sexta-feira, 28 de novembro de 2008

espelhos


cresci no meio de muitos exemplos... exemplos a seguir e exemplos de não fazer... cresci no meio de muito amor... amor generoso, com doação e sacrifício... amor cuidadoso, com zelos e seus excessos... amor abundante, servido com fartura de quase enfastiar... amor sempre crescente, receita que levava fermento, de bolo, de pizza, fazendo crescer a massa... me fazendo crescer... e foi assim mesmo que cresci, no meio de conflitos... meu espelho era um mosaico... meu reflexo, sempre múltiplo... meu espelho renegava o seu presente fragmentado... reclamava pela sua superfície lisa, perdida num passado remoto... perdia, dia-a-dia, as esperanças de um futuro pleno... a cada vez que meu espelho se partia se somavam sete anos de azar... e foram tantos fragmentos que nenhuma existência duraria tanto... os sete anos de azar de cada caquinho foram se concentrando tanto que o espelho ruiu... e eu que era só reflexo, e mesmo assim me rebelava contra ele, acabei me tornando espelho... minha superfície já não nasceu lisa... ondulava, era incerta, deformava imagens, lembranças... e fui me partindo, como o espelho que me refletia... espelho que eu não queria ser... o meu avesso... minha auto-afirmação que sempre fora a negação do meu espelho, se refletia igual a ele... no lugar da minha própria imagem, um vazio, múltiplo vazio... fragmentos, conflitos... mas tinha o amor, havia os exemplos... e foram eles que me sustentaram... minha moldura... ainda não dá pra confiar na imagem que meu espelho reflete... mas despedaçar ele não vai... e os sete anos de azar?... deixo pra quem acredita... os que tinha que viver, eu já vivi... agora, eu sou amor e exemplo, unidos numa superfície só...
(Ana)



Virtual


Olho todo dia o espelho. Às vezes me reconheço, às vezes não. Como é mesmo esse rosto que tenho? Quem você vê quando olha para mim? Estaremos juntas, um dia, as três: a que vê, a que é vista e essa outra que é só reflexo. Então, trocaremos de lugar...

***
A boca. Os olhos. A curva dos ombros, os pés...Um rosto, meu rosto... Desmonto meu quebra-cabeça: águas de Narciso, espelho de Medusa, salvo-me pela fragmentação.Em lugar nenhum sou inteira. Construo um ser ao meu gosto e tudo me serve de espelho.Cabelos, pescoço, olheiras que deveriam ter sido transitórias.Reflexos, miragens, tudo parte de mim, fragmentos sem sombras. E essa dor inexplicável de existir, em algum lugar, de alguma forma
(Neysi)




O espelho que me reflete, não tem forma certa, hora reflete uma pessoa boa; generosa; que quer o bem de todas as pessoas que me cercam, e ora reflete a imagem de uma invejosa.
Não agüento ver pessoas apadrinhadas conseguindo vagas de emprego que os pobres mortais como eu, não conseguem.
Pessoas que como eu tem que ralar muito pra ter o que tem. Meu espelho está torto, está quebrado, assim como meu orgulho.
Tive exemplos de luta em todos os lados da minha família, mãe e tios, primos, todos ralando. Tive exemplos ruins do meu pai, de que a vida é mais fácil, passando as pessoas pra trás. Roubando dos próprios filhos, roubando amor, dinheiro, dignidade.
Se meu espelho hoje estivesse inteiro, ia refletir uma pessoa em cacos. Que não tem nem como se mover, pro restinho do mosaico não se desfazer. Cacos! Às vezes é bom, já que não tem mais onde quebrar, o que podemos fazer, é começar a colar e se por de pé novamente.
E assim meu jarro de vida, vai sendo colado. Ele está remendado a muitos anos, e continua tentando não deixar escapar a água, que às vezes jorra pelos canais lacrimais. Nem sei como cheguei aqui, nem sei se algum dia estive inteira! Sou apenas um reflexo da situação da maioria dos brasileiros, todos lutando para se manter de pé, pra pagar as contas, pra sonhar com um futuro melhor.
Calma! Que eu tenho pressa. Tenho pressa de me colocar na batalha de novo, de fazer meu futuro bom, ser amanhã. Fazer com que meus sonhos profissionais se realizem, que meus cacos virem logo um jarro inteiro, com marcas quase imperceptíveis.
Este espelho que sonhamos desde que aprendemos a nos olhar nele, mostre uma pessoa mais feliz e mais forte.
(Aline)

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