domingo, 26 de outubro de 2008

Desconstruindo Castelos


já que o amor ainda era só meu, o construi como eu quis... com fino acabamento e ostentosa estrutura, dignos do meu grande amor por vc... sobre a mais alta montanha, para te elevar acima das nuvens, com vista para o lindo mar azul, para encantar as tuas manhãs, e bem perto da natureza selvagem, para te encher de ar puro e refrescante... projetava-se harmoniosamente, emoldurada pela bela paisagem, a morada do meu amor... depois de terminada, fechei a porta e ofereci as chaves a você... você não quis e as chaves se perderam entre a relva e as pedras do caminho, igual a mim, perdida, trancada do lado de fora da morada que eu mesma construi...sozinha, no alto da montanha, à beira do penhasco, de frente para o grande mar e com a floresta às minhas costas... perdida sem as chaves de mim mesma... toda grandiosidade da minha construção, me fez insignificante pequena... e o amor jamais deixou de ser só meu... comecei, então, a desconstruí-lo do meu jeito... cada ausência do olhar que não lhe mando é um acabamento que se desfaz... cada palavra que cala sem ser dita é um tijolo que retiro das paredes... cada frase que escrevo deste amor maldito é uma pedra que removo de sua estrutura... estou juntando todo o entulho mal quisto e ainda não sei bem o que fazer com ele... mas já estou no fim trabalhosa des-empreitada... depois que acabar, vou voltar para a praia, vou dormir ao relento e nas épocas de chuva, construirei uma modesta cabana de palha onde só caiba a mim mesma... nada suntuoso, nada majestoso.. vou viver comigo mesma na minha própria simplicidade... sem castelo, sem amor e ao nível do mar... e serei feliz assim...
(Ana)


O que faz nosso coração entrar por um mar revolto? Porque será que nós nos apaixonamos perdidamente por alguém que não nos percebe como realmente somos, e a partir daí o nosso amor passa a ser solitário?
Quem na vida já amou e não foi correspondido? Quem não sofreu por amor na vida?
O que fazemos quando nosso sentimento vira o Mal que nos aflige? Tantas perguntas pela estrada da vida, no mar revolto onde o barco bate sozinho nas ondas, e elas são tão opressoras, fortes, gigantescas. Fazem nosso barquinho parecer papel, parece que vamos diluir diante de tanta água e o frio que se sente ao estar neste mar sozinho, sem perceber onde vamos parar.
Não me lembro quantas vezes o amor nasceu e acabou dentro de mim! Sei que em todas às vezes, que o sentimento não foi possível, adubado, o Amor passou a corroer tudo de bom, mas aos poucos as ondas foram diminuindo, o mar serenou e consegui olhar de volta para o porto seguro. O farol ao longe me apontava uma direção a seguir.
E fui a olhar as estrelas que surgiam dentro de mim na direção da luz, luz que acredito que estava ali há muito tempo, só que ao sentir todo aquele turbilhão de dor, não via nada além do meu sofrer.
Meu barco foi se aproximando mais de mim e eu pude ver luz em tudo, sentir esta luz sair por meus poros, e aquecer onde antes só havia frio, onde o silêncio da dor me fazia perceber só as lágrimas, que desciam da minha alma.
O barco aportou e tudo passou, até o próximo amor, até a próxima invernada. Ainda bem que podemos amar e sermos amada por diversas vezes na vida. E quando o barco está pronto para navegar, não existiram amarras a segurá-lo no cais.
(Aline)




Prometi falar tudo e foi de coração, sem dedos cruzados nem palavras tortas. Bem que eu queria dizer que o amor comeu minha língua, mas é mentira. Também não seria justo culpar o tédio, esse grande devorador. Quem sabe a perigosa sorte de um amor tranqüilo – e lá vem de novo a bailarina delicada, seus pés com asas, o mundo sem dor – e nenhum veneno anti-monotonia. Mas não, é que falar de amor é difícil, viver o amor mais difícil ainda. Tem que ir num fôlego só, num pulo, ou num tropeço. Num tropeço, tai, talvez assim saia, esse texto meio louco.
Ah, tudo que já se falou do amor não serviu para nada. O amor lá é besta de se deixar aprisionar, catalogar, dissecar? Ama melhor quem escreve versos, chora um oceano, seca o bar ou faz uma palestra para uma platéia sedenta de frases de efeito?Amor, bicho doido, do contra, moleque. Impossível?Que venha assim mesmo e nos leve junto, com sua natureza de selva, livre e são. Que nos atravesse então, pois amor não se prende, não se doma, não se aprende...nem amando.
**agradecendo a João Cabral, Cazuza, Drummond e aos poetas, que se não tornam o amor mais fácil, nos fazem menos solitários...
(Neysi)

2 comentários:

Anônimo disse...

yentex wrote today at 7:56 PM
Parabéns! Gostei muito do seu texto.

Anônimo disse...

yentex wrote today at 8:46 AM
Não sei se você jpa transformou seus trabalhos em livro, mas, quando quiser, posso indicar a editora que está publicando os meus.