segunda-feira, 11 de janeiro de 2010



O Sapo e a Sapa.

Quando eu era criança, eu ouvia pequenas histórias de princesas e sapos. Hoje já adulta fico pensando que eu sou uma Sapa, não uma rã ou perereca; uma sapa mesmo. Sabe me sinto como se estivesse sentada na beira da fonte, com meu sapo ao lado. Ele esperando que eu me torne uma princesa e eu que ele vire um príncipe, mas ambos sendo apenas sapo e sapa.
Os beiços dos sapos se tocam, mas não há transformação alguma, nem eu viro a princesa dos sonhos e nem ele deixa de ser sapo.
Vou vendo as borboletas sobrevoando, faceiras a voar por perto, acho que talvez elas também esperem que nós por encanto nos transformemos, mas se um dia fomos encantados já esquecemos o segredo que nos transformaria novamente em seres nobres. Ficamos coaxando feito sapo mesmo, sem entendermos o tal segredo, sem entendermos o que cada um de nós fala.
O amor está ali, sentindo a angústia de não conseguir ser como nos contos, sentindo a brisa, o sol e tendo que se virar sendo sapos, sem conseguir mudar a realidade que sentimos a nosso redor.
Será que vale a pena ser princesa? Nunca fui! Sempre fui meio ogro, meio sapo, um bicho estranho que não se enquadra nos parâmetros da realidade sublime.
Todo mundo fica esperando que eu me torne a princesa, eu também ainda espero isto, mas acho que não tenho vocação pra princesa não; minhas mãos estão secas pelas tarefas diárias da casa, não há creme que as façam macias como as das princesas.
Tento transformar minha história de vida em conto de fadas; tenho até uma trajetória que poderia ser de gata borralheira, mas que ficou bem longe, lá no passado, mas princesa? Não, eu acho que não vai passar de desejo, de sonhos de uma menina que às vezes da às caras dentro desta sapa aqui.
Queria um pozinho mágico de pirlim pim pim, para transformar a dura realidade de viver na lagoa fria como uma sapa, que sonha em ser princesa.
(Aline)




Tudo muda sempre para melhor. Na hora H aparece a fada madrinha, o príncipe encantado, até o patinho esquisito vira cisne, a fera vira príncipe, por que então isso não acontece com ela? Até aquela lagarta estúpida virou borboleta,anda voando por aí magérrima, com aquelas asas super fashion. O quê? Já morreu? Tão nova coitada! Bem feito!Quem manda ser tão exibida. Um dia isso também vai acontecer com ela,a Dona Sapa.
O quê? Morrer? Claro que não seu distraído, virar princesa! Não contaram para você? Príncipes beijam sapas e elas se transformam em princesas! O quê? É ao contrário? Deixa de ser estúpido, seu sapo verrugento! Que princesa ia querer beijar você!
Princesas são finas, delicadas, sentem uma ervilha debaixo de mil colchões. Por acaso iam querer beijar você?
E Dona Sapa esperava na beira da fonte, comendo mosquitos enquantoobservava ao longe as luzes do castelo.
Seu Sapo também reclamava, onde já se viu, uma sapa gorda que só,querendo que um príncipe a beije. Príncipe não está nem aí para isso,príncipe quer aventura,conquista, entendeu gorducha? É assim que funciona: a gente salva a donzela da torre, casa com ela, bota ela noutra torre e vamos procurar outra princesa...
A gente quem seu besta? Por acaso alguma princesa já beijou você,ô Cururu barrigudo?
Enquanto isso, nos aposentos reais, príncipe e princesa fingem que dormem. Ouvem o barulho dos sapos e ficam pensando como deve ser boa a vida na Sapolândia.
(Neysi)




vivi algum tempo acreditando em contos de fadas, depois achei que tudo era bobagem que não acontecia na vida real... até ser beijada por um príncipe e minha vida se transformou... não foi um príncipe tradicional, não me jurou amor eterno e o que teve de verdadeiro entre a gente foi realmente o beijo ... e foi só... e foi tudo...sem promessas ou compromissos,mas com todas as sensações que um beijo transformador poderia trazer, mais do que o suficiente pra encher de magia a minha vida novamente... voltei acreditar no impossível, ou melhor, voltei a acreditar em mim mesma... se estava sapa eu não sei dizer, mas que me transformei após aquele beijo, sem dúvida... não em princesa, mas em rainha, rainha da minha própria vida... sem castelos ou coroas, riquezas ou criados, vestidos ou jóias... não fiquei mais linda ou menos feia, mas me senti em muitos anos eu mesma... capaz de ser e de viver além do que era esperado, pelos outros e por mim... capaz de me arriscar... de me oferecer ao beijo transformador e de me permitir todas as transformações que me eram possíveis e nas quais eu não acreditava que poderiam ser reais... me tornei capaz de sentir e passei a dar valor a isso, mesmo que às vezes o sentimento seja a tristeza... é melhor que não sentir nada... ainda tenho meus dias de sapa, quem não os tem? mas não deixei de acreditar que transformações são possíveis e hoje dependo muito menos de príncipes pra me ensinarem isso... a maior transformação é aquela que operamos dentro de nós mesmos, beijando a nossa própria alma soberana...
alma soberana,mas por tantas vezes,adormecida... hoje, eu vivo no limbo, entre a saparia e a realeza, vivo num mundo muito mais duro, o de gente comum, cuja realidade não se imagina, se vive e pronto, tentando fazer o que é certo... como em todo conto de fadas, há o lado da princesa, o lado do sapo e o lado de quem simplesmente lê a história... esse eu sei que eu não quero mais, agora estou do lado de quem escreve, rs... e a magia da transformação? que fique nos olhos de quem observa e nos gestos de quem a realiza...
(Ana)

Nenhum comentário: