quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Celso


A MINHA CASA


Foi uma viagem longa, confesso, mas nada cansativa. Muitas paradas, muitas reminiscências. Fui, a convite, em busca das muitas casas onde vivi ou passei, o que quer dizer, onde brinquei de viver. Isso acontece, claro!... Encontrei muitos destroços, casas desfiguradas pelos anos, nalgumas só encontrei despojos e abandono... Ressalto a plena conservação da casa onde fui criança...aliás, a mais terna, a mais receptiva.
Percebi, ao vasculhar essas poucas moradas, que só uma casa consegue desbancar o tempo e viver comigo até o meu último dia...só uma casa irá comigo ao mais recôndito lugar da terra...tal qual caracol a levarei comigo... É a minha casa!
A minha casa sou eu, passando por momentos diversos e adversos... A minha casa é o meu aprendizado, as escolas da vida que me acolheram nas diversas estradas... A minha casa é este sonho utópico que insiste em tornar-se vida... A minha casa é cada cômodo de mim mesmo, com sua arquitetura refeita, moldada, melhorada. Cada parede reforçada, amparada, sustentada pelas mãos de parceiros cósmicos que acompanham a jornada... A minha casa é este prazer de beber as palavras do Manoel de Barros e degustar a última gota do vinho... Fui e sou o meu fado... Nesta mesa, ao lado de outros fados, peregrino pela noite, ouvindo, sem enfado, o Fado! A minha casa é o cheiro de manacá que corta os anos e perfuma um quarto de saudade, onde guardei as minhas roupas de menino... Paira no ar, calor e ar parado, alguma dama da noite perfumando a madrugada que não vivi. Ah! Sim, a minha casa... Eu sou a minha casa entranhada em mim, levando-a para todos os recantos onde piso, conseguindo a maravilha de colocá-la dentro de outras casas, cascas que são.
A minha casa é um poço de ternura a velar o sono de minha filha, esta cortina a esconder o sorriso sensual da parceira. No mais, é, simplesmente, a minha casa, os meus versos, as minhas lágrimas. Cada tijolo desta casa tem um quê de vontade e verdade entrelaçado, testemunha da contínua busca do caminho justo e bom. A minha casa... a minha casa....
A minha casa nada tem de especial, senão a maravilha de existir e, milagrosamente, caber numa minúscula folha de papel.
(Celso)

3 comentários:

Anônimo disse...

Celso seja bem vindo! Você e sua casa.
Quem bom, ler um texto masculino, às vezes é bom pra quebrar a rotina!
Aline

Neysi disse...

Mas...Celso...você bebeu o vinho todo?
Não tem problema, a gente traz mais...
Obrigada, viu? Adorei sua casa!

Anônimo disse...

yentex wrote today at 1:39 PM
Muito poético o texto. Só não entendi o "Celso".