domingo, 15 de abril de 2012



Conversando sobre as avós!
Ah, uma pena avó morrer né? Eu não conheci minha avó materna, sei pouco sobre ela e sua doença fatal; sei menos ainda sobre sua personalidade. Uma pena isto, todo mundo deveria ter uma boa avó, daquelas carinhosas, que põe no colo, que mima, que faz bolo.
Eu tive uma avó paterna até poucos anos atrás. Mas, a maior parte da minha vida não convivi com ela de perto; dela sei mais do que da outra, ela era reservada, educada, com alguns preconceitos; uma mulher de pé. Sabe altiva. Tinha uma risada gostosa, mas se escondia em situações que deveriam ser normais. Como no dia que vi que ela usava dentaduras, ela olhou pra mim e disse, se você não entrasse no meu quarto, não teria visto isto. Ria quando falava a palavra traque...pra se referir a palavra pum, gases, e corava como se tivesse dito um palavrão, a cena era engraçada.


Penso, o que adiantou eu ter avó na infância, não entendia nada de nada, não aproveitei nada dela...avós deveriam ser coisas pra adultos. Eu queria ter minhas duas avós agora. Sentaria aos pés delas e pediria conselhos, trocaria receitas, daria risada com elas...Aprenderia sobre a vida de outros tempos. Ia ser bom falar: vó, vamos deitar na rede e conversar? Ou: Vó,balança a rede pra mim que depois balanço pra você. Ou então ainda: vó,hoje eu quem farei um bolo gostoso ou o pudim que a senhora gosta, ops não posso te chamar de Senhora, porque você me ensinou que só a mãe de Jesus poderia ser chamada assim.
Nada disto eu tenho das duas avós que Deus me concedeu, esta convivência de pertinho, e pensar em parar de escrever sobre elas me dá uma tristeza, porque gostaria de poder contar mais sobre as minhas avós, mas não tenho muito a falar, tenho só a saudade e tenho um vácuo, um vazio, e poucas fotos, mas, quase nenhuma informação.
Avó faz uma falta danada.
(Aline)






minha avó materna chamava-se Dárida... nome incomum, vó como todas as outras deveriam ser... pelo menos assim me parecia quando eu era criança, acha que toda avó era igual à minha, fiquei chocada na adolescência quando descobri que minhas amigas ainda tinham avós vivas, que trabalhavam fora e levavam uma vida ativa... minha avó não era assim... as lembranças que eu tenho dela são de um cabelo cor de prata comprido, que ficava preso num coque, de esfregar suas costas com cânfora para aliviar as irritações da pele, de vê-la sentada na varanda, conversando com os vizinhos que paravam no portão, ou na mesa da cozinha, passando pilhas de roupas... ela foi a primeira pessoa que eu vi morrer, eu tinha onze anos... nos últimos três, ela já estava bastante doente, confundia as coisas, mas não foi sempre assim... ela contava histórias, falava do filho que morreu ainda jovem, cantava músicas... viuvinha da parte do além quer se casar e não acha com quem... esperava no portão a gente vir da padaria com o leite de saquinho na mão... minha avó paterna chamava-se Maria... nome comum, vó que eu não conheci... dela sei muito pouco, nem mesmo de história que ouvi contar... enviuvou com sete filhos, o mais novo ainda de colo... vida de luta, uma morte pouco explicada, dizem que sentia muitas dores, mas ninguém fala do que ela morreu... eu tinha apenas dois anos, mais tenho uma lembrança... não dela, nem sei se aconteceu de verdade, mas me recordo de estar na cidade natal do meu pai e alguma me diz que era para vê-la, quase uma despedida... estava numa rua calçada de pedras e um primo mais velho me pegou no colo, a sensação era boa, mas era silenciosa, tinha um quê de não incomodar, uma certa gravidade no ar... as duas tinham em comum uma vida de luta, eram mulheres fortes e admiradas, sentiram suas perdas, tocaram suas vidas... me orgulho de sua ascendência e agradeço por tudo o que passaram, que de um jeito ou de outro me fizeram existir... elas estão em mim muito mais do que dou conta de perceber e, com imenso amor e gratidão, quero seguir caminhos diferentes dos seus, contar ainda mais histórias, cantar outras tantas músicas para meus filhos e, quem sabe um dia, para os meus netos...
(Ana)





Para Dárida

Caminho de formigas
na cerâmica vermelha.

A avó prende os cabelos.

Tão finos os cabelos da avó
tão mansos que dispensam
espelhos.

A vida segue exata:
dias limpos e leves
pendurados no varal.

O poeminha foi feito há alguns anos atrás, em dias mais inspirados. Conheci as duas avós, uma delas por muito pouco tempo, pena. Chamava-se Maria. A outra, Dárida, me emprestou sua cama durante a infância e adolescência. Ninguém me conhecia melhor que ela. Não conhecia histórias de fadas e bruxas, contava as histórias da vida, e como tinha história. Não consigo lembrar quase nenhuma, mas de repente, do nada, ela canta para mim.
Difícil falar de avó. Difícil separar as lembranças quando tudo , passado, presente, eu e ela estamos ainda, e para sempre, tão misturadas, dormindo na mesma cama.
Meus filhos tem uma avó e sou feliz por isso, não tem nada melhor que avó. A menina da foto é minha avó, Maria, que conheci tão pouco.
(Neysi)

3 comentários:

Suely Rocha disse...

Gostei muito do que li,espero que daqui há muitos anos meus netos tenham muitas coisas boas para falar de mim .Tenho me esforçado para ser ua boa avó.Tenho certeza de uma coisa eu os amo muito.

Anônimo disse...

Moça, saudades da tua poesia. Vê se não desaparece desse jeito e alimenta lá o Notas. Beijo
Manoel

Aline Lins disse...

Sempre um prazer escrever com a Ana e a Neysi, bjus primas