sábado, 18 de outubro de 2008

Casas






Gosto de imaginar realidades... realidades virtuais para acolher o ser moderno... quando imagino a minha realidade virtual, imagino uma rua de muitas casas iguais... diferenciadas por pequenos detalhes... imagino, à porta da minha casa virtual, uma grande acácia florida, com seus cachos deflores amarelas soltando, com o vento, pequenas pétalas no chão, colorindo a calçada em frente à minha casa... a casa em si, como todas as outras, tem um espaço na frente... na minha, há um canteiro de flores no centro do chão de cimento, com gerânios, begônias, azaléias e onze-horas coloridas, como na minha infância... no meio do canteiro tem um jasmineiro, que espalha perfume ao cair da noite quando os botões se abrem... junto ao colorido das flores tem sempre borboletas, beija-flores, joaninhas, grilinhos a cantar... nesse jardim fica uma ana, orgulhosa pelo florir de suas plantas... tirando folhasamareladas.... trocando a água dos bebedouros... ou às vezes só olhando a rua... a casa em si é antiga... pé direito alto... três degraus de pedra acima do nível da rua... varandinha com cadeiras de ferro e almofadas verdes... tem porão, tem telhado com forro de madeira... telhas vermelhas, paredes pintadas de azul clarinho... tem pintura descascada em alguns pontos, em outros, infiltração esperando consertar... lá dentro tem também algumas goteiras que já fazem parte do dia-a-dia, já se incorporaram à estrutura da casa... pode-se entrar de duas maneiras... pela porta dafrente, pomposa, duas bandas de madeira, com janelinhas de vidro colorido...ou pelos fundos, atravessando um corredor comprido, ladeado de flores até chegar ao quintal... por onde você prefere entrar?"
....
os quartos da minha casa são muitos, tantos que nem sei ao certo... esta ana que escreve percorre a casa à noite, insone, às vezes abrindo e fechando portas à procura de alguma coisa... alguma coisa que guardou e não sabe onde... alguma coisa que deveria estar lá, dentro de sua casa em algum lugar, mas que nem sempre consegue encontrar... tem quartos secretos, quartos de sortilégios e magias, quartos vazios e escuros, quartos com camas de casal e quartos cheios de almofadas e tapetes macios... às vezes abro uma porta que não havia notado, entro, passo a noite lá, observando o caminho da lua... no dia seguinte, tento encontrar novamente o mesmo quarto e já não acho mais... alguma coisa acontece que muda as portas da casa de lugar e eu me perco... tateio pelas paredes procurando os interruptores, procurando as maçanetas e nem sempre acho... às vezes estou muito sonada e acho que é delírio de sonho o que vejo pela casa... sombras, vozes, risos, soluços, passos... mas na minha casa não há outros moradores, só eu... de camisola de algodão até o pé, caminho pela casa, estalando as tábuas do assoalho... e procuro sempre o melhor lugar para passar a noite... às vezes fico na janela até tarde da noite, vendo a rua... às vezes vou passear no quintal e vejo o vôo rasante dos morcegos à procura das frutas... às vezes vou dar boa noite as outras anas que se preparam para dormir... a que mais gosto de visitar é a ana criança em seu quarto cor-de-rosa... sento na cadeira de balanço, canto músicas e leio histórias até que ela adormeça em paz, confiante de que no dia seguinte fará sol e ela poderá brincar no quintal... às vezes paro enrolada numa manta, emqualquer lugar da casa para ver a tempestade de raios e trovões que cai lá fora... aparo as goteiras, já sei onde eles caem... vez por outra aparece uma nova, que me surpreende... cubro os espelhos, guardo os talheres... escuto o vento passando uivando pelas janelas e me protejo... ou tento... nem sempre consigo... nestes muitos quartos da minha casa, noturna, vazia, sem visitas e sem amigos pelo adiantado da hora... eu vago, me procuro e não me acho... me perco em sonhos, pensamentos e aflições.... quando amanhece o dia é justo quando o sono ia chegando... as outras anas vão acordando e movimentando a casa... me chamam para o café e mal sabem que seu sono foi velado por mim... o dia começa e já não há mais tempo para dormir, nem repousar... a lida começa...cada uma tem que estar no seu posto, cada qual com seus afazeres... e ana insone que andou pela casa à noite toda, soma mais uma noite às horas de sono perdidas e espera... pacientemente espera pelo pôr-do-sol na varanda de sua casa...
(Ana)







Tão bonita sua casa virtual, com jardim na frente, piso de tábuas corridas, quintal de terra nos fundos...o barulho da chuva , até as goteiras são simpáticas, imagino a gente correndo com velhas panelas para aparar a água e rindo muito disso tudo. Fiquei pensando como seria a minha casa, invejosa que sou, mas no bom sentido sempre. Imaginei primeiro um gramado com um caminho no meio, cercado de flores rústicas, destas que resistem ao sol e ao vento sem que se precise grandes cuidados.Uma varanda com sombra , bancos de madeira e para quem gosta uma rede colorida (sempre achei bonito uma varanda com rede, mas não gosto muito de ficar nelas, prefiro as cadeiras mesmo). Da varanda a gente vê o mar, e a vista para o mar é o que tem de mais bonito na minha casa, então não é preciso nem entrar, embora as visitas sejam bemvindas.Sente um pouquinho lá comigo de qualquer forma , ou use a rede,como preferir. Fique em silêncio um pouco, olhando o mar. Posso pegar uma cerveja, uma água ou um café, te trazer o jornal ou uma revista destas com fotos de lugares bonitos, viagens que só faremos em sonhos...Poderemos conversar ou não, se quiser te mostro a praia, as casas em volta, a cidade...se preferir entrar, fique à vontade...posso levar um tempo para achar o prato ou o talher certo, mas terei alguma coisa gostosa para a gente comer, com certeza. O cd com a sua música preferida eu acho rapidinho, se quiser ver as fotos daquele dia que passamos juntos também( minha casa virtual tem as fotos que eu nunca pude tirar : a gente criança, os bolos da mãe, a avó passando roupa, ceia de natal, os bichos do Sérgio, as cabanas feitas com lençol...)Tem um cachororro grande e manso...duvida? É só olhar nos olhos dele e você vai ver que é manso, mas se quiser eu prendo, só não estranhe seeu te olhar com desconfiança...custo a confiar em quem não confia em bichos...mas te dou um crédito, prometo. Não , não ia dar certo. Não sou boa nem com casas virtuais, fico só com a varanda e o cachorro, iremos pra lá nas tardes preguiçosas e nas noites de verão. Fora disso prefiro um apartamento pequeno de onde se vê o movimento dos carros, as pessoas andando, as luzes...lá ouviremos música, tomaremos vinho, falaremos bobagens e improvisaremos qualquer coisa para jantar...ou pediremos por e-mail uma pizza virtual...
(Neysi)




Brincando com a Casa da Ana e da Neysi, fiquei pensando em construir a minha casa. Tarefa não muito fácil, já que tive inúmeras casas nos meus primeiros dez anos de vida!
A casa de cada um tem aspectos da casa de seus pais e de sua própria casa, mas como descrever a minha casa!
Como seria a minha casa? Fico sempre imaginando minha casa como uma muito antiga, com a parede metade de pedra e a outra metade pintada a cal, branca. As janelas também recebiam o contorno em pedra, no formato de arco, pedras cinzas. E uma grande grade pra proteger minha morada de estranhos que queiram adentrar sem serem convidados.
A porta era de madeira, sem tinta. Grande, bem grande. Com uma gradinha pequena, a proteger o vitrô, quando a visita batesse palmas, era só abrir a minúscula janelinha e dar uma espiada em que vinha importunar a casa.
Entrando na minha sala, via um espaço muito amplo, nenhum móvel daria conta de preencher todo espaço que tinha ali, o teto era de madeira, pintado em cor gelo, um pouco acinzentado. Nele o lustre era bem simples de luz amarelada, uma lâmpada apenas para uma sala tão grande como aquela. Será que daria conta de iluminar toda aquela grandeza?
Não sei onde estava meu quarto, ele existia e nele acho que tinha uma penteadeira branca, de madeira, bem antiga. Com espelho que brilhava muito. Ali com certeza seria a porta pra me levar a um outro lugar. Duas pequenas gavetinhas guardam uma escova de cabelo que não servia para mim. Suas cerdas não conseguiriam atravessar meus cabelos volumosos.
Minha cama tinha uma coberta bem surrada, com desenhos antiqüíssimos ela era bem macia, ao passar a mão sobre ela minha pele deslizava, por conta da maciez do tecido, era uma sensação prazerosa, como se a coberta acarinhasse meus dedos. De tons quentes, porem desbotados, um pouco de vermelho e laranja, como se fosse um ouro velho. Nada mais existia neste quarto. Além da cama, da penteadeira que me transportaria e eu a refletir no espelho.
Esta casa tem um tanque, que me lembra um que eu já tive. Tão grande e profundo que eu caberia dentro dele, torneiras da cor do cobre, talvez um pouco mais amarelada. A água que caia sobre mim era gelada, mas não fazia minha pele doer e sim adormecer e o tempo ali parava.
Nada vivo acontecia nesta casa, nenhum bichinho de estimação, nenhuma gargalhada de criança. Tudo era silêncio dentro da casa. Talvez só eu morasse ali.
(Aline )

Um comentário:

Neysi disse...

cintiasa wrote today at 2:20 PM
Tão interessante esse exercício da casa imaginada... gostei!