quinta-feira, 14 de abril de 2011



em minha casa, sempre teve imagens de santos, velas acesas, palha benta queimando em dias de chuva forte... minha mãe rezava ajoelhada, fervorosamente, às vezes chorando, quase sempre pedindo alguma coisa pra algum de nós... ela me ensinou a rezar antes de dormir, com deus me deito, com deus me levanto... recitva preces e rogos intermináveis, pelas pessoas, pelas almas, toda noite igual... cresci olhando e sendo olhada por tantas imagens... minha fé era o medo de pecar... a onipresença, a onisciência, a onipotência... deus estava em todo lugar, via tudo que eu fazia de errado e, com certeza, me puniria... quando fui para o catecismo, conheci o bondoso deus do evangelho, que acolhia as criancinhas... minha fé passou a ser a certeza do perdão... mas aos poucos fui me incomodando com o paradoxo da confissão... arrepender-se, confessar, ser perdoado e... pecar de novo... fui percebendo que por mais sincero que fosse meu arrependimento, sempre cometia os mesmos pecados... pecados de criança, fiz malcriação pra minha mãe, briguei com meus irmãos, menti pra minha professora... não entendia a expressão para não mais pecar... na adolescência passei a participar ativamente de uma igreja católica... minha fé era a esperança de conviver com pessoas que se aproximavam da imagem e semelhança de cristo... eu confiava... me decepcionei... não é fácil ser deus... minha mãe morreu... eu não sabia o que fazer com todas aquelas imagens de santos, com a palha benta de dentro das gavetas, com as velas da vigília pascal guardadas nos armários, com as orações que não asseguraram a presença da minha mãe na minha vida, para ver os netos, para eu não ficar só... deus perdeu a sua onipresença, ele não estava ali... perdeu sua onisciência, ele não sabia da minha dor... perdeu sua onipotência, não impediu a morte da minha mãe... e eu perdia fé... e fiquei sem ela durante um bom tempo, até o vazio quase me enlouquecer... foi aí que o senti de novo... não sei explicar como, não sei dizer onde, mas acho que sei o porquê... deus não é só o castigo, nem só o perdão... ele está no acolhimento e também está na decepção... ele simplesmente É, como sempre foi o tempo todo... percebi isso quando compreendi a minha dor e o significado que ela teve na minha vida, o que eu era e o que me tornei, o que eu aprendi com a minha fé e com a falta dela... somos nós que nos castigamos ou perdoamos, que nos aproximamos ou afastamos, que vivemos em guerra ou na esperança... a minha busca pela fé me diz que ela existe e está em algum lugar em mim, embora eu não saiba mais, nem queira, explicá-la... não sei dizer no que acredito ou no que deixo de acreditar, o que é razão e o que deixa de ser... mas resgatei os conceitos de onisciência, de onipresença e de onipotência... hoje, de uma forma diferente de antes, sei que deus está em tudo, tudo sabe e tudo pode...
(Ana)


Minha fé!

Nasci numa família católica, mas com uma mãe kardecista. Tudo era diferente na minha casa, as explicações para o sofrimento, o modo de ver a vida. E o que era herança religiosa, dentro da minha família toda católica, era visto como escolha dentro do meu lar; cada um poderia seguir a crença que sentia dentro da alma.
Fui batizada, fui consagrada, crismada, casei e batizei minha filha dentro do catolicismo. Mas, o lado paterno da família era presbiteriana, a família da minha madrasta da Assembléia de Deus. Você imagina o que é crescer ouvindo que o seu hábito de tomar restinhos de café dos copos deixados pelos adultos, tinha haver com sua entidade de pretos velhos? Esta era a opinião da Dona Maria, uma empregada negra que tínhamos e que gostava muito de mim.
Imagine então ter um irmão perturbado por espíritos, que teve que ser batizado duas vezes para que a casa pudesse dormir. Imagine ainda o que é pra uma criança carioca com fé em Cosme e Damião ora poder comer seus doces distribuídos pelas ruas do Rio, enquanto estava com a minha mãe e ora não poder comê-los quando estava na casa do meu pai, pois pra esposa dele, aquilo tudo era macumba.
Apesar de até os dezenove anos eu me considerar católica, os livros de Kardec e Chico Xavier, faziam parte da minha rotina de leitura. Livros como as duas vidas de Audrey Rose, a Erva do Diabo de Castanheda. É lógico que eu não seguiria um caminho único. Fui experimentando de tudo. E até hoje é assim, gosto de saber de todas as religiões, hoje estou tentando aprender sobre a cabala, apesar de estar freqüentando a Umbanda.
A certa altura da minha vida, percebi que coisas “estranhas” aconteciam comigo, sonhos premonitórios, sentia cheiros que outras pessoas não sentiam, de flores, de éter, de podre, de bebida e recebi o rótulo de médium.
Como as leituras diárias já me familiarizaram com o termo, não achava nada disto estranho; até que fui pra faculdade de Psicologia. E de repente tudo o que eu sentia tinha um rótulo de doença mental. Abandonei minha fé, me afastei do centro espírita, porque o psiquiatra que dava aula pra mim, nem sequer respondia a temas voltados a religião e seus mistérios. Sentia-me inadequada.
Eu já estava no desenvolvimento mediúnico quando tive um problema de saúde e não me conformei com o “abandono” de Deus. Pensei, sou uma filha que serve a seu rebanho, como pode me deixar adoecer, como ninguém aqui no centro, reparou o meu sofrimento físico? E assim, me afastei.
Muito tempo depois, voltei a ter “sonhos”estranhos, e novamente me direcionei ao lugar onde eu sempre fui acolhida e vista como normal. Deixei minha fé de lado, como uma filha rebelde que fui de pais encarnados e de Deus. Sempre contestei muitas coisas e um dia chegou à hora de contestar a minha fé também. Só que Deus tinha planos diferentes pra mim, foi me mostrando que as visões acordadas que tinha eram reais, foi confirmando que a minha “diferença” não era uma doença ou um mundo imaginário. Que o meu chacoalhar resultava em coisas boas pra mim e para os que me cercavam.
Comecei a ver que pessoas amigas, me procuravam para receber uma palavra de consolo, um passe, uma “benzidinha” que minhas orientações e orações acalmavam algumas pessoas. Lógico que uma parte disto, vem da minha fé e outra da fé de quem me procura, mas é estranho ainda hoje sentir o sofrimento das pessoas que estão longe de mim, até em outros estados do país e confirmar com elas que elas estavam em momentos difíceis e eu captei. É difícil sentir meu corpo envergar e ver um lado de um mundo que a maioria das pessoas não vêem, não sentem e até desconhecem.
Senti medo da minha fé muitas vezes na vida, senti medo de ser rotulada de maluca, me escondi dos preceitos que aprendi, mas sei que o consolo que tenho é e sempre será a fé que me sustenta. Nos momentos de grande aflição, ainda pego meu terço de lágrimas e rezo, rezo de tudo, o Credo, a Ave Maria, Pai Nosso, a Prece de Cáritas, rezo a oração que um benzedor me ensinou na Bahia, imagino símbolos da cabala e meu coração recebe consolo e as respostas surgem em mensagens na tevê, no e-mail ou em ligações telefônicas.
De frente a minha cama, tenho uma imagem de São Jorge o padroeiro do Rio de Janeiro e aquele que sempre me consolou, sempre falei, valei-me meu São Jorge nos momentos difíceis, sempre pedi a proteção de seu escudo e espada pra me defender. Ainda é o meu santo de preferência, hoje ele recebe o nome de Ogun onde eu freqüento, mas pra mim, é meu santinho, meu protetor aquele que sei que me protege junto com Deus e sua tropa, Jesus, a virgem Maria, e toda a falange de espíritos do bem que me cercam.
Minha fé me conduz, me faz ser saudável, apesar de um dia eu ter achado que era doida mesmo. Sigo por este caminho e todas as noites rezo pra minha filha e ela repete pra mim, boa noite! Dorme com os anjos,com Deus e sonhe comigo
(Aline)



Minha fé tem a forma de um ponto de interrogação. Coisa mais estranha para aquilo, que por princípio, não admite dúvidas, mas assim é. Um quebra cabeças desses intermináveis, feito de muitas buscas, decpções. aprendizado. Intermináveis discussões. Todos os manhãs, para conseguir levantar, apanho um punhado de pecinhas: fé no meu trabalho, no artigo que li na véspera, no sol dos domingos, fim de tarde nas sextas. No futuro da humanidade, quem tem filhos tem fé e eu tive dois. De que tudo tudo vai dar pé, a fé não costuma falhar. Vou montando assim meu quebra cabeça, de forma meio aleatória. As vezes começo a ver algum desenho, olho uma parte pequena e acho que entendi tudo, quando vejo já desmanchei sem querer o trabalho e tenho que começar tudo de novo, tento um jeito diferente: fé no santo, nas estrelas , no amor para sempre, Se nenhum vento soprar eu mesmo desmancho tudo, não estou preparada para o fim do jogo, no fundo gosto de recomeçar. Falta Deus, não é? Escuto isso quase desde que nasci. Quem sabe um dia, se ele deixar, encontro essa pecinha perdida e não a largo mais. Não tentem me converter, mais do que eu mesma tentei impossível. Aceitem minhas dúvidas e que todos os seres sejam felizes!
(Neysi)

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