quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Celso


A MINHA CASA


Foi uma viagem longa, confesso, mas nada cansativa. Muitas paradas, muitas reminiscências. Fui, a convite, em busca das muitas casas onde vivi ou passei, o que quer dizer, onde brinquei de viver. Isso acontece, claro!... Encontrei muitos destroços, casas desfiguradas pelos anos, nalgumas só encontrei despojos e abandono... Ressalto a plena conservação da casa onde fui criança...aliás, a mais terna, a mais receptiva.
Percebi, ao vasculhar essas poucas moradas, que só uma casa consegue desbancar o tempo e viver comigo até o meu último dia...só uma casa irá comigo ao mais recôndito lugar da terra...tal qual caracol a levarei comigo... É a minha casa!
A minha casa sou eu, passando por momentos diversos e adversos... A minha casa é o meu aprendizado, as escolas da vida que me acolheram nas diversas estradas... A minha casa é este sonho utópico que insiste em tornar-se vida... A minha casa é cada cômodo de mim mesmo, com sua arquitetura refeita, moldada, melhorada. Cada parede reforçada, amparada, sustentada pelas mãos de parceiros cósmicos que acompanham a jornada... A minha casa é este prazer de beber as palavras do Manoel de Barros e degustar a última gota do vinho... Fui e sou o meu fado... Nesta mesa, ao lado de outros fados, peregrino pela noite, ouvindo, sem enfado, o Fado! A minha casa é o cheiro de manacá que corta os anos e perfuma um quarto de saudade, onde guardei as minhas roupas de menino... Paira no ar, calor e ar parado, alguma dama da noite perfumando a madrugada que não vivi. Ah! Sim, a minha casa... Eu sou a minha casa entranhada em mim, levando-a para todos os recantos onde piso, conseguindo a maravilha de colocá-la dentro de outras casas, cascas que são.
A minha casa é um poço de ternura a velar o sono de minha filha, esta cortina a esconder o sorriso sensual da parceira. No mais, é, simplesmente, a minha casa, os meus versos, as minhas lágrimas. Cada tijolo desta casa tem um quê de vontade e verdade entrelaçado, testemunha da contínua busca do caminho justo e bom. A minha casa... a minha casa....
A minha casa nada tem de especial, senão a maravilha de existir e, milagrosamente, caber numa minúscula folha de papel.
(Celso)

domingo, 26 de outubro de 2008

Desconstruindo Castelos


já que o amor ainda era só meu, o construi como eu quis... com fino acabamento e ostentosa estrutura, dignos do meu grande amor por vc... sobre a mais alta montanha, para te elevar acima das nuvens, com vista para o lindo mar azul, para encantar as tuas manhãs, e bem perto da natureza selvagem, para te encher de ar puro e refrescante... projetava-se harmoniosamente, emoldurada pela bela paisagem, a morada do meu amor... depois de terminada, fechei a porta e ofereci as chaves a você... você não quis e as chaves se perderam entre a relva e as pedras do caminho, igual a mim, perdida, trancada do lado de fora da morada que eu mesma construi...sozinha, no alto da montanha, à beira do penhasco, de frente para o grande mar e com a floresta às minhas costas... perdida sem as chaves de mim mesma... toda grandiosidade da minha construção, me fez insignificante pequena... e o amor jamais deixou de ser só meu... comecei, então, a desconstruí-lo do meu jeito... cada ausência do olhar que não lhe mando é um acabamento que se desfaz... cada palavra que cala sem ser dita é um tijolo que retiro das paredes... cada frase que escrevo deste amor maldito é uma pedra que removo de sua estrutura... estou juntando todo o entulho mal quisto e ainda não sei bem o que fazer com ele... mas já estou no fim trabalhosa des-empreitada... depois que acabar, vou voltar para a praia, vou dormir ao relento e nas épocas de chuva, construirei uma modesta cabana de palha onde só caiba a mim mesma... nada suntuoso, nada majestoso.. vou viver comigo mesma na minha própria simplicidade... sem castelo, sem amor e ao nível do mar... e serei feliz assim...
(Ana)


O que faz nosso coração entrar por um mar revolto? Porque será que nós nos apaixonamos perdidamente por alguém que não nos percebe como realmente somos, e a partir daí o nosso amor passa a ser solitário?
Quem na vida já amou e não foi correspondido? Quem não sofreu por amor na vida?
O que fazemos quando nosso sentimento vira o Mal que nos aflige? Tantas perguntas pela estrada da vida, no mar revolto onde o barco bate sozinho nas ondas, e elas são tão opressoras, fortes, gigantescas. Fazem nosso barquinho parecer papel, parece que vamos diluir diante de tanta água e o frio que se sente ao estar neste mar sozinho, sem perceber onde vamos parar.
Não me lembro quantas vezes o amor nasceu e acabou dentro de mim! Sei que em todas às vezes, que o sentimento não foi possível, adubado, o Amor passou a corroer tudo de bom, mas aos poucos as ondas foram diminuindo, o mar serenou e consegui olhar de volta para o porto seguro. O farol ao longe me apontava uma direção a seguir.
E fui a olhar as estrelas que surgiam dentro de mim na direção da luz, luz que acredito que estava ali há muito tempo, só que ao sentir todo aquele turbilhão de dor, não via nada além do meu sofrer.
Meu barco foi se aproximando mais de mim e eu pude ver luz em tudo, sentir esta luz sair por meus poros, e aquecer onde antes só havia frio, onde o silêncio da dor me fazia perceber só as lágrimas, que desciam da minha alma.
O barco aportou e tudo passou, até o próximo amor, até a próxima invernada. Ainda bem que podemos amar e sermos amada por diversas vezes na vida. E quando o barco está pronto para navegar, não existiram amarras a segurá-lo no cais.
(Aline)




Prometi falar tudo e foi de coração, sem dedos cruzados nem palavras tortas. Bem que eu queria dizer que o amor comeu minha língua, mas é mentira. Também não seria justo culpar o tédio, esse grande devorador. Quem sabe a perigosa sorte de um amor tranqüilo – e lá vem de novo a bailarina delicada, seus pés com asas, o mundo sem dor – e nenhum veneno anti-monotonia. Mas não, é que falar de amor é difícil, viver o amor mais difícil ainda. Tem que ir num fôlego só, num pulo, ou num tropeço. Num tropeço, tai, talvez assim saia, esse texto meio louco.
Ah, tudo que já se falou do amor não serviu para nada. O amor lá é besta de se deixar aprisionar, catalogar, dissecar? Ama melhor quem escreve versos, chora um oceano, seca o bar ou faz uma palestra para uma platéia sedenta de frases de efeito?Amor, bicho doido, do contra, moleque. Impossível?Que venha assim mesmo e nos leve junto, com sua natureza de selva, livre e são. Que nos atravesse então, pois amor não se prende, não se doma, não se aprende...nem amando.
**agradecendo a João Cabral, Cazuza, Drummond e aos poetas, que se não tornam o amor mais fácil, nos fazem menos solitários...
(Neysi)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Quero enlouquecer!

Inimigo a espreita.

Quando algo dentro de mim se levanta como hoje, vejo que o maior inimigo que posso ter sou eu mesma.
Acordo achando que não tenho valor nenhum, que sou tão pequena como um grão de areia no meio do deserto. Tenho pensamentos miúdos, mesquinhos que nem parece saído de uma pessoa legal. E eu sei que sou legal, mas que lado ruim é este meu?
Ele quer ser alimentado de fúria, de ódio, de sentimentos pequenos. Onde a felicidade plantada ali, vai murchar.
Tem um provérbio que diz que o cão que alimentamos mais é o que se destacará dentro de nós. E hoje o cão que despertou é o Mau, aquele que ronda a rosnar e babar circulando a presa.
A presa, no entanto sou eu mesma. Perdida e indefesa, sem nem ter força pra levantar e correr pra algum lugar seguro.
Não tem nada de hormonal neste estágio. Talvez até possa ser espiritual, mas quando o Lobo Mau se aproxima a chapeuzinho vermelho tem que correr. No momento só não sei para onde!
(Aline)







Ser Má

sou realmente uma farsa, não resta mais dúvida, não há mais há quem enganar... não sou nem de longe o que gostaria, não sou nem de longe o que faço de conta que sou... quero sim ser o centro mundo de alguém... fonte de energia heliocêntrica... que esquenta, que dá vida... gravidade que quer o mundo a sua volta... quero um amor que me ame com a mesma dedicação da qual sou capaz de amar alguém... quero serviço, disponibilidade, prisão voluntária... por que me escondo naquilo que procuro, se não é o que desejo? por que ofereço o que não tenho? por que quero mais do que me dão, do que me deram até hoje? quero ser inspiração de poesia, fonte de admiração, não quero ser sozinha, me envergonho de não ser o que sei que deveria, o que sei que é o certo, o que tenho consciência de que seria o melhor, mas que não consigo ser, sou uma farsa.... me mato todos os dias um pouco pra não ser mais quem eu sou, pra renascer em outra mulher, em outra vida, não queria ser tão boa aos olhos de ninguém, queria a imperfeição, desde que fosse adorada por alguém, clamada, essencial e não sou... não sou nada disso... fazer o que é certo é mais fácil do que ser errada, torta, do jeito que sou... por que não sou eu mesma? nunca... te odeio tanto, odeio o mundo, odeio quem me vê assim tão boa, quem me força a ser assim tão nobre porque merecem de mim minha nobreza, queria ser escória e não me importar e só ter quem se importasse comigo, mas eu, com mais ninguém... tomo conta da minha dor e da dos outros, sufoco o que sinto pra proteger o que é do outro, o espaço do outro, não quero mais, quero ser ruim, exigente... quero ser má!

(Ana)








Boazinha

Rosto redondo e voz baixa. Poucas palavras porque nunca fui de jogar conversa fora. Notas boas no colégio, então não há espaço para dúvida : boazinha, ponto final. Está colado o rótulo, não adianta espernear, acender um cigarro, , vestir roupas pretas ou pintar as unhas de vermelho sangue, é boazinha e pronto. E acredite, eu não gosto de usar preto, sou colorida, solar e não sei fazer cara de má. Não convenço mesmo. Mas sei dizer não e com o tempo a gente aprende a suportar as conseqüências. Não entendeu? Já ouviu um não de uma pessoa boazinha? Um insulto, um absurdo, ofensa grave, traição. Sabe o que acontece depois? Pois é...

Já me incomodou, hoje acho engraçado, devo ser má pois às vezes até me divirto com o susto dos abusados. Não sei dizer se sou boa, má , simpática ou esnobe. Já ouvi de tudo e dependendo da ocasião acho o máximo ou um saco, de um modo geral tanto faz. Não vou mudar para te agradar, pode ficar tranqüilo. Bem resolvida? Nem tanto. Tem dia que acordo mal, tudo que eu quero é sumir, mas não tem jeito, não tem saída, tem dois adolescentes aqui para educar, manter , etc. Tem a vida que não vai parar para eu superar minhas crises, as contas vão chegar de qualquer maneira...então cara pra rua...mas é duro. Um leão por dia? Uma fila deles, turno da manhã e da tarde...vamos fugir , baby, outro lugar...

Também já me senti fragmentada, um monte de tontas que não combinam entre si , quase nunca sabem onde deveriam estar, qual a personagem da vez. Já achei isso muito ruim, mas hoje, que carrego todas comigo em para qualquer lugar que vou - e não é porque eu queira, é porque não tem outro jeito - me sinto pesada e queria me livrar de algumas. Quer saber, andar com você numa cidade grande, sem nome, sem diploma, sem rumo, é tudo que eu queria a maior parte das vezes. Vamos?


(Neysi)







Quero enlouquecer!


Deixe-me enlouquecer, eu suplico!
Quero tinta azul no cabelo, quero piercing nas orelhas, no nariz, quero meu piercing de volta no umbigo! Quero mais tatuagens pelo corpo, por todo ele! Quero cantar, andar de mini-saia, quero andar sem roupa, de pijamas pelo meio da rua.
Permita-me enlouquecer! Quero bala com sabor de tamarindo, quero gosto de aventura na boca, pular de bung jump, saltar de pára-quedas. Quero voar de asa delta, surfar em alto mar, furar onda e não ter medo.
Preciso enlouquecer, preciso me arriscar, fazer bolo em formato de guarda-chuva pra dia de sol. Quero um mundo maluco e colorido, quero todas as dimensões numa só, nesta que vivemos, quero tudo em 3D. Quero cheiro de chuva chegando todos os dias pela janela, pular na poça d´água e nem ficar resfriada, andar de bicicleta e nem me cansar, comer até estourar.
Ah! Me deixa enlouquecer vai! Piscina de bolinha com escorregador gigante, montanha russa, maior que elefante! Subir a jato e ir à lua, ver tudo do meio da rua. Ouvir música e cantar alto, e saber que nem tenho vizinho e posso gritar e ninguém incomodar.
Ver filme de amor e chorar, sem sentir vergonha, gargalhar e gargalhar! Me deixa vai, só um pouquinho de loucura, não vai matar.
Imaginar que vou a Paris e a Noruega ao mesmo tempo, frio e calor, simpático e parassimpático sem a sensação de morrer. Tudo funcionando ao mesmo tempo. Relógio andando pra trás, e eu ficando mais nova e mais magra, comendo e “descomendo”, vivendo e morrendo. Não ter limites e só sonhar. Não ter mãe, não ter pai, ninguém a criticar, menina não faça isto é perigoso, não é certo o que os outros vão pensar. Quero enlouquecer sim, fazer o que der na telha.
E como diz a Lyu-Lyu, não gostou bota açúcar..... meu....rs


(Aline)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Lyu




É ... o ser humano nasce sonhando,e não sobrevive sem os sonhos...
Quando pequeninos sonhamos em ser super heróis, princesas, feiticeiras, estar em um salão cheio de chocolates( só pra não deixar de ser gordinha rsrsrs).
Já na adolescência junto com os hormônios mudam-se os sonhos.Agora o must, é o gatinho alto lindo de preferência rico, é o brilho labial sabor morango pra dar o primeiro beijo, o disco do Michael Jacson,o Rick Martin ( e quem não sonhou com ele?), os filmes românticos com final feliz, com final infeliz... O importante mesmo é chorar bastante... Agora não sonhamos mais com a sala de chocolate, engorda ,dá celulite,estrias etc..
O quente mesmo é fazer greve de fome pela paixão platônica, colecionar todas as figurinhas " AMAR É' e pagar todos os micos aos quais a juventude nos reserva o sagrado direito.
Mais tarde, descobrimos que chorar demais dá rugas, e que o Pitangui cobra uma fortuna pra arrumar o estrago. Descobrimos também que o príncipe encantado é aquele baixinho, nem tão bonito,pobre como nós, mas que está ao nosso lado nos apoiando e lutando juntos por um futuro melhor.
O tempo vai passando, e realiza o sonho de ser mãe Ah... mãe, aquele ser superior que abre mão de si para zelar por aquela criancinha frágil que lhe colocam nos braços, e que vai descobrir mais tarde que o paraíso em que ela padece não é tão cheio de glamour como a idéia romântica da maternidade nos faz acreditar.Aliás mãe é aquela criatura que ouve xingamentos e promessas de vingança a cada contrariedade que seus doces monstrinhos enfrentam,sofre com o sofrimento desses mesmos monstrinhos, chora, sorri, sente dor, se apaixona, se revolta, se realiza em ver as suas conquistas com uma fidelidade canina. Ouso dizer que é o maior amor que alguém pode sentir na vida.
Bom, aí sonhamos com a casa própria, com o carro novo, com o armário da cozinha, com o (vestido) pretinho básico de cada dia,com a hora de tirar os sapatos e tomar um bom banho, com o aumento de salário, com o final da novela, e o tempo vai passando e finalmente chega o dia em que do alto dos nossos quarenta finalmente descobrimos que podemos comer todo chocolate que quisermos e que se o príncipe nos quiser será com alguns quilinhos a mais sim, e que pneu, ruga, cabelo branco, celulite faz parte do nosso processo de evolução. Descobrimos nossa verdadeira beleza, descobrimos que não devemos dizer tudo o que pensamos, mas que devemos fazer tudo o que quisermos! Nessa fase da vida levantamos uma plaquinha para toda opressão,preconceito, medo,e outras tantas bobagens com a quais nos acorrentamos pela vida a fora.
Sabem o que diz essa plaquinha?
FODA-SE QUE EU VOU SER FELIZ E SE NÃO GOSTAR, BOTA AÇUCAR MINHA FILHA....PORQUE EUZINHA.... F U I !!!!
(Lyuana)

domingo, 19 de outubro de 2008

Sonhos



Quando era pequena, eu sonhava com o balé, dançava pra lá e pra cá, o dia todo se fosse possível. Sonhava com aquela roupa rosa, sapatilhas de ponta e meu corpo livre sobre as pontas dos pés.
Escolhia as músicas e meu coração voava através do som, meu corpo seria como pluma ao vento, salto e giros em 360 º em torno de mim mesma. Os cabelos presos ao entorno de si mesmo, a faixa que seguraria os pequenos e delicados fios que teimavam e se desprender do coque.
E meu corpo naquela dança ao som dos violinos, muitas vezes só dentro da minha própria cabeça, um e dois, um e dois e na ponta e no solo, na ponta e no solo, meia ponta. Mais tarde quando os meus sonhos de menina não puderam ser concretizados na vida real, aprendi os nomes dos passos que dava, na minha imaginação. Termos em francês, o mesmo francês que eu escolhi aprender na escola.
Os braços estendidos para o alto e meu corpo a saltar e cair nas pontas dos pés, não havia dor nos meus sonhos. E ainda hoje sonho com as sapatilhas surradas que nunca tive para calçá-las e me equilibrar em cima de mim mesma.
Sonhos de criança são os melhores sonhos, eu podia voar de avião de caça, podia ser bailarina, podia ser médica, bancária e até astronauta, tudo era possível e sem pensar no sacrifício da vida da bailarina, nas horas diárias de muito alongamento, se esticar pra lá e pra cá, em pensar que a bailarina não pode ser dar ao luxo de descansar quando seus pés e músculos doem. E que pra ser magrinha e flutuar como pluma, o brigadeiro não vai existir como nos sonhos de criança, onde tudo era brigadeiro, piscinas de coca-cola; batata frita e os hambúrgueres o dia todo.
Nenhum sonho da minha vida hoje tem a cor do sonho de menina, e nem o arrepio que era pensar que podia ficar sobre as pontas dos dedos, ou do tênis como fazia, e olha que doía ficar ali em cima do plástico que acabava por fechar aquele sapato inadequado.
Não me tornei uma bailarina de fato, mas danço ao som da vida, dos meus sonhos tão imaginados e vividos de olhos fechados como se fossem reais. O melhor da vida e dos meus sonhos é que ainda sou a bailarina de roupa rosa que anda sobre as pontas dos pés.
(Aline)






durante muito tempo em minha vida vivi um sonho... pra maior parte das pessoas que ler essa frase, vai achar que minha vida era fantasticamente boa, como podem ser fantasticamente bons os sonhos... mas não era bem assim... não é bem disso que falo... falo de viver uma vida que não tinha consistência de realidade... falo de plainar sobre a minha própria existência sem interferir em sua correnteza... consistência de sonho... distante, em preto e branco... sentimentos esfumaçados, imagens vagas... um sonho do qual não se desperta... uma realidade adormecida... faltando aqueles elos lógicos que existem na realidade, mas que nos sonho não fazem falta... pois os sonhos são assim mesmo, pulam de um cenário a outro... surgem pessoas do nada... outras desaparecem... vivi nesse limiar durante muito tempo, tanto que nem sei quanto... exatamente como quando dormimos e não sabemos se foi meia hora ou uma noite inteira... alguns dias eram pesadelos, outros não... de alguns momentos me lembro, de outros não... mas tudo era oniricamente real... um belo dia, estava em uma dinâmica de grupo em que a pergunta chave era: qual é o seu sonho?... empalideci... muito provavelemnte deve ter ficado visível em minha face o meu desespero... qual era o meu sonho?... se há tanto tempo eu vivia em um sem me preocupar em ter um de verdade... não tinha... não achava resposta... enquanto outras pessoas iam descrevendo viagens, aquisições, relacionamentos, eu não achava nada... meu momento de responder se aproximava e eu tentava avidamente descobrir uma resposta dentro de mim... e não tinha... eu não tinha uma resposta... eu não tinha um sonho... nada que eu quisesse? não exatamente... nada que eu me projetasse com dedicação suficiente para conseguir... quando não pude mais desviar a atenção de mim, a resposta veio óbvia... respondi uma dessas coisas que normalmente as pessoas sonham... não me lembro mais o que foi... mas não faz diferença de fato... não era mesmo o meu sonho... era só uma reposta vazia... assim como vazio era o espaço de meu sonho... não me lembrava como era ter sonho... não sabia o que fazer para ter um... sabia que de alguma forma tinha que querer alguma coisa e... e?... passei muito tempo me perguntando isso... lembrando dos sonhos que já tinha tido na vida... passei a perseguir, não propriamente um sonho, mas a idéia de ter um... acho que quando despertei do meu, consegui... quando descobri que a gente tem que se manter acordada na realidade pra poder sonhar... quando descobri que a gente tem que trabalhar pelo sonho, não apenas adormecer nele... acordei e voltei a sonhar... hoje me dou ao luxo de sonhar acordada... mas sei a diferença entre isso e viver dormindo... da realização dos sonhos, nem sempre consigo... de alguns desisto, por outros luto até o final... mas sonho... e vivo minha realidade... e atuo em minha própria vida... com imagens vivas e sentimentos intensos... meu sonho hoje é ser real!
(Ana)






O que você vai ser quando crescer? Ouvi tantas vezes essa pergunta e tive para ela todas as respostas possíveis, no entendimento de criança: professora, astronauta, cantora, cientista, trapezista, enfim, e já com pouca paciência, grande. Sobre meus sonhos, não lembro de alguém ter me perguntado nunca, nem naquela época nem depois. Mas sonhos nunca me faltaram, desde os mais loucos, como ter um poder mágico qualquer ou achar uma garrafa de gênio, aos mais comuns, como encontrar o príncipe encantado, ter uma dúzia de filhos, viver feliz para sempre. Tão velozes os sonhos e a vida sempre tão devagar, cheia de etapas, provas, calendários, esperas . Uma vez ou outra o tempo do sonho coincidiu com o da vida, na maior parte talvez não. Alguns que pareciam tão facilmente realizáveis pularam de uma hora para outra para a categoria dos impossíveis e esses são os que mais incomodam, então, minha mãe não fará o bolo de meus filhos e não estaremos juntos , todos, numa linda foto.
Mas continuo sonhando e relativamente em paz – uma nova faculdade, morar na beira da praia, aprender a tocar piano, olhar no espelho e me achar o máximo – a mulher de agora não tem dívidas com a menina do passado e isso já é melhor que qualquer sonho, mas eles continuam por aí.
(Neysi)
***A foto das bailarinas é da Grazi Nogueira

sábado, 18 de outubro de 2008

Casas






Gosto de imaginar realidades... realidades virtuais para acolher o ser moderno... quando imagino a minha realidade virtual, imagino uma rua de muitas casas iguais... diferenciadas por pequenos detalhes... imagino, à porta da minha casa virtual, uma grande acácia florida, com seus cachos deflores amarelas soltando, com o vento, pequenas pétalas no chão, colorindo a calçada em frente à minha casa... a casa em si, como todas as outras, tem um espaço na frente... na minha, há um canteiro de flores no centro do chão de cimento, com gerânios, begônias, azaléias e onze-horas coloridas, como na minha infância... no meio do canteiro tem um jasmineiro, que espalha perfume ao cair da noite quando os botões se abrem... junto ao colorido das flores tem sempre borboletas, beija-flores, joaninhas, grilinhos a cantar... nesse jardim fica uma ana, orgulhosa pelo florir de suas plantas... tirando folhasamareladas.... trocando a água dos bebedouros... ou às vezes só olhando a rua... a casa em si é antiga... pé direito alto... três degraus de pedra acima do nível da rua... varandinha com cadeiras de ferro e almofadas verdes... tem porão, tem telhado com forro de madeira... telhas vermelhas, paredes pintadas de azul clarinho... tem pintura descascada em alguns pontos, em outros, infiltração esperando consertar... lá dentro tem também algumas goteiras que já fazem parte do dia-a-dia, já se incorporaram à estrutura da casa... pode-se entrar de duas maneiras... pela porta dafrente, pomposa, duas bandas de madeira, com janelinhas de vidro colorido...ou pelos fundos, atravessando um corredor comprido, ladeado de flores até chegar ao quintal... por onde você prefere entrar?"
....
os quartos da minha casa são muitos, tantos que nem sei ao certo... esta ana que escreve percorre a casa à noite, insone, às vezes abrindo e fechando portas à procura de alguma coisa... alguma coisa que guardou e não sabe onde... alguma coisa que deveria estar lá, dentro de sua casa em algum lugar, mas que nem sempre consegue encontrar... tem quartos secretos, quartos de sortilégios e magias, quartos vazios e escuros, quartos com camas de casal e quartos cheios de almofadas e tapetes macios... às vezes abro uma porta que não havia notado, entro, passo a noite lá, observando o caminho da lua... no dia seguinte, tento encontrar novamente o mesmo quarto e já não acho mais... alguma coisa acontece que muda as portas da casa de lugar e eu me perco... tateio pelas paredes procurando os interruptores, procurando as maçanetas e nem sempre acho... às vezes estou muito sonada e acho que é delírio de sonho o que vejo pela casa... sombras, vozes, risos, soluços, passos... mas na minha casa não há outros moradores, só eu... de camisola de algodão até o pé, caminho pela casa, estalando as tábuas do assoalho... e procuro sempre o melhor lugar para passar a noite... às vezes fico na janela até tarde da noite, vendo a rua... às vezes vou passear no quintal e vejo o vôo rasante dos morcegos à procura das frutas... às vezes vou dar boa noite as outras anas que se preparam para dormir... a que mais gosto de visitar é a ana criança em seu quarto cor-de-rosa... sento na cadeira de balanço, canto músicas e leio histórias até que ela adormeça em paz, confiante de que no dia seguinte fará sol e ela poderá brincar no quintal... às vezes paro enrolada numa manta, emqualquer lugar da casa para ver a tempestade de raios e trovões que cai lá fora... aparo as goteiras, já sei onde eles caem... vez por outra aparece uma nova, que me surpreende... cubro os espelhos, guardo os talheres... escuto o vento passando uivando pelas janelas e me protejo... ou tento... nem sempre consigo... nestes muitos quartos da minha casa, noturna, vazia, sem visitas e sem amigos pelo adiantado da hora... eu vago, me procuro e não me acho... me perco em sonhos, pensamentos e aflições.... quando amanhece o dia é justo quando o sono ia chegando... as outras anas vão acordando e movimentando a casa... me chamam para o café e mal sabem que seu sono foi velado por mim... o dia começa e já não há mais tempo para dormir, nem repousar... a lida começa...cada uma tem que estar no seu posto, cada qual com seus afazeres... e ana insone que andou pela casa à noite toda, soma mais uma noite às horas de sono perdidas e espera... pacientemente espera pelo pôr-do-sol na varanda de sua casa...
(Ana)







Tão bonita sua casa virtual, com jardim na frente, piso de tábuas corridas, quintal de terra nos fundos...o barulho da chuva , até as goteiras são simpáticas, imagino a gente correndo com velhas panelas para aparar a água e rindo muito disso tudo. Fiquei pensando como seria a minha casa, invejosa que sou, mas no bom sentido sempre. Imaginei primeiro um gramado com um caminho no meio, cercado de flores rústicas, destas que resistem ao sol e ao vento sem que se precise grandes cuidados.Uma varanda com sombra , bancos de madeira e para quem gosta uma rede colorida (sempre achei bonito uma varanda com rede, mas não gosto muito de ficar nelas, prefiro as cadeiras mesmo). Da varanda a gente vê o mar, e a vista para o mar é o que tem de mais bonito na minha casa, então não é preciso nem entrar, embora as visitas sejam bemvindas.Sente um pouquinho lá comigo de qualquer forma , ou use a rede,como preferir. Fique em silêncio um pouco, olhando o mar. Posso pegar uma cerveja, uma água ou um café, te trazer o jornal ou uma revista destas com fotos de lugares bonitos, viagens que só faremos em sonhos...Poderemos conversar ou não, se quiser te mostro a praia, as casas em volta, a cidade...se preferir entrar, fique à vontade...posso levar um tempo para achar o prato ou o talher certo, mas terei alguma coisa gostosa para a gente comer, com certeza. O cd com a sua música preferida eu acho rapidinho, se quiser ver as fotos daquele dia que passamos juntos também( minha casa virtual tem as fotos que eu nunca pude tirar : a gente criança, os bolos da mãe, a avó passando roupa, ceia de natal, os bichos do Sérgio, as cabanas feitas com lençol...)Tem um cachororro grande e manso...duvida? É só olhar nos olhos dele e você vai ver que é manso, mas se quiser eu prendo, só não estranhe seeu te olhar com desconfiança...custo a confiar em quem não confia em bichos...mas te dou um crédito, prometo. Não , não ia dar certo. Não sou boa nem com casas virtuais, fico só com a varanda e o cachorro, iremos pra lá nas tardes preguiçosas e nas noites de verão. Fora disso prefiro um apartamento pequeno de onde se vê o movimento dos carros, as pessoas andando, as luzes...lá ouviremos música, tomaremos vinho, falaremos bobagens e improvisaremos qualquer coisa para jantar...ou pediremos por e-mail uma pizza virtual...
(Neysi)




Brincando com a Casa da Ana e da Neysi, fiquei pensando em construir a minha casa. Tarefa não muito fácil, já que tive inúmeras casas nos meus primeiros dez anos de vida!
A casa de cada um tem aspectos da casa de seus pais e de sua própria casa, mas como descrever a minha casa!
Como seria a minha casa? Fico sempre imaginando minha casa como uma muito antiga, com a parede metade de pedra e a outra metade pintada a cal, branca. As janelas também recebiam o contorno em pedra, no formato de arco, pedras cinzas. E uma grande grade pra proteger minha morada de estranhos que queiram adentrar sem serem convidados.
A porta era de madeira, sem tinta. Grande, bem grande. Com uma gradinha pequena, a proteger o vitrô, quando a visita batesse palmas, era só abrir a minúscula janelinha e dar uma espiada em que vinha importunar a casa.
Entrando na minha sala, via um espaço muito amplo, nenhum móvel daria conta de preencher todo espaço que tinha ali, o teto era de madeira, pintado em cor gelo, um pouco acinzentado. Nele o lustre era bem simples de luz amarelada, uma lâmpada apenas para uma sala tão grande como aquela. Será que daria conta de iluminar toda aquela grandeza?
Não sei onde estava meu quarto, ele existia e nele acho que tinha uma penteadeira branca, de madeira, bem antiga. Com espelho que brilhava muito. Ali com certeza seria a porta pra me levar a um outro lugar. Duas pequenas gavetinhas guardam uma escova de cabelo que não servia para mim. Suas cerdas não conseguiriam atravessar meus cabelos volumosos.
Minha cama tinha uma coberta bem surrada, com desenhos antiqüíssimos ela era bem macia, ao passar a mão sobre ela minha pele deslizava, por conta da maciez do tecido, era uma sensação prazerosa, como se a coberta acarinhasse meus dedos. De tons quentes, porem desbotados, um pouco de vermelho e laranja, como se fosse um ouro velho. Nada mais existia neste quarto. Além da cama, da penteadeira que me transportaria e eu a refletir no espelho.
Esta casa tem um tanque, que me lembra um que eu já tive. Tão grande e profundo que eu caberia dentro dele, torneiras da cor do cobre, talvez um pouco mais amarelada. A água que caia sobre mim era gelada, mas não fazia minha pele doer e sim adormecer e o tempo ali parava.
Nada vivo acontecia nesta casa, nenhum bichinho de estimação, nenhuma gargalhada de criança. Tudo era silêncio dentro da casa. Talvez só eu morasse ali.
(Aline )