quarta-feira, 18 de abril de 2012



Três Marias, Plêiades, Aldebaran, Sirius. Houve uma época em que eu
sabia o nome das estrelas e sabia achá-las no céu. Mas o céu da cidade
grande não tem tantas como o céu daqui e eu sem dúvida enxergava
melhor. Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso...
Aline me pediu um texto para o blog, um iniciado por mim, uma vez que
eu sepre pego carona no delas. Me sugeriu escrever sobre não ter o que
escrever, mas muita gente já fez isso melhor, e respeitável público,
não sou e jamais serei Rubem Braga. Então ela me sugeriu que falasse
das estrelas, as que vejo da minha janela nessas noites frias da Lapa.
E o que me na lembrança é a capa de um velho disco com uma dedicatória
escrita por meu pai, letras desenhadíssimas para minha mãe, com
citação de Bilac...ou eu mostrando estrelinhas para o Júlio. O céu
aqui é bonito, mas não inspira. E eu ando cansada de falar de passado.
Três Marias, Plêiades, Aldebaran...as estrelas são as mesmas, estão
lá, ao mesmo tempo que não. Passaram, permanecem. E eu vos direi, no
entanto,que, para ouvi-las, muita vez desperto e abro as janelas,
pálido de espanto...
(Neysi)



Minha prima Neysi fala sempre que não consegue iniciar um texto, então
resolvi sugerir algo, e pensei nas estrelas, pois nunca havíamos escrito
nada sobre elas que eu me lembre. Ela aceitou e eu me vi numa situação
desértica, pensei, pensei e via o céu estrelado de Iguaba, da Br 101, da Br
116 nas minhas indas e vindas pelas estradas em dias felizes de passeio e só
vinha um pensamento, a Dalva de Oliveira cantando a música Um pequenino grão
de areia. Esta música fala da paixão entre um grão de areia e uma estrela.
Talvez esta música fale um pouco de mim também, porque a música fala de uma
estória de amor. E eu sou uma romântica e gosto da noite, das estrelas, mas
na hora de falar delas, me perdi. Quando era mais nova me lembro de olhar o
céu do interior e ver tantas estrelas e procurava sempre às mesmas: as três
Marias e Vênus, minha estrela/planeta. Talvez porque eu só saiba o nome
destas, nunca fui uma curiosa para saber o nome do que brilhava no céu, além
de estrelas.
O céu noturno de São Paulo não está apinhado de estrelas, estão todas
encobertas pela poluição, mas gosto muito de saber que elas estão neste
momento consteladas, todas mostrando-se para mim, só tem algo que
infelizmente me impede de vê-las. Fecho os olhos e as imagino prateadas, mas
quando faço isto para enxerga-las só vem à música, falando do surgimento da
estrala do mar.
Tão lindo o céu, tão linda a música.
(Aline)




fiz um curso uma vez no planetário, quando eu era professora, pra aprender coisas novas pra ensinar... aprendi mesmo, muitas coisas sobre o céu, galáxias em formação, estrelas que nascem e morrem, movimentos dos corpos celestes... eu gostava daquela aula, aprendi muito, mas nunca tive oportunidade de ensinar aquelas coisas aos meus alunos... eu também nunca soube o nome das estrelas, além das três marias e do cruzeiro do sul... outro dia, estava voltando pra casa à noite e, quando olhei pro céu, vi as três marias... me dei conta de que quase nunca olho pro céu, porque me surpreendi delas ainda estarem lá no mesmo lugar... me senti de novo com doze anos de idade, olhando estrelas, deitada na cama, pela moldura da janela aberta... as três marias cruzavam o céu bem ali, onde eu podia vê-las... algumas coisas parecem nunca mudar, as estrelas... outras se tornam irreconhecíveis em tão pouco tempo, eu... e faz muito que não tenho mais doze anos... mas eles ainda estão aqui, dentro de mim, e me fazem perder o ar quando vejo estrelas... desde que eu me permita olhar mais para o céu...
(Ana)

2 comentários:

Anônimo disse...

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Só você mesmo pra fazer esse pacote Bilac ~Rubem Braga

Neysi disse...

Chato!Prefere o Belchior?
Então tá:
Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não
Eu canto
Vê se aparece, saudades
Beijo