uma varanda com sombra , bancos de madeira e para quem gosta uma rede colorida (sempre achei bonito uma varanda com rede, mas não gosto muito de ficar nelas, prefiro as cadeiras mesmo). Da varanda a gente vê o mar, e a vista para o mar é o que tem de mais bonito na minha casa, então não é preciso nem entrar, embora as visitas sejam bemvindas.Sente um pouquinho lá comigo de qualquer forma , ou use a rede,como preferir. Fique em silêncio um pouco, olhando o mar. Posso pegar uma cerveja, uma água ou um café, te trazer o jornal ou uma revista destas com fotos de lugares bonitos, viagens que só faremos em sonhos...Poderemos conversar ou não, se quiser te mostro a praia, as casas em volta, a cidade...se preferir entrar, fique à vontade...posso levar um tempo para achar o prato ou o talher certo, mas terei alguma coisa gostosa para a gente comer, com certeza. O cd com a sua música preferida eu acho rapidinho, se quiser ver as fotos daquele dia que passamos juntos também( minha casa virtual tem as fotos que eu nunca pude tirar : a gente criança, os bolos da mãe, a avó passando roupa, ceia de natal, os bichos do Sérgio, as cabanas feitas com lençol...)Tem um cachororro grande e manso...duvida? É só olhar nos olhos dele e você vai ver que é manso, mas se quiser eu prendo, só não estranhe seeu te olhar com desconfiança...custo a confiar em quem não confia em bichos...mas te dou um crédito, prometo. Não , não ia dar certo. Não sou boa nem com casas virtuais, fico só com a varanda e o cachorro, iremos pra lá nas tardes preguiçosas e nas noites de verão. Fora disso prefiro um apartamento pequeno de onde se vê o movimento dos carros, as pessoas andando, as luzes...lá ouviremos música, tomaremos vinho, falaremos bobagens e improvisaremos qualquer coisa para jantar...ou pediremos por e-mail uma pizza virtual...
(Neysi)




Brincando com a Casa da Ana e da Neysi, fiquei pensando em construir a minha casa. Tarefa não muito fácil, já que tive inúmeras casas nos meus primeiros dez anos de vida!
A casa de cada um tem aspectos da casa de seus pais e de sua própria casa, mas como descrever a minha casa!
Como seria a minha casa? Fico sempre imaginando minha casa como uma muito antiga, com a parede metade de pedra e a outra metade pintada a cal, branca. As janelas também recebiam o contorno em pedra, no formato de arco, pedras cinzas. E uma grande grade pra proteger minha morada de estranhos que queiram adentrar sem serem convidados.
A porta era de madeira, sem tinta. Grande, bem grande. Com uma gradinha pequena, a proteger o vitrô, quando a visita batesse palmas, era só abrir a minúscula janelinha e dar uma espiada em que vinha importunar a casa.
Entrando na minha sala, via um espaço muito amplo, nenhum móvel daria conta de preencher todo espaço que tinha ali, o teto era de madeira, pintado em cor gelo, um pouco acinzentado. Nele o lustre era bem simples de luz amarelada, uma lâmpada apenas para uma sala tão grande como aquela. Será que daria conta de iluminar toda aquela grandeza?
Não sei onde estava meu quarto, ele existia e nele acho que tinha uma penteadeira branca, de madeira, bem antiga. Com espelho que brilhava muito. Ali com certeza seria a porta pra me levar a um outro lugar. Duas pequenas gavetinhas guardam uma escova de cabelo que não servia para mim. Suas cerdas não conseguiriam atravessar meus cabelos volumosos.
Minha cama tinha uma coberta bem surrada, com desenhos antiqüíssimos ela era bem macia, ao passar a mão sobre ela minha pele deslizava, por conta da maciez do tecido, era uma sensação prazerosa, como se a coberta acarinhasse meus dedos. De tons quentes, porem desbotados, um pouco de vermelho e laranja, como se fosse um ouro velho. Nada mais existia neste quarto. Além da cama, da penteadeira que me transportaria e eu a refletir no espelho.
Esta casa tem um tanque, que me lembra um que eu já tive. Tão grande e profundo que eu caberia dentro dele, torneiras da cor do cobre, talvez um pouco mais amarelada. A água que caia sobre mim era gelada, mas não fazia minha pele doer e sim adormecer e o tempo ali parava.
Nada vivo acontecia nesta casa, nenhum bichinho de estimação, nenhuma gargalhada de criança. Tudo era silêncio dentro da casa. Talvez só eu morasse ali.
(Aline )